Thiago Amparo

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

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Bolsonaro concedeu nada

O fato de não haver golpe não diminui o fato de que o presidente esperava o apoio popular

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Em que pese o pensamento positivo do STF em ver concessão de derrota onde não há, Bolsonaro não concedeu bulhufas alguma. Democracia é o regime político em que o perdedor deixa o cargo pacificamente; não foi o caso. Bolsonaro apenas concedeu ao caos: seus dois minutos de discurso e suas 45 horas de silêncio serviram ao propósito de inflar sua base radical. Funcionou em parte e por pouco.

O fato de não haver golpe — porque os bloqueios são mais midiáticos do que efetivos e porque os ratos, ora eleitos com a marca Bolsonaro, já abandonaram o navio do golpismo — não diminui o fato de que, sim, Bolsonaro cometeu crime contra a ordem democrática e esperava o apoio popular pelo golpe que não veio. O Datagolpe ficou em casa, porque os radicais de Bolsonaro não chegam a 49% de seus eleitores. Faltaram tanques, recursos, mídia e pessoas.

Presidente Jair Bolsonaro faz pronunciamento após derrota nas urnas dentro do Palácio da Alvorada - Gabriela Biló/Folhapress

Institucionalmente, o lócus do golpismo ter sido a Polícia Rodoviária Federal (PRF) não deveria espantar quem já estava atento para como Bolsonaro cooptou a instituição. Entre 2018 e 2021, caíram quase pela metade as infrações de velocidade e em 80% os testes de álcool pela PRF. Ou seja, a PRF que não trabalhou durante quatro anos decidiu atuar no dia da eleição para suprimir votos a mando de quem?

Racismo é coluna vertebral de qualquer análise política. Para quem viu a PRF transformar uma viatura em câmera de gás em maio deste ano e quem viu policiais rodoviários desviarem sua função subindo morro para matar, viu que a violência racial serve como o canto dos canários nas minas de ferro: cantam para avisar que o ar da PRF já estava tóxico.

Falhado o golpe, o objetivo de Bolsonaro mesmo é não ser preso, o que legalmente ninguém pode lhe garantir (exceto Aras até dezembro). Sequer Bolsonaro teria a grandeza de se exilar no Bahrein ou Hungria; quando muito exilar-se-á numa mansão em Brasília paga por seu partido, brincando de jet-ski no lago, enquanto os seus tentarão governar sozinhos com a marca, mas sem o seu líder errático.

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