Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

Uma saída para a democracia

É possível avançar em direção ao desenvolvimento se priorizarmos o social

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Na conclusão do seu livro mais recente, “O Povo Contra a Democracia”, Yascha Mounk reflete sobre o estoicismo, filosofia segundo a qual, ao desprezarmos as emoções, podemos superar as mais adversas circunstâncias —“um verdadeiro filósofo pode ser feliz até sob tortura”. Tal como analisou Mounk a respeito de si, o entorno político e o social também me afetam em demasia —não somos estoicos. Estamos longe da indiferença, principalmente quando observamos —como ele faz em seu livro— o desencanto dos cidadãos que tem permitido a chegada ao poder de populistas autoritários, pondo em risco as democracias como as conhecemos. 

Essa reflexão me veio à mente ao término da reunião chamada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com parlamentares de diferentes partidos, alguns de primeiro mandato como eu, única deputada, e que acabou por acontecer também com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, na terça-feira (28). O que ocorreu ali? Nada excepcional, mas algo que deveria ser rotina num governo funcional. O mesmo governo que produz desmandos aos borbotões na educação e que nos torna ferrenhos opositores do desmanche em marcha na área estava ali participando de discussões técnicas sobre pautas de interesse público, primeiro passo para a possibilidade da cooperação política e a superação de entraves ideológicos.

A deputada federal Tabata Amaral (PDT) fala em microfone
A deputada federal Tabata Amaral (PDT) - Bruno Santos - 22.nov.2016/Folhapress

Ali, ao lado de outros deputados, argumentei que é possível avançarmos em direção a um país inclusivo e desenvolvido, se priorizarmos o social e não nos limitarmos apenas ao econômico. Dentre as propostas apresentadas, três me chamaram atenção: modernização institucional, reforma do Estado e transformação digital. São temas que podem contribuir para a inclusão de muitos se saírem da tônica de sempre de que o governo precisa cortar e fazer caixa. O que falta ao governo é pensar o social, desde a concepção dos projetos. Quando defendo mudanças na previdência, é porque enxergo a possibilidade de maior inclusão social e desenvolvimento econômico, olhar que levamos para as emendas que apresentamos na última semana. Precisamos trabalhar sob a ótica dos pontos que o governo ignorou. O mesmo tipo de raciocínio pode se estender a outras tantas questões, a exemplo da reforma tributária, que pode ser discutida a partir de um viés menos regressivo, que não puna tanto os mais pobres. O discurso econômico que se restringe a dinheiro é pequeno e não é o que eu acredito.

O que mais chamou minha atenção na apresentação dos projetos da área econômica foi a possibilidade de termos um governo digital. Esse pode ser um passo importante na inclusão de milhões de cidadãos que não têm acesso a serviços elementares ou não podem arcar com os custos de cartórios para ter certificação de documentos. Simplificar os processos e unificar programas pode fazer com que o cidadão saiba a quais benefícios tem direito. A disponibilização de celulares com internet com um aplicativo do governo para que se possa acessar todo tipo de serviço seria, sem dúvida, um avanço em relação à consolidação da cidadania. Toda a burocracia que acaba permitindo a corrupção impede também que as pessoas gozem seus direitos elementares na plenitude. 

Sob essa ótica, pode-se discutir tudo, desde saneamento básico e matriz energética até um novo pacto federativo. Basta que se tenha em mente as necessidades reais da população e se abandone a ideologia que cava abismos políticos. No final da reunião, o sentimento geral era o de que esse tipo de conversa, aberta e técnica, se faz necessária e urgente, pois pode representar uma saída para a nossa democracia.

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