Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

O anti-Messias

Jesus era radical na defesa da tolerância e do amor, o oposto daqueles que estão hoje no poder e tanto usam o Seu nome

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Se Jesus Cristo decidisse viver novamente entre nós, o mais provável é que Ele fosse perseguido, atacado e apelidado de comunista e vagabundo por muitos daqueles que hoje usam Seu nome para se manter no poder.

Bolsonaro e sua trupe não demonstram nenhum constrangimento em usar o nome de Deus e de Seu filho em vão para fazer avançar seus interesses pessoais. Seja na eleição, na busca de apoio ante a possibilidade de impeachment ou, como foi feito agora, na indicação de um ministro ao Supremo Tribunal Federal. Como explicar que alguém terrivelmente evangélico, enquanto Ministro da Justiça e Segurança Pública, tenha usado o seu cargo para perseguir politicamente adversários do presidente, eu não sei. O que sei é que isso vai na direção oposta dos ensinamentos deixados por Jesus.

Por séculos, a palavra de Deus vem sendo distorcida, com o objetivo de justificar guerras e violências, e no Brasil, infelizmente, não é diferente.

Jesus era radical na defesa da tolerância, do amor, da igualdade e da justiça. Ou seja, a antítese de alguém como Bolsonaro, que por toda a sua vida atacou homossexuais, mulheres, negros e indígenas e que, para além de promover uma política baseada no ódio, na vingança e na destruição de reputações, é corrupto e desumano.

O problema não é a indicação de alguém profundamente religioso para o cargo mais importante na Justiça do nosso país, mas a concepção que o "terrivelmente evangélico" carrega. Ao pedir para que o possível novo ministro abra as sessões com uma oração, Bolsonaro busca romper com a laicidade do Estado. Pior: o que o presidente quer é promover a intolerância e perseguição a quem pensa diferente. O critério para escolha de ministro do Supremo Tribunal Federal jamais deveria ser a religião, seja ela qual for.

Se a desumanidade e a corrupção da pior espécie que fizeram com que tivéssemos centenas de milhares de mortes não constituem demonstração suficiente de que Bolsonaro não carrega os valores cristãos, cabe a nós agir. As forças políticas democráticas precisam compreender a importância dos valores e das instituições cristãs na nossa sociedade e dialogar com as suas lideranças e fiéis, colocando a defesa do Estado laico e da pluralidade da sociedade como norte.

Além disso, os verdadeiros cristãos não podem se calar diante do uso do nome de Deus e da igreja para fins tão oportunistas. Está na hora de desmascarar quem promete Deus acima de tudo, mas demonstra ter desprezo por qualquer princípio humano-religioso e coloca seus mais escusos interesses acima de qualquer coisa. Até mesmo da Constituição. E de Deus.

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