Fracassou a tentativa dos grandes investidores em criar a Superliga para substituir a Liga dos Campeões da Europa. Houve muitos protestos no mundo do futebol contra a ganância dos grandes clubes para ganhar mais dinheiro e corromper a história e a cultura do futebol.
Os torcedores do Chelsea se reuniram na porta do estádio e o clube desistiu de participar da nova competição. O Manchester City, oficialmente, foi o primeiro a fazer o mesmo. Outros clubes ingleses seguiram o mesmo caminho. Foi uma vitória dos torcedores.
As severas críticas à criação da Superliga não significam que está tudo bem na atual Liga dos Campeões.
A elitização do futebol é grande e ficaria muito maior com a Superliga. É necessário haver mudanças que atendam ao negócio futebol e também aos desejos dos apaixonados pela beleza do espetáculo e pela técnica individual e coletiva.
No mundo atual, cada dia mais apressado, preocupado em, rapidamente, conseguir boas manchetes e criar heróis e vilões, são mais frequentes as duras críticas aos perdedores e o excesso de elogio aos vencedores.
No passado, isso já acontecia, porém menos. Quando eu estava no auge de minha carreira, logo após as duas vitórias do Cruzeiro sobre o Santos (6 a 2 e 3 a 2), na decisão da Taça Brasil de 1966, um jornalista, açodado, sem o mínimo bom senso, montou uma manchete para o jornal com uma foto de uma coroa em minha cabeça, com os dizeres: “Pelé branco, rival do Rei”.
Morri de vergonha. Senti-me um usurpador do trono. Hoje, vários jogadores brilham em algumas partidas, são endeusados e passam a ser pedidos na seleção. O herói muda a cada semana. Vinicius Junior, após marcar, pela primeira vez, dois gols em um mesmo jogo pelo Real Madrid, contra o Liverpool, foi promovido a estrela do futebol mundial. Obviamente, é um ótimo jogador, com chance de ser convocado para a seleção.
Vários treinadores atuais, como Cuca, Rogério Ceni e Abel Ferreira, recentemente muito elogiado, têm sido muito criticados, por causa de alguns resultados ruins. No Atlético-MG, já pedem até a cabeça de Cuca, ainda mais se o time perder nesta quarta (21), pela Libertadores.
Uma das razões de os treinadores serem tão duramente criticados é que são excessivamente elogiados nas vitórias. Com frequência, o time vira um jogo, e todas as explicações passam a ser pela estratégia do técnico, como se não houvesse tantos outros motivos. Ocorre também o contrário, ele se tornar o culpado pela derrota, quando o outro time é que vira o placar. Cada vez se discute menos a qualidade dos atletas e suas decisões durante a partida. Eles são os fatores mais decisivos em um jogo.
Antes das estratégias usadas por Zagallo, na Copa de 1970, o técnico, no Brasil, era uma figura discreta.
Com a progressiva importância, em todas as atividades humanas, do planejamento, da racionalização e da tecnologia, houve uma grande valorização, uma glamourização e vedetização dos treinadores. Muitos se tornaram teatrais na lateral do campo, procurados por todas as câmeras de televisão.
É inegável a grande importância dos técnicos. É bom lembrar ainda que, somente a partir da Copa de 1970, passou a ser permitida a substituição de jogadores durante a partida, mesmo se não fosse por contusão. A nova regra passou a ser uma chance de afirmação dos treinadores. A partir daí, criou-se histórias e lendas sobre técnicos, que, com uma cartada, mudavam a história de um jogo, o que continua presente.
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