Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Veganismo não é religião, tendência ou dieta com lista de proibições

Vegano é quem adere a um conjunto de atitudes, e não o alimento em si

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Afinal, o que é o veganismo?

Diante da tarefa hercúlea de defini-lo, e sabendo desde já que o limite de caracteres desta coluna serão insuficientes, começo por tudo aquilo que ele não é.

Veganismo não é religião, credo ou crença, embora você provavelmente já tenha se deparado com um vegano —pode até ter sido eu mesma— pregando a palavra dele em um churrasco, uma festa de família ou uma mesa do bar.

Veganismo não é uma tendência, uma bandana para usar quando estiver em alta e depois aposentar nos (muitos) momentos de baixa.

Já no século 6 a.C., Pitágoras defendia uma alimentação sem carne baseado em motivos éticos e religiosos: o filósofo grego e seus seguidores acreditavam que todos os seres vivos tinham alma, inclusive os animais.

Embora eu não possa afirmar que Pitágoras era vegano, estava ali um princípio básico do veganismo. Os animais merecem viver assim como nós e devem, portanto, ficar fora do nosso prato.

Mas o veganismo também não é dieta, com uma lista de alimentos proibidos e outros tantos permitidos. E isso pode ser um pouco confuso, já que hoje não é raro ver a palavra “vegano” em caixas de hambúrgueres e de salsichas, ou até mesmo em embalagens de produtos que são veganos naturalmente, como o açaí.

Isso não é uma crítica ao uso do termo "vegano" pela indústria alimentícia, até porque eu também digo que meus pratos são veganos, para facilitar o entendimento.

Se quisermos passar um pente fino, entretanto, nem a banana, nem a paçoca, nem a coxinha de jaca, nem os nuggets que não têm frango, mas parecem de frango, nem minhas receitas são veganas.

Dizer isso seria como afirmar que o rapper Notorious B.I.G é o hip-hop, um reducionismo que jamais daria conta do movimento coletivo que existiu antes e depois dele. E ainda que essa afirmação não passasse de uma metonímia, estaríamos reduzindo o hip-hop aos MCs, deixando de fora elementos igualmente fundamentais para a sua definição, como os DJs, os b-boys e os grafiteiros.

No caso do veganismo, estaríamos deixando de fora o sujeito da ação e todas as suas escolhas para além da alimentação por um mundo mais ético, igualitário e justo. Vegano é aquele que aderiu ao veganismo, e não o alimento em si.

Mas afinal, o que é o veganismo? Essa resposta precisa, acredito, ser coletiva. Convidei três pessoas veganas para responderem comigo:

“Veganismo é um movimento político que visa o fim da exploração de todos os animais, humanos entre eles. Viver o veganismo vai muito além de parar de comer animais e derivados. É compreender que todas as opressões estão relacionadas, e começar a agir evitando, dentro da sua realidade, colaborar com a manutenção destas, do seu prato ao seu voto.”

Luciene Santos, estudante de direito e @sapavegana no Instagram

“Veganismo é a consciência de que os nossos atos podem afetar todo o ecossistema e perpetuar desigualdades. É perceber a necessidade de desconstruir estruturas que promovem a dor e o sofrimento para que a vida retome o seu indelével protagonismo. É a reivindicação por um mundo mais ético, sustentável, igualitário e não especista [que não defende a hegemonia dos direitos dos humanos sobre os de outras espécies]. É um ato de amor e de abdicação do egocentrismo humano”

Eduardo Riboli, advogado

“Veganismo para mim é estender nossa compaixão e empatia a todos os animais, não apenas àquele cão ou gato que tanto amamos e cuidamos em nossas casas. É —dentro do possível e praticável— fazer escolhas que não envolvam a exploração desses animais, seja na alimentação, no vestuário ou no entretenimento, por exemplo”

Larissa Maluf, publicitária e @larissamaluf no Instagram

Pegando o gancho da fala da Larissa, devo dizer que essas escolhas podem ser, no âmbito da alimentação, deliciosas e afetivas.

