Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu Rússia

Acordo entre Ucrânia e Rússia alivia preço, mas 'apocalipse de calor' preocupa

Países da União Europeia têm queda de produção prevista devido à pior seca dos últimos 70 anos na região

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A pressão maior dos preços das commodities agrícolas passou, e os valores atuais estão bem distantes dos do pico registrado há algumas semanas.

A queda ocorre por fatores externos à agricultura, que ainda tem uma série de problemas para serem resolvidos durante esta safra 2022/23.

A queda dos preços dos produtos agrícolas já vinha ocorrendo devido a fatores macroeconômicos, que podem levar a economia mundial a uma recessão. O acordo para a liberação de produtos da Ucrânia, embora já colocado em xeque devido a ataques russos a portos ucranianos, pode inibir, por ora, novas altas.

Colheita de trigo em um campo no assentamento de Sredniy na região de Stavropol, na Rússia
Colheita de trigo em um campo no assentamento de Sredniy na região de Stavropol, na Rússia - Eduard Korniyenko - 7.jul.2016/Reuters

A menor preocupação com a falta de alimentos vai sustentar os preços mais acomodados. Da parte agrícola, no entanto, não é apenas a Ucrânia que dá desequilíbrio à oferta de alimentos, mas uma série de outros fatores.

Os estoques mundiais estão em 583 milhões de toneladas, os menores em sete anos. A relação com o consumo, que é de 2,28 bilhões de toneladas, cai para 26% nesta safra 2022/23. Essa recomposição pode ser dificultada pelo chamado "apocalipse de calor" que afeta boa parte do planeta.

Alguns países da União Europeia, como Itália, França, Portugal e Espanha, já têm queda de produção prevista devido à pior seca dos últimos 70 anos na região.

Dados de institutos de acompanhamento do clima indicam que 46% da União Europeia estão com nível de alerta de seca. Em 11% dessa região, o alerta é de nível alto.

Outros grandes produtores, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e países da América do Sul, também registram ondas de calor.

O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) deverá rever o potencial de produtividade das lavouras do país no próximo mês. Um eventual corte vai derrubar ainda mais os estoques de commodities dos americanos, que já estão baixos.

Os EUA, assim como o Brasil, são importantes fornecedores mundiais de soja e de milho. Os americanos fornecem ainda trigo. Neste ano, porém, terão uma safra do cereal 7% inferior à média dos últimos cinco anos.

Uma participação menor de Brasil e EUA no mercado mundial de grãos reduz o equilíbrio mundial. O Brasil teve, neste ano, uma produção de soja 20 milhões de toneladas inferior ao potencial previsto. No ano passado, a queda havia ocorrido no milho.

O acordo de liberação dos estoques ucranianos por 120 dias, se cumprido, pode aliviar um pouco o mercado, principalmente em países do Norte da África e do Sul da Ásia.

Os estragos da guerra, porém, vão persistir. A safra de grãos dos ucranianos atingiu 105 milhões de toneladas em 2021/22. A de 2022/23 deverá recuar para 60 milhões de toneladas, segundo o governo. Analistas de mercado preveem um volume ainda menor.

Os ucranianos são fortes nas exportações de trigo, milho e óleos vegetais, principalmente o vindo do girassol.

Esperava-se uma dificuldade maior no abastecimento mundial de insumos agrícolas nesta safra 2022/23. Não houve falta de produtos, mas os preços dispararam.

Para os produtores da Ucrânia, o cenário é pior. Além dos custos, a entrega do produto no país foi interrompida, e as incertezas trazidas pela guerra inibem o plantio.

Com tantas dificuldades, as estimativas mais pessimistas indicam uma redução de até 75% na área plantada na Ucrânia. Isso limita em muito a presença do país no mercado externo no próximo ano.

Estimativas do Usda indicam que o potencial de exportação de trigo da Ucrânia cairá para apenas 10 milhões de toneladas na safra 2022/23, bem abaixo dos 17 milhões do período 2021/22, que já foi afetado pela guerra.

União Europeia, EUA e Canadá, importantes fornecedores mundiais de trigo, também terão redução na oferta, devido à seca.

Já a Rússia, com boas condições das lavouras, vai elevar as exportações para 40 milhões de toneladas. A Crimeia também coloca mais trigo no mercado externo. Sai de 8.000 para 500 mil toneladas.

Análises de consultorias indicam que esse aumento é possível porque o cereal teria saído roubado da Ucrânia.

Após a disparada de preços devido à guerra da Ucrânia e da Rússia, os preços das commodities recuam. O trigo, o produto mais afetado neste período, está com valores 41% inferiores ao pico registrado durante o conflito. Milho e óleo de soja caíram 26%, enquanto leite e soja ficaram 18% e 16% mais baratos, respectivamente, em relação aos valores mais altos registrados desde fevereiro.

Além dos fatores geopolíticos, que dificultam produção e trânsito dos alimentos, o pesadelo das secas atormenta cada vez mais. Elas estão mais fortes, mais duradouras e mais devastadoras.

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