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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Que Dorival não seja engolido pelo delírio faraônico do Flamengo

Falta ao clube a seriedade profissional do Palmeiras, no campo e na gestão

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Uma das evoluções do futebol foi um time ter vários jogadores que ocupam mais de uma posição e executam mais de uma função. Porém é preciso separar atletas que atuam em posições diferentes desde o início das partidas dos que, momentaneamente, durante o jogo, fazem outras funções. Existem ainda os que, sem mudar de posição, executam vários fundamentos técnicos com eficiência, como um volante que marca e avança com qualidade, como um meia ofensivo.

De Bruyne, além da velocidade e da transição rápida de uma intermediária à outra, é excepcional na construção de jogadas, nos passes decisivos para gols, na finalização com os dois pés, nos cruzamentos fortes e de curva e na inteligência coletiva. Se não é o melhor jogador do mundo, é o mais completo.

O técnico Dorival Junior, ainda no Ceará, durante jogo pela Copa Sul-Americana, em maio; ele foi anunciado pelo Flamengo como novo treinador e substitui o português Paulo Sousa
O técnico Dorival Junior, ainda no Ceará, durante jogo pela Copa Sul-Americana, em maio; ele foi anunciado pelo Flamengo como novo treinador e substitui o português Paulo Sousa - Alejandro Pagni - 25.mai.22/AFP

Cada jogador tem de achar seu lugar ideal. Cristiano Ronaldo, que era um excepcional atacante pelo lado, de onde partia para o meio para fazer gols, tornou-se um dos maiores da história depois que passou a atuar mais centralizado e mais perto da área. Messi, que era um ponta direita que driblava para o centro, para finalizar ou para dar um passe com a canhota, como existem dezenas espalhados pelo mundo, tornou-se um supercraque, um fenômeno, quando passou a jogar em todo o ataque.

Com frequência, os técnicos necessitam colocar um ótimo jogador fora de posição, pois já há outro melhor ainda no lugar. No Palmeiras, Scarpa, que joga na mesma posição de Raphael Veiga, foi deslocado para o lado esquerdo. Os dois, além de várias qualidades, destacam-se pelos cruzamentos fortes e de curva, em bolas paradas e em movimento. Assim, saem muitos gols. Toda equipe deveria ter um jogador com essa virtude. O Palmeiras tem dois.

Os treinadores, além de ter muito conhecimento técnico, tático e estatístico e de saber comandar um grupo, necessitam ser bons observadores dos detalhes e, principalmente, escalar os melhores nas posições corretas. O treinador Vítor Pereira, do Corinthians, é extremamente científico, mas tem feito escolhas erradas, ao colocar, em alguns momentos, o meio-campista Renato Augusto de centroavante e de armador pelo lado, Róger Guedes de centroavante e o veloz Mosquito pela esquerda. Mosquito se destaca somente pela velocidade pela ponta direita, para cruzar de pé direito. Na esquerda, ele não tem habilidade para driblar para o centro nem para cruzar com a perna esquerda.

No Brasil, os treinadores brasileiros e estrangeiros continuam sendo excessivamente demitidos. Entre vários motivos, um frequente é a supervalorização dos técnicos, como se fossem os grandes responsáveis por tudo o que acontece no jogo. É preciso separar a indiscutível importância de um técnico na formação e no comando de um time da ilusória análise de que a história de um jogo é sempre determinada por um treinador.

Espero que o novo técnico do Flamengo, Dorival Júnior, não seja engolido pelo delírio faraônico de que o time teria de jogar como um dos melhores do mundo. Falta ao Flamengo a seriedade profissional do Palmeiras, no campo e na gestão. Abel Ferreira se parece com Bernardinho, do vôlei. A vitória é muito mais que um prazer. É um compromisso com ele mesmo.

Em todas as atividades profissionais e na vida, cada um precisa encontrar o lugar e o jeito de ser e de fazer. Muitos não conseguem. No meio do caminho, há muitos tombos. Outros não querem melhorar, aprender. Preferem repetir e só enxergar o que querem ver.

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