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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Grandes meio-campistas atuam como se estivessem na arquibancada

Jogam como se tivessem um megacomputador que calculasse todos os movimentos da bola, dos companheiros e dos rivais

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O futebol precisa ser mais bem avaliado e discutido. Noto, cada vez mais, uma transformação nas entrevistas dos treinadores, brasileiros e de fora, com mais explicações técnicas e táticas. Isso não acontecia e contribui para a melhoria da qualidade do esporte.

A presença de treinadores estrangeiros, especialmente os portugueses, mais acostumados com uma rígida formação acadêmica, científica, tem sido importante para essa evolução. Os treinadores brasileiros têm tido a mesma postura.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, durante partida da Libertadores - Miguel Schincariol - 6.set.22/AFP

Na coluna anterior, escrevi sobre a similaridade de várias equipes, mesmo com níveis técnicos bem diferentes, como Independiente del Valle, Fluminense, Manchester City e outros times, que se destacam pela aproximação e pela troca de passes de uma área à outra.

São parecidos, mas diferentes. O City utiliza a estratégia posicional, com pontas abertos que esperam a bola, e se destaca pelas triangulações entre o ponta, o meia armador e um meio-campista de cada lado, enquanto, no Fluminense, os jogadores trocam muito de posição, vão à procura da bola e se agrupam em um setor.

O Palmeiras e outras equipes, como a seleção brasileira, alternam a maneira de jogar, de acordo com o momento e o adversário. Seja qual for a escalação na estreia da Copa, o Brasil, quando não tiver a bola e não conseguir recuperá-la onde a perdeu, vai formar duas linhas de quatro na marcação, com dois volantes pelo centro e dois pontas que atacam e recuam rapidamente para marcar. Neymar e outros companheiros ficarão livres para iniciar os contra-ataques.

O Brasil, durante décadas, teve laterais que marcavam e atacavam com muito talento. No Mundial de 1958, o lateral esquerdo Nilton Santos avançava, enquanto o técnico Feola gritava para ele voltar. Contra a Áustria, Nilton Santos atacou, trocou passes e fez um dos três gols na vitória por 3 a 0.

No Qatar, será diferente. Como o Brasil joga com dois pontas rápidos, dribladores, agressivos e abertos, não haverá necessidade de ter laterais que avançam tanto, a não ser em momentos específicos. Tite deve alternar pelos lados um lateral mais marcador e outro mais construtor, o que vai liberar o segundo volante para atacar.

A seleção brasileira de 1970, símbolo do futebol bem-jogado, não tinha um atacante pela esquerda, já que o lateral Everaldo era mais marcador que apoiador, e Rivellino era um terceiro no meio-campo. Eu, em alguns momentos, ocupava esse setor, como ocorreu contra o Uruguai, quando recebi a bola pela ponta e lancei o volante Clodoaldo, que penetrava pelo centro e marcou.

Esse gol só ocorreu porque, minutos antes, Gerson, que era marcado individualmente, pois sabiam que o início das jogadas passava muito por ele, trocou, por iniciativa própria, de posição com Clodoaldo.

Gerson e os grandes meio-campistas do futebol mundial, do passado e do presente, atuam como se estivessem na arquibancada, vendo a partida de cima, como se tivessem um megacomputador ligado ao corpo, que calculasse todos os movimentos e a velocidade da bola, dos companheiros e dos adversários. Os neurocientistas chamam isso de inteligência cinestésica.

Vista aérea do estádio de Lusail, em Doha, no Qatar - Qatar's Supreme Committee for Delivery and Legacy/AFP

Tite e a comissão técnica já ensaiaram e pensaram em tudo. Conhecem todos os detalhes da seleção e dos adversários. O problema é que, no futebol e na vida, ocorre, com frequência, o inesperado, que necessita de respostas imediatas, geralmente inseguras e não programadas. Um tiro no escuro.

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