Quando quero me sentir importante, digo que joguei ao lado de Pelé. Quando quero ficar ainda mais metido, conto que, durante a partida contra a Inglaterra, na Copa de 1970, eu disse a ele: "Mude de lugar, pois você está muito marcado". Ele me olhou como se eu fosse o rei e ele, o súdito, e trocou de lado. Força, Pelé! Salve o Rei.
O Brasil deu show no primeiro tempo, facilitado pelos dois gols no início, que desestruturam o sistema defensivo da Coreia do Sul, o que gerou enormes espaços na defesa, como gostam os jogadores rápidos e dribladores. Raphinha e Vinicius Junior bailaram, sem precisar da ajuda dos laterais (Militão e Danilo). O conceito de que time com pontas velozes e hábeis não precisa da ajuda de laterais é relativo. Contra a Croácia, isso pode ser necessário. A volta de Alex Sandro será importante.
Neymar tocou mais a bola e driblou menos. Foi por mudança técnica, o que é bom, ou foi por insegurança, por causa da contusão?
França e Inglaterra devem fazer um jogo equilibrado. São duas fortes seleções, no coletivo e no individual. De um lado, Mbappé, que une força física, velocidade e uma excepcional técnica. Do outro, Kane, que junta lucidez, inteligência coletiva e a apurada técnica de um grande centroavante. As duas seleções possuem o mesmo desenho tático, com quatro defensores, três no meio e três no ataque, além de terem pontas rápidos e dribladores, como os do Brasil.
Griezmann, que sempre foi um meia ofensivo, tem jogado como um meio-campista, de uma intermediária à outra. Quando o time perde a bola, a França forma uma linha de quatro no meio-campo, com o ponta direita Dembélé, que volta para marcar, o volante Tchouaméni, Griezmann e o outro volante, Rabiot, que se desloca para a esquerda, para proteger o lateral, já que Mbappé retorna só até o meio-campo. Às vezes, a França deixa todo o caminho para o lateral adversário como uma isca, para contra-atacar com Mbappé.
Argentina e Holanda devem fazer também um jogo equilibrado. A diferença é Messi. A Copa do Mundo é muito importante para todos os jogadores, mais ainda para Messi, que, como Pelé na Copa de 1970, quer se despedir da seleção com uma grande atuação e com o título mundial.
A retranca de Marrocos, com nove jogadores perto da área, bem distribuídos, anulou o ataque da Espanha, sem um excelente atacante e com excesso de passes curtos e laterais. Cada equipe só teve uma chance clara de gol nos 120 minutos. Nos pênaltis, Marrocos eliminou a Espanha.
Portugal, que fez 6 a 1 na Suíça, que tinha uma boa defesa, vai enfrentar Marrocos, a surpresa entre as seleções que estão nas quartas de final. Portugal fez uma exibição de gala. O time, que possui excelentes jogadores, como Bernardo Silva, Bruno Fernandes e tantos outros, confirma que é um forte candidato ao título.
A equipe mostra que não é necessário ter sempre pontas hábeis e velozes, como Brasil, França e Inglaterra, pois joga com quatro meias de muita habilidade (Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix e Otávio), com um volante atrás e com um centroavante à frente dos quatro, Gonçalo Ramos, que barrou Cristiano Ronaldo. As verdades são relativas. Mesmo assim, não será fácil furar a retranca de Marrocos.
O futebol, na Copa, mistura passado e presente e flerta com o futuro. O passado é importante, mas só faz sonhar quando movimenta e agita o presente.
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