Nesta quarta (23), o Brasil enfrenta a Colômbia, pela Copa América. Tite, a cada jogo, tem feito pequenas mudanças individuais e coletivas, sem alterar a estrutura da equipe.

A estratégia que tem dado melhor resultado é a de usar dois atacantes pelos lados, geralmente Richarlison, pela esquerda, e Gabriel Jesus, pela direita. Os dois atacam e defendem, quando formam uma linha de quatro com os dois volantes. Everton Cebolinha e Everton Ribeiro têm sido opções pelos lados. Vinicius Júnior ainda não teve chance.

O centroavante continua indefinido. Firmino passa por um mau momento no Liverpool e na seleção. Gabigol, quando entra, tem sido discreto. Uma opção, usada por Tite, é colocar Richarlison ou Gabriel Jesus como centroavante. Os dois atuam bem pelo centro e pelos lados.

Na história do futebol brasileiro e mundial, muitos centroavantes, artilheiros e destaques nos clubes, costumam não atuar bem na seleção, mesmo ao lado de um grande craque, de uma estrela, como Neymar. Deveria ser o contrário, já que o grande talento cria muitas chances de gol.

Na Argentina, o centroavante Lautaro Martínez joga muito melhor na Inter de Milão que na seleção, ao lado de Messi. Agüero tinha tudo para fazer uma extraordinária dupla com Messi, mas isso nunca ocorreu. Na segunda (21), foi mal novamente, contra o Paraguai.

Tenho a impressão, na verdade, é uma divagação, de que, se Messi fosse mais fominha e tentasse terminar as jogadas em vez de dar o passe ao companheiro, a Argentina e o próprio jogador teriam mais sucesso. Talvez a Argentina tivesse sido campeã do mundo em 2014, quando teve ótimas chances de gol, em passes de Messi para Higuaín.

Pelé, no Santos, teve um espetacular parceiro, Coutinho, o maior de todos. Outro muito bom foi Toninho Guerreiro. Na seleção, o grande parceiro foi Vavá, um clássico centroavante, nas copas de 1958 e 1962. Por outro lado, Pelé teve, no Santos e na seleção, parceiros que eram destaques nos clubes e que faziam muitos gols, mas que desapareciam ao seu lado. Talvez ficassem amedrontados com a companhia de um rei. Outra razão era que a diferença técnica era tão grande que as limitações ficavam mais evidentes.

Em 1970, quando Zagallo assumiu o comando da seleção, poucos meses antes da Copa, convocou Dario e Roberto, os dois melhores centroavantes do país, e disse que eu seria o reserva de Pelé, pois, no Cruzeiro, era um meia ofensivo. Dario foi convocado porque brilhava no Galo, não por ordem do nefasto ditador Médici, como repetem há mais de 50 anos.

Após muitos treinos e amistosos, Zagallo mudou de ideia e, perto do Mundial, acabou me escalando. Pediu-me para que jogasse como um centroavante, à frente de Pelé e de Jairzinho, sem recuar, como fazia no Cruzeiro e como fiz nas Eliminatórias, quando fui o artilheiro da equipe.

Eu tinha consciência de que a seleção, com dois atacantes espetaculares, artilheiros e agressivos, como Pelé e Jairzinho, precisava de um centroavante mais armador do que finalizador. Sabia também que eu era um coadjuvante e que minha maior função era a de facilitar para Pelé, para que ele jogasse tudo o que pudesse, pois, assim, todos seríamos beneficiados.

A seleção atual precisa, até a Copa de 2022, definir um centroavante que tenha boa técnica e inteligência coletiva, que não se iniba ao lado do astro Neymar nem que queira ser melhor do que é. Neymar não é Pelé, longe disso, mas é decisivo ajudá-lo a brilhar.