Não quero o sofrimento dos animais ou do meu estômago, e o reino vegetal é tão maravilhoso que nos permite as mais variadas recriações daquelas comidas que amamos desde sempre. Por isso, deixo vocês com uma receita de estrogonofe com batata palha que é o maior sucesso no meu Instagram.

Antes, vale uma observação. As batatinhas não ficarão soltinhas como as de pacote, mas ficarão deliciosas, crocantes, com o bônus de não serem fritas e de não gerarem lixo! Além disso, nos restaurantes de alta gastronomia, temos as famosas “telhas”, feitas com os mais diversos ingredientes, para decorar os pratos. Pois aqui temos nossa telha de batata!

Espero que gostem!

Estrogonofe de cogumelos e grão de bico e batata palha de forno

Estrogonofe de cogumelos e grão de bico e batata palha de forno
Estrogonofe de cogumelos e grão de bico e batata palha de forno, receita vegana da chef Luisa Mafei - Luisa Mafei/Folhapress

Estrogonofe

Ingredientes

  • 300 g de cogumelos frescos (portobello, marrom, paris, shimeji ou shitake)
  • 1 xícara de grão de bico já cozido
  • 1 cebola
  • 2 dentes de alho
  • ½ xícara de castanha de caju crua
  • 1 xícara de água
  • 2 colheres de sopa de azeite
  • 1 colher de chá de páprica defumada
  • 1 colher de chá de açúcar demerara
  • 1 colher de chá de sal
  • 1 colher de chá de mostarda em pó dissolvida + 2 colheres de chá de água (ou 1 colher de chá de mostarda dijon)
  • 2 colheres de sopa de extrato de tomate

Passo a passo

  1. Deixe a castanha de caju de molho na água por pelo menos seis horas antes de iniciar a receita. Caso isso não seja possível, ferva as castanhas em água por cinco minutos
  2. Descarte a água do demolho ou da fervura e transfira as castanhas para o liquidificador. Acrescente uma xícara de água e bata durante dois minutos. Reserve o leite que se formará
  3. Em uma panela ou frigideira wok, refogue a cebola picada em uma colher de azeite (reserve a outra) com o sal e a páprica defumada. Refogue por dois minutos e, em seguida, acrescente o alho picadinho e os cogumelos fatiados
  4. Acrescente mais uma colher de sopa de azeite e mexa por quatro minutos em fogo médio, até os cogumelos reduzirem bem de volume
  5. Acrescente o açúcar, mexa até dissolver completamente e, em seguida, acrescente o grão de bico. Refogue por mais três minutos
  6. Acrescente o leite, mexa bem e em seguida acrescente a mostarda dissolvida em água e o extrato de tomate. Misture por mais um minuto, baixe o fogo completamente e tampe a panela. Deixe cozinhar por mais três minutos, desligue o fogo e aguarde mais cinco minutos com a panela tampada antes de servir

Dicas

  • Esse é um ótimo prato para ser congelado e ter sempre pronto para consumo. Basta descongelar, preferencialmente na geladeira ao longo de 24 horas, e aquecer em banho maria ou em uma panela
  • Higienize os cogumelos com um pano de prato limpo, ou com folhas de papel toalha —eles são como uma esponja, e o excesso de água prejudica a textura final

Batata palha de forno

Ingredientes

  • 2 batatas médias
  • 1 colher de chá de azeite
  • Pitada de sal

Passo a passo

  1. Rale as batatas. Em seguida, transfira-as para uma bandeja ou para pratos forrados com um pano de prato limpo ou com papel toalha. Espalhe-as bem e cubra com outro pano de prato, de modo a tirar o máximo de umidade das batatas. Reserve por 20 minutos
  2. Espalhe as batatas raladas por uma assadeira forrada de papel vegetal. Quanto mais espalhadas elas estiverem, mais crocantes ficarão. Asse a 180ºC por de 20 a 30 minutos, retirando a assadeira do forno de tempos em tempos para mexer e assim evitar que as batatas queimem

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