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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Viajar pelo passado e compará-lo ao presente é um hábito prazeroso

Costumamos também achar que tudo de outra época era melhor

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Foto oficial da seleção brasileira antes de partida pela Copa do Mundo de 1970, no México
Foto oficial da seleção brasileira antes de partida pela Copa do Mundo de 1970, no México - Reprodução

Dias atrás, Gérson completou 78 anos. Foi o melhor meio-campista que vi, pelo talento individual e coletivo. Além do excepcional passe longo, marca principal de sua carreira, Gérson tinha o domínio da bola e do jogo. Raramente, errava um passe. Jogava e via o jogo como se estivesse nas tribunas, com um megacomputador ao lado, que mapeava todos os movimentos em campo e que calculava a velocidade da bola, dos companheiros e dos adversários.

Na Copa de 1970, Gérson tinha, no meio-campo, as ótimas companhias de Clodoaldo, que marcava e tinha excelente passe, e Rivellino, habilidoso, criativo e ótimo finalizador. Os três se completavam.

O tempo e os treinamentos são importantes para formar um ótimo conjunto, mas é também essencial ter jogadores com estilos que se somam. Na primeira vez em que treinei ao lado de Piazza e Dirceu Lopes, parecia que jogávamos juntos há mil anos. As virtudes que me faltavam, sobravam em Dirceu. E também o contrário.

A excepcional seleção de 1982 tinha craques meio-campistas (Falcão e Cerezo) e craques meias-atacantes (Zico e Sócrates). Faltou, atrás dos quatro, um volante centralizado, que marcasse e passasse bem a bola, como Busquets e Clodoaldo. O problema é que não daria para escalar os cinco.

Vi grandes duplas e trios no meio-campo e no ataque. Busquets, Xavi e Iniesta são inesquecíveis. O Barcelona atual tem um ótimo meio-campo, formado por Busquets, Arthur e Rakitic. Porém, são dois com o estilo de Xavi (Arthur e Rakitic) e nenhum com o de Iniesta. Coutinho foi contratado para substituir Iniesta, mas o técnico Valverde percebeu que o melhor lugar para o brasileiro era no ataque.

Ao mesmo tempo em que aumentam os elogios a Arthur, surgem críticas de que ele avança pouco. Seria mais completo. O mesmo ocorre com Rakitic e com os grandes meio-campistas do futebol mundial. De todos, o que tem mais características para defender, organizar e ainda chegar à frente para marcar gols, tudo com enorme talento, é Pogba. Mourinho não gostava.

No passado, todas as grandes equipes possuíam uma dupla de atacantes pelo meio, formada por um ponta-de-lança, que voltava para receber a bola, e um centroavante. A maior de todas foi Pelé e Coutinho.

As duplas diminuíram bastante, porque quase todos os times atuais jogam com dois jogadores abertos, um trio no meio-campo (ou dois volantes e um meia de ligação) e um centroavante, que costuma ficar isolado.

As duplas de atacantes estão voltando, especialmente na Europa. Com a contratação de Ricardo Goulart, provavelmente, o Palmeiras terá uma dupla na frente, com Ricardo Goulart e Borja. No Cruzeiro, Thiago Neves é uma mistura de atacante com meia de ligação. Rodriguinho tem o mesmo estilo e atua na mesma posição.

Se for confirmada sua contratação, Mano Menezes terá de adaptar um dos dois a jogar pela esquerda, como fez com Arrascaeta. Rodriguinho e Thiago Neves podem também se revezar, pela esquerda. Se o técnico fosse Guardiola, o Cruzeiro jogaria com Henrique e os dois no meio-campo. Saíria Ariel Cabral.

Ser moderno não é aprender uma nova terminologia. É conhecer e compreender as transformações que ocorrem no futebol e no mundo.

Viajar pelo passado e compará-lo ao presente é um hábito prazeroso e frequente do ser humano. Costumamos também achar que tudo de outra época era melhor. Temos saudades do que vimos e do que apenas imaginamos.

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