Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Sequestro de pai de jogador do Liverpool complica 'paz total' na Colômbia

Delito foi assumido por uma das frentes do ELN; pai do atacante Lucho Díaz foi libertado após 13 dias

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Após 13 dias, Luis Manuel Diaz, pai do atacante Lucho Díaz, 26, um ídolo do Liverpool e da seleção colombiana, enfim foi solto por seus sequestradores. O delito foi assumido por uma das frentes do ELN (Exército de Libertação Nacional), embora o líder da organização, Antonio García, tenha qualificado a operação como um erro. "Estamos em meio a uma negociação de paz com o Estado e Lucho Díaz é um tesouro da Colômbia", afirmou.

O atacante Lucho Díaz, 26, ídolo do Liverpool e da seleção colombiana, teve o pai sequestrado - Phil Boble - 7.mai.22/Reuters

O retorno do pai do jogador foi recebido com alegria pelos colombianos. Mas o episódio trouxe desesperança em relação às negociações com aquela que é a maior e mais antiga guerrilha colombiana ainda em atividade.

O Exército de Libertação Nacional nasceu nos anos 1960, assim como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, hoje desmobilizadas). Suas ideias e objetivos, porém, sempre foram diferentes.

Enquanto as Farc tinham um ideário mais baseado na reivindicação de terras, o ELN surgiu com orientação marxista, inspirado pela Revolução Cubana de 1959. Teve como referência o padre Camilo Torres Restrepo (1929-1966), vinculado à Teologia da Libertação.

É certo que, para quem vê de longe, é muito tentador dizer que "é tudo a mesma coisa" e que todos são criminosos. Mas a realidade não é essa. O que fez de dissidentes das Farc e de parte dos chamados "elenos" forças criminosas foi a cooptação deles pelo narcotráfico.

Isso não significa que boa parte da guerrilha não mantenha seus ideais históricos ou ainda tenha uma agenda política. É por isso que ela merece um lugar numa mesa de negociação com o Estado.

Com as Farc, depois dos acordos de 2016, muita coisa melhorou. Mas suas dissidências, justamente aquelas ligadas ao narcotráfico, seguem acopladas a outros bandos.

O governo de Gustavo Petro havia avançado nas negociações com o ELN. O país vive um cessar-fogo bilateral de seis meses, que apesar de não ser sentido nas grandes cidades, significa para a população camponesa paz e garantia de poder trabalhar.

O sequestro do pai do jogador do Liverpool coloca em risco essa interrupção de hostilidades. Os negociadores do governo exigem a liberação dos demais 38 sequestrados em poder do ELN para continuar a dialogar.

Por trás do sequestro de Luis Manuel Díaz está um erro na formulação do texto do cessar-fogo. Ali se acordou que ambos os lados não poderiam atacar, mas sim defender-se. O ELN alega que, por ser uma guerrilha, atos como sequestros e extorsões não constituem "ataques", mas sim modos de conseguir dinheiro para sua campanha.

Isso ocorre, principalmente, nas áreas mais pobres, onde o ELN não tem como associar-se ao narcotráfico. Nas frentes da guerrilha em que há ligação com criminosos, esse tipo de recurso é menos utilizado.

Nunca foi fácil ir adiante em mesas de negociação com o ELN, que atua em todo o país, mas com frentes que nem sempre obedecem ao comando central. Não é à toa que com as Farc, por sua estrutura baseada em uma dura hierarquia, foi possível conquistar um acordo.

Por outro lado, há o tema da vontade política. Já foram iniciadas 28 tentativas de paz com essa guerrilha, por vários governos. O que chegou mais perto de um acordo com o ELN foi o do ex-presidente e Nobel da Paz Juan Manuel Santos (2010-2018).

Porém, seu mandato terminou antes que se alcançasse um tratado, e seu sucessor, o centro-direitista Iván Duque, mandou interromper as negociações. O retrocesso foi enorme, o ELN retomou as atividades criminosas, e setores dele se associaram ao potente cartel venezuelano Tren de Aragua.

A população, naturalmente, cansa e começa a achar a paz inalcançável.

Entre os tantos desafios de Petro neste momento, resgatar o diálogo com o ELN volta ao centro de suas preocupações.

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