Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tostão

Demitido, Mourinho foi engolido por próprio personagem

Enquanto futebol segue Guardiola, técnico do Manchester United deixou o clube

Mourinho foi demitido do Manchester United por causa de péssimos resultados e desempenhos. Uma das razões foi o crescimento técnico, neste ano, das outras grandes equipes inglesas. A gota d´água foi o massacre técnico e tático sofrido na derrota para o Liverpool. Mourinho, mais uma vez, preferiu o razoável Fellaini a Pogba, já que o craque francês, às vezes, inventa e transgride as regras do técnico.

Mourinho, nas grandes equipes, especialmente no Real Madrid, onde quis ser o anti-Guardiola, se tornou, por ter mais conquistas que fracassos, o símbolo do treinador pragmático, utilitarista, que prioriza a marcação e os contra-ataques e que, contra fortes adversários, costuma “colocar um ônibus à frente da área”. Além disso, passou a ser um técnico prepotente, ranzinza. Mourinho criou um personagem e se apaixonou por ele. A criatura engoliu o criador.

A tendência mundial das grandes equipes é seguir o modelo Guardiola, de pressionar, de tentar recuperar a bola onde a perdeu e de formar times compactos, que jogam com intensidade, troca de passes e triangulações, de maneira eficiente e prazerosa. O torcedor também evoluiu e passou a exigir um futebol bem jogado.

José Mourinho em primeiro plano e o Pogba em segundo
José Mourinho em primeiro plano e o Pogba em segundo - Jason Cairnduff-15.abr-18/REUTERS

Evidentemente, os grandes times têm suas particularidades. O Manchester City possui várias. Como os pontas atuam abertos, os laterais passam a ser armadores, ao lado do volante, formando um trio no meio-campo. Com isso, os dois meio-campistas avançam para receber a bola mais perto do centroavante, entre o meio-campo e os zagueiros adversários. Na prática, o time tem cinco atacantes, dois pontas, um centroavante e dois meio-campistas. Quando a equipe perde a bola e não dá para marcar por pressão, todos voltam para marcar, com exceção do centroavante.

O Liverpool mudou a estrutura tática e passou a jogar com dois volantes, dois jogadores abertos, que atacam e defendem, um meia de ligação (Firmino) e um centroavante (Salah), em vez de três no meio-campo e três no ataque. Funciona bem das duas maneiras. Muito mais importante que o sistema tático é a intensidade, a movimentação e maneira organizada e explosiva de atacar, do início ao fim do jogo.

Outras grandes equipes europeias, como PSG, Real Madrid, Barcelona, Bayern, Juventus e Atlético de Madri, alternam, em um mesmo jogo, estilos defensivos e ofensivos. Mesmo o Atlético de Madri, que se destacou, nos últimos anos, pela marcação, tornou-se também um time ousado. Além das equipes inglesas, todas estas são candidatas ao título europeu. A Liga dos Campeões está mais equilibrada.

No Brasil, com raras exceções, os técnicos são mouristas, cada um de seu jeito. Alguns jovens chegam com novas ideias, mas são consumidos pelo péssimo e desorganizado calendário, pelos vícios acumulados durante longo tempo. Há também um medo de inovar.

Sampaoli e Fernando Diniz, novos técnicos de Santos e Fluminense, são guardiolistas, bielsistas. A dificuldade principal de Fernando Diniz não é a estratégia de jogo, e sim a incapacidade de fazer com que os jogadores executem bem o que foi planejado, por ineficiência e inexperiência do treinador e pelo pouco talento individual dos atletas.

Guardiola é excepcional porque faz ótimos jogadores evoluírem, por atuarem em equipes organizadas e inovadoras, de acordo com suas características, e não porque transforma equipes individualmente modestas em brilhantes e vencedores times.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.