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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Comparação entre resultado e desempenho é avanço para o Brasil

Parafraseando Tom Jobim, o futebol e o mundo não são mais para principiantes

Técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, durante partida contra o Vasco, em que equipe alviverde garantiu título do Brasileiro
Técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, durante partida contra o Vasco, em que equipe alviverde garantiu título do Brasileiro - Ricardo Moraes - 25.nov.2018/Reuters

A onda no Brasil é comparar resultado e desempenho. É um avanço, pois até pouco tempo atrás quase só se falava no resultado. Os técnicos começaram a ficar incomodados.

Outra dicotomia bastante discutida, sem sentido, é a de separar os técnicos entre os jovens, que estudam e entendem de modernas táticas, mas que não entendem de gestão de grupos, e os mais veteranos, que entendem de gestão de grupo, mas não acompanham a evolução técnica e tática.

A maioria dos técnicos fala muito em desempenho, mas quase só age pelo resultado.

Felipão é exceção. Diz que é e sempre foi um apaixonado pelo resultado, embora mostre, pela expressão corporal, gostar demais de um jogo bem jogado e de um lance bonito

Já Guardiola fica transtornado quando o time ganha e joga mal ou quando perde e atua bem. Perfeccionista e amante do futebol, quer as duas coisas.

Há várias maneiras de ganhar e de perder. Guardiola tem a convicção de que, para ser mais eficiente, é preciso ter o domínio da bola e do jogo, pressionar e passar a maior a parte do tempo no campo do adversário.

Já Mourinho, Felipão e a maioria dos treinadores preferem atuar com mais segurança, marcar muito e contra-atacar rapidamente.

Algumas grandes equipes que não foram campeãs continuam presentes na história e na memória, como a seleção brasileira de 1982, a holandesa de 1974 e outras, enquanto alguns times campeões são mais lembrados pelas estatísticas. Não despertaram fantasia. A vida é sonho. O restante é passagem.

O futebol caminha para que as grandes equipes, em um mesmo jogo, tenham mais de um estilo, de acordo com o momento. Isso acabará com a chata e frequente discussão entre propor o jogo e ser reativo.

Os times brasileiros aprenderam a recompor rapidamente, a fechar os espaços, mas, quando recuperam a bola, não conseguem chegar à frente, trocando passes e com vários jogadores. Apelam para os chutões e as bolas longas. Faltam mais qualidade e ousadia, para tentar fazer coisas melhores.

Os grandes times da história foram diferentes. O Santos de Pelé trocava muitos passes, cadenciava o jogo e, de repente, acelerava em direção ao gol, com dribles, tabelas, passes e penetrações na área. Era parecido com o Barcelona, dirigido por Guardiola. Quem era melhor? Não sei.

Já a seleção brasileira de 1970 parecia um time atual, pois, quando perdia a bola, recuava, fechava os espaços e contra-atacava com troca rápida de passes.

Obviamente, a intensidade e a velocidade são bem distintas em cada época.

A antiga máxima de que um técnico deveria usar a estratégia de acordo com as características dos jogadores continua atual.

São os atletas especiais que determinam o estilo de um time, com a orientação e o comando dos técnicos. A seleção de 1970 usava muito o contra-ataque e o passe longo, preciso, porque tinha Gérson, Jairzinho e Pelé.

O Grêmio se tornou o time brasileiro que melhor trata a bola, porque tinha Arthur, Maicon e Luan, próximos um do outro.

O futebol e o mundo mudaram muito nos últimos tempos. Diferentemente de épocas passadas, quando eram necessárias umas três gerações para uma transformação no comportamento social, o mundo hoje gira com muita velocidade.

A vida atual é um espanto e não será a mesma em pouco tempo. Adaptar-se a tantas novidades não é fácil. Parafraseando Tom Jobim, o futebol e o mundo não são mais para principiantes.

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