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Futebol Internacional

Torcedores pressionam bilionários do futebol e ajudam a derrubar Superliga europeia

Ao prometerem revolução no esporte, investidores esqueceram de combinar com quem vive dele

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São Paulo

O que parecia ser uma das grandes revoluções da história do futebol era apenas um castelo de cartas. Pelo menos por enquanto. O "lançamento" da Superliga durou menos de 48 horas e ruiu porque os dirigentes das 12 equipes europeias envolvidas não previram a monumental oposição de torcedores, jogadores, técnicos, comentaristas, políticos e cartolas.

Uma amostra do fiasco para a imagem das agremiações foi Florentino Pérez ter sido o único dirigente a aparecer em público para defender o projeto. E o presidente do Real Madrid virou motivo de chacota ao afirmar que uma confraria de bilionários tentava, na verdade, "salvar o futebol". Os jovens, segundo ele, têm capacidade de atenção muito curta e não assistem mais os jogos.

"Não precisamos que ninguém venha nos salvar. Não estamos em perigo. No futebol, deve prevalecer sempre o mérito esportivo", respondeu Fernando Roig, presidente do Villarreal, sobre um torneio com vagas asseguradas para seus fundadores a despeito de resultados em campo.

Cerca de 10 horas depois das declarações de Pérez, seis ingleses pularam fora do barco: Arsenal, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham Hotspur e Chelsea divulgaram comunicados abandonando a Superliga, alguns com direito a pedido de desculpas.

A torcida do Chelsea ocupou as ruas próximas ao estádio de Stamford Bridge e provocou o atraso do início do confronto contra o Brighton, nesta terça (20), pelo Campeonato Inglês.

De acordo com a imprensa inglesa, o russo Roman Abramovich, dono do clube londrino, ficou furioso porque os responsáveis pela empreitada não previram uma reação contrária tão virulenta.

Torcedores do Chelsea protestam contra a criação da Superliga em Londres, nesta terça (20)
Torcedores do Chelsea protestam contra a criação da Superliga em Londres, nesta terça (20) - Adrian Dennis/AFP

Joan Laporta, presidente do Barcelona, se apressou a dizer que a entrada do clube catalão dependia, ainda, da aprovação em uma assembleia de sócios.

O chefe executivo do Manchester United, Ed Woodward, comunicou sua renúncia após sete anos no cargo. No período, o time passou de força dominante do futebol britânico a coadjuvante do Manchester City. As ações da empresa que controla a agremiação na bolsa de Nova York estavam em queda de 16% durante esta terça.

Ideólogo da compra do United pela família Glazer em 2005, Woodward era executivo do banco J.P. Morgan, a mesma instituição que confirmou estar disposta a investir cerca de US$ 4 bilhões para financiar a agora moribunda Superliga.

A Juventus teve de negar boatos de que o presidente Andrea Agnelli, um dos arquitetos do torneio, havia renunciado. O Tottenham Hostpur reforçou a segurança ao redor do seu estádio.

A maior oposição organizada veio do Reino Unido. Ex-jogadores como Gary Neville e Jamie Carragher pediram resistência aos torcedores. Grupos organizados tiveram encontro com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. O político disse que uma série de medidas estavam em estudo para impedir os ingleses de participar da competição.

​Pep Guardiola (City), Jurgen Klopp (Liverpool) e Marcelo Bielsa (Leeds) foram três dos técnicos que se posicionaram em público contra a Superliga. O espanhol chegou a dizer que "isso não é esporte".

Os atletas apareceram em seguida. Os do Liverpool fizeram uma ação coordenada e parte deles publicou a mesma mensagem de repúdio ao torneio. Luke Shaw, Bruno Fenandes e Marcus Rashford, do Manchester United, fizeram o mesmo, assim como Kevin De Bruyne e Raheem Sterling, do Manchester City.

Os 14 times da Premier League divulgaram nota conjunta falando em ações judiciais contra os seis fundadores da Superliga que atuam na Inglaterra, o que pode ter soado mais alarmante (por serem possibilidades concretas) do que as ameaças da Uefa de suspender jogadores ou expulsar equipes da Champions League.

O presidente da entidade, Aleksander Ceferin, chamou os cartolas envolvidos no projeto de "mentirosos" e "cobras". Emissoras de TV da Itália e Reino Unido fizeram montagens em estúdios mostrando os clubes da Superliga como peças de dominó a caírem uma depois da outra.

No jogo de relações públicas, os cartolas passaram aos seus torcedores a imagem de gananciosos, insensíveis, desligados da realidade e que menosprezam a cultura do futebol. Essa é a raiz da oposição dos torcedores ingleses, que também não concordam com o desprezo pela tradicional Champions League e pelos rivais da Premier League.

Das 12 equipes fundadoras da Superliga, 8 têm investidores estrangeiros. Apenas Real Madrid e Barcelona não possuem donos.

Com poucas informações disponíveis, é difícil saber se o projeto foi abandonado ou apenas postergado (o mais provável). Por enquanto, o poder de pressão de muitos agentes, entre eles torcedores, levou a melhor.

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