Tom Farias

Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

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Tom Farias
Descrição de chapéu machismo

Feminismos Plurais é lugar de pensar a sociedade pela ação de mulheres negras

Djamila Ribeiro é forte referência feminina como voz do ativismo negro no país

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A convite da socióloga Djamila Ribeiro, amiga e colunista deste jornal, fui conhecer o Espaço Feminismos Plurais, que agora conquistou nova sede, em Moema, deixando o seu lugar de nascença para a alameda Tupiniquins, um edifício mágico pela localização e opulência, parceria necessária com o empresário Maurício Rocha, homem negro visionário e empreendedor, que enxerga a valorização de um projeto que fortalece gênero, raça e classe, para além da concessão de uma estrutura de local físico.

A primeira vez que estive com Djamila foi no lançamento do seu livro, "O que É Lugar de Fala?", no Rio de Janeiro, em 2017. O evento, organizado pelo grupo Intelectuais Negras: Escritas de Si, da Casa Nem, local de acolhimento de pessoas trans e travestis em situação de vulnerabilidade, foi muito impactante.

O que era para ser um momento de bate-papo sobre sua obra, capitaneado por Conceição Evaristo, Flávia Oliveira, Indianara Siqueira, Rafaela Queiroz, sob a mediação da historiadora Giovana Xavier, se transformou em acontecimento de grandes proporções, afeto e acolhimento. A Casa Nem, pela sua estrutura, não suportou o grande público pelas dimensões do prédio centenário, com pouca estrutura e conservação –ou seja, o público não coube no local, não coube na extensão da rua Moraes e Vale, no coração da Lapa, mas coube como recado necessário que o Brasil também é feminino e plural.

Essa foi a estreia de Djamila Ribeiro em livro, pelo que sei, e, ao mesmo tempo, o ponto de partida para a criação do Espaço Feminismos Plurais, no mesmo ano, e a publicação da coleção que hoje é parte da "semente literária" lançada naquele evento.

Com prédio novo e sede, o Espaço Feminismos Plurais é ponto ampliado de encontro de vidas que se confluem no enfrentamento de uma narrativa cada vez mais forte entre mulheres, em especial negras, na dinâmica de uma cidade e um país que cada vez mais as violentam, estupram e matam.

A filósofa Djamila Ribeiro - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Apenas entre os meses de janeiro a junho de 2023, para se ter uma ideia, foram registrados 722 feminicídios no Brasil, aumento de 2,6% para os mesmos crimes contabilizados no ano passado, como observou o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base nos relatórios das secretarias estudais de Segurança Pública do país.

Já a Agência Senado apontou em seu levantamento que três a cada dez brasileiras sofreram violência doméstica e que a baixa renda faz com que a incidência desse crime aumente ainda mais entre elas. Segundo números do DataSenado, 25,4 milhões de mulheres já sofreram violência doméstica em algum momento de suas vidas, tendo o homem como o principal agente causador de tal brutalidade. Desse total, 22% delas declaram que boa parte desses episódios de violência ocorreram nos últimos 12 meses.

Apesar de a violência física ser a mais crítica e agravante, pesquisam apontam que a psicológica é a mais recorrente, seguida da moral, patrimonial e sexual, todas demandadas por marido ou companheiro de convivência, ou ex-maridos e ex-namorados, insatisfeitos com o fim do relacionamento. Em todos os casos, tudo começa a partir de casamentos ou namoros abusivos (fonte Agência Senado).

Por essas razões, espaços "feminismos plurais" precisam existir às centenas em sociedades como a nossa, fundada historicamente no patriarcado e no colonialismo devastador.

No Brasil, ser reconhecido não é tarefa fácil para negros e pobres, exige sacríficos enormes e renúncia à vida social e afetiva. A história de vida de Djamila Ribeiro, desde sua infância, com pai militante do movimento negro, homem de esquerda, e mãe aguerrida nas religiões de matriz africana, diz muito do que ela é e se tornou hoje.

São processos, longos e necessários —árvore que entrega seu fruto, curvada diante daqueles que plantaram sua semente e cuidaram de suas raízes até o momento da colheita.

O Espaço Feminismos Plurais é local de acolhimento, estratégia e ação que se pode chamar de seu. É um lugar que, a partir do feminino, propõe-se a pensar a sociedade brasileira, pela perspectiva da mulher, a partir também de seus sonhos e esperanças.

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