Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Panos vermelhos na Colômbia alertam para aumento da pobreza na região

Se latino-americanos tivessem combatido pobreza para valer, impacto do vírus seria menos dramático

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O Brasil lidera a América Latina nas consequências tenebrosas da pandemia de coronavírus.

Enquanto isso, nos outros países da região, os efeitos sanitários e econômicos da crise também expõem o resultado da falta de cuidado, ao longo da história, com as populações vulneráveis.

Trapos vermelhos surgiram em Soacha, na região metropolitana de Bogotá. Ali vivem colombianos humildes, muitos dos quais vindos nas últimas décadas de outras partes do país, fugindo da violência de cartéis de drogas ou do confronto entre guerrilhas, paramilitares e Exército.

Ali também se instalaram desordenadamente venezuelanos que cruzam a fronteira fugindo da crise humanitária.

Moradores de Bogotá com panos vermelhos pendurados nas janelas de suas casas para pedir ajuda do governo em meio à pandemia de coronavírus
Moradores de Bogotá com panos vermelhos pendurados nas janelas de suas casas para pedir ajuda do governo em meio à pandemia de coronavírus - Raul Arboleda - 13.mai.20/AFP

Colocar um pedaço de pano vermelho na janela passou a ser uma maneira de os habitantes dos subúrbios de Bogotá pedirem ajuda.

Esses trapos vermelhos simbolizam que ali há gente passando fome. São pedaços de toalhas, lençóis, camisetas e até um modelo anterior do uniforme número 2 da seleção colombiana.

De longe, formam uma imagem tristíssima —e algo poética. Pode-se ver casinhas simples nos vales e montanhas salpicadas de pontinhos vermelhos.

Desde que surgiram, ONGs e voluntários se aproximam para levar comida e remédios. As autoridades municipais dizem tentar resolver o problema, mas a população local insiste que as ajudas distribuídas pelo governo neste período de quarentena não têm chegado.

A ideia se espalhou, e já há bairros humildes usando os panos vermelhos nas portas para indicar que ali há uma família que sofre nos subúrbios de outras cidades da Colômbia, como Cali, Barranquilla e Cartagena.

A Colômbia tem alto índice de trabalhadores vivendo na informalidade —formam 46% do mercado. A cifra também é alta na Bolívia (62%), no México (55%), no Peru (70%) e na Argentina (45%).

Como no Brasil, a ajuda emergencial para essa faixa da população é insuficiente, não chega a todos e provoca perigosas filas para sua distribuição.

Não tem cabimento usar a pobreza latino-americana como argumento no falso debate que opõe economia e saúde. A pobreza e a informalidade já eram problemas históricos da região e só pioraram com a pandemia.

Já há registros de saques a supermercados em vários países. No Chile, houve mais de uma manifestação nos últimos dias de pessoas desesperadas pela fome. E que o Chile era um país desigual e com uma imensa população marginalizada, sabíamos desde antes de existir coronavírus.

Segundo levantamento da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), por conta da pandemia, a pobreza deve chegar a 34,7% em toda a região até o fim do ano. Isso significaria 214,7 milhões de latino-americanos pobres, entre os quais 83,4 milhões na indigência.

O relatório ainda aponta que os mais afetados serão mulheres, adolescentes e minorias étnicas.

Os governos da região sempre conheceram os números da pobreza. Se a tivessem combatido de verdade, o impacto do coronavírus seria menos dramático.

Os panos vermelhos nos subúrbios de Bogotá alertam que ainda há o que possa ser feito.

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