Freud estudou a psicologia individual e de grupo e mostrou que o ser humano, quando está em uma multidão, perde a consciência individual, a ética, a razão e a moral e costuma cometer erros graves, como se não fossem feitos por ele, mas pelo grupo. Freud não conhecia a violência e a barbárie da sociedade e do futebol brasileiros, dentro e fora dos estádios.
A violência, no fim de semana, com grandes riscos para os torcedores, adultos e crianças, que só queriam torcer (a maioria), é uma vergonha nacional, justamente em um momento em que os estádios estão cheios, ocorrem grandes festas pacíficas, e os times brasileiros tentam jogar um bom futebol, moderno, eficiente e emocionante. Espero que na na final da Copa do Brasil tenhamos uma grande partida, sem violência.
O Flamengo, por atuar no Rio de Janeiro, por ter melhores jogadores e pelas atuações e resultados ruins do Corinthians fora de casa, possui mais chances de ganhar o título. O Corinthians deve tentar repetir a conduta do primeiro jogo, quando marcou muito bem e teve possibilidades de ganhar a partida. Faltou ao Corinthians, em Itaquera, mais ousadia para tentar vencer e entrar no Maracanã em vantagem.
Vítor Pereira faz um bom trabalho, mas, desde a chegada ao clube, não resolveu o dilema Róger Guedes, se o obriga a também defender pela esquerda, o que o jogador não gosta de fazer, se o escala mais livre e perto do centroavante ou se o coloca na reserva. Já o Flamengo conseguiu o que parecia difícil, marcar muito bem, mesmo sem ter jogadores pelos lados que atacam e que defendem, um posicionamento presente em quase todos os times do mundo.
A associação da troca de passes do Flamengo com o pragmatismo tático e disciplinado do Corinthians resultaria em uma grande equipe, intensa e moderna, como jogam as melhores equipes do mundo.
Após um longo tempo de atraso na maneira de jogar em relação às principais equipes europeias, ocorre uma transformação progressiva do futebol brasileiro, que começou depois do 7 a 1 e continuou com a chegada de bons técnicos estrangeiros. Os treinadores brasileiros, os mais jovens e os mais veteranos, seguiram o mesmo caminho, evoluíram e mudaram a maneira de jogar de suas equipes.
A mudança coletiva do futebol europeu começou depois da Copa de 2002. Antes da final do Mundial, jornalistas alemães, que estavam no centro de imprensa, disseram-me que a seleção alemã era a pior em muito tempo. Isso não diminui os méritos individuais e coletivos, para a época, da equipe brasileira, mas é uma constatação do futebol atrasado em relação ao de hoje.
A partir daí, houve grandes mudanças, na Alemanha e em todo o mundo, especialmente no Barcelona, sob o comando de Guardiola, que continuou com a seleção espanhola, campeã do mundo em 2010 e bicampeã da Europa em 2008 e em 2012. A nova postura se espalhou pelo mundo, e hoje ficou comum no futebol ver a marcação por pressão desde a saída de bola do goleiro, a compactação entre os setores, a troca de passes e as triangulações, a evolução nos passes dos goleiros e dos zagueiros e tantos outros detalhes que enriqueceram a qualidade do jogo. Essa força coletiva ajudou no surgimento de mais craques, como Benzema, eleito, com justiça, o melhor jogador do mundo no ano.
Apesar de a Copa do Mundo ser no Qatar, um país acusado de violar os direitos humanos, deveremos ter um grande Mundial, riquíssimo em craques e em jogo coletivo.
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