Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Índia reduz exportações, e preço do arroz deve subir para o consumidor

Lado positivo é que área plantada no Brasil deve voltar a crescer, diz consultor

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Restrições indianas nas exportações de arroz e a guerra entre Rússia e Ucrânia afetam o mercado internacional do cereal, com reflexo nos preços para os consumidores. A boa notícia é que o Brasil deverá ampliar a área de produção.

Após muitos anos perdendo área de plantio para a soja, o arroz poderá recuperar até 150 mil hectares nas lavouras brasileiras da safra 2023/24, de acordo com Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

"O aumento de área elevará em até 1 milhão de toneladas a produção brasileira, o que dá maior fôlego para as exportações e para a oferta interna", diz ele.

Agricultor durante colheita de arroz nos subúrbios de Srinagar, na Índia; país é o maior exportador do cereal no mundo
Agricultor durante colheita de arroz nos subúrbios de Srinagar, na Índia; país é o maior exportador do cereal no mundo - Tauseef Mustafa - 2.jun.23/AFP

A limitação das exportações indianas ocorre em um período de menor oferta de arroz em várias das principais regiões produtoras, devido aos recentes efeitos climáticos.

Índia, China, Tailândia, Vietnã e países do Mercosul —estes tradicionais fornecedores do Brasil— reduziram a produção na safra 2022/23. Com isso, a oferta global do cereal vai ser menor.

A Brandalizze Consulting estima uma produção mundial de 510 milhões de toneladas, abaixo da demanda de 525 milhões. Esse déficit de 15 milhões de toneladas ocorre após uma oferta menor do que o consumo também na safra anterior.

A interferência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia se dá porque arroz e trigo são os cereais mais consumidos, e a redução de oferta de um impulsiona os preços do outro. Com restrições de oferta de países exportadores, os preços se aquecem ainda mais, de acordo com Brandalizze.

A redução de produção de trigo na Ucrânia e o fim do corredor de exportação entre os dois países pelo mar Negro, rompido pela Rússia, aceleram ainda mais a demanda por arroz.

Para Brandalizze, tanto Índia como China vão afetar o mercado mundial nesta safra. Os indianos são os maiores exportadores e ficam com 40% do mercado internacional de arroz.

Os chineses, embora sejam os maiores produtores mundiais do cereal, também são os maiores consumidores e vão importar próximo de 10 milhões de toneladas, aquecendo ainda mais o mercado mundial.

A produção da China, afetada pelo clima, deverá ficar entre 225 milhões e 230 milhões de toneladas do produto base casca, mas o consumo atingirá 240 milhões, afirma o consultor.

A Índia, com produção de 130 milhões de toneladas, mesmo com a redução das exportações, deverá zerar seus estoques internos. O governo indiano impôs restrições às vendas externas de arroz para evitar novas altas internas de preço.

Essa mudança no cenário mundial abre portas para uma elevação das exportações brasileiras, diz Brandalizze. Ele estima