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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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São Paulo é um time agressivo, mas muito apressado para chegar ao gol

Rogério Ceni será um dos grandes treinadores da história do futebol brasileiro. Ainda não é

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A festa dos torcedores e os estádios cheios estão lindos. Espero que isso não seja motivo para o aumento da Covid-19. A epidemia está em grande queda, mas ainda não acabou. O reencontro dos torcedores com os estádios é também uma maneira de sublimar, de transformar em alegria, os dois anos tristes de isolamento e os graves problemas que assolam o país.

O calendário em ano de Copa está ainda pior. É jogo demais, aqui e na Europa. Tenho de selecionar as partidas. Não pretendo também gastar dinheiro com jogos ruins, já que os direitos de transmissão foram pulverizados.

As grandes equipes brasileiras possuem bons elencos e deveriam lutar por todos os títulos. Evidentemente, terão de alternar alguns jogadores a cada partida, desde que não formem um time titular e outro reserva. Treinador bom é o que tem conhecimentos técnicos e que seja um gestor competente.

Hulk disputa a bola na vitória do Atlético-MG sobre o Internacional, pelo Brasileiro
Hulk disputa a bola na vitória do Atlético-MG sobre o Internacional, pelo Brasileiro - Washington Alves - 10.abr.2022/Reuters

Das três equipes brasileiras mais fortes, apenas o Atlético ganhou na primeira rodada do Brasileirão. "O Galo ganhou" e "Hulk fez gol" se tornaram motes dos torcedores. A cada rodada, criam um novo herói, um novo time sensação, um novo técnico é demitido (foram dois na primeira rodada) e pedem um novo jogador na seleção. Após os três gols, até Calleri, se fosse brasileiro, estaria sendo reivindicado.

Os heróis são geralmente os artilheiros, os meias camisas 10, e os pontas hábeis e dribladores. Os bons meio-campistas, construtores e pensadores, são esquecidos. Por isso e por outros motivos, houve uma queda do futebol brasileiro na última década.

Ouço muito que um time faz a saída desde a defesa, com um volante recuado entre os dois zagueiros para iniciar as jogadas de transição, como se isso fosse uma grande novidade. No passado, os bons centromédios, antes de serem chamados de volantes, já faziam o mesmo, como Dino Sani, Clodoaldo e outros. Antes, o volante recuava porque os zagueiros não costumavam passar a bola. Hoje, é porque são pressionados pelos adversários.

Corinthians e São Paulo podem evoluir e se juntar aos três mais fortes. O São Paulo é um time agressivo, ofensivo, que joga apenas com um jogador no meio-campo (Pablo Maia) e mais cinco próximos da área adversária. Funciona muito bem em casa e/ou contra adversários inferiores. Contra times do mesmo nível ou mais fortes, fora de casa, como foi contra o Palmeiras, a defesa fica desprotegida, além de faltar mais domínio da bola no meio-campo e mais troca de passes. O time é muito apressado para chegar ao gol.

Ceni durante a vitória do São Paulo sobre o Ayacucho pela Sul-Americana
Ceni durante a vitória do São Paulo sobre o Ayacucho pela Sul-Americana - Ernesto Benavides - 7.abr.2022/AFP

Após a vitória por 4 a 0 sobre o Athletico, Rogério Ceni, em vez de ficar alegre e de comemorar, lamentou bastante, com ressentimento, a perda do Campeonato Paulista. Disse que foi a pior derrota em sua carreira, mesmo como jogador, pelas circunstâncias de ter a vantagem de dois gols. Lembrei da última e belíssima coluna – todas são belíssimas –, escrita por Antonio Prata, "Do Leme ao Frontal": "Todas as pessoas são ressentidas. Todas".

Eu diria também que todas as pessoas possuem algum sentimento de culpa, real ou imaginário, por não terem feito, em algum momento, algo diferente na vida. Rogério Ceni, perfeccionista, não falou, mas deduzi que está com um sentimento de culpa, pelo São Paulo não ter adotado uma outra postura na final contra o Palmeiras. Por ter muito conhecimento e por ser utilitarista e obsessivo pelos detalhes, penso que Rogério Ceni será um dos grandes treinadores da história do futebol brasileiro. Ainda não é.

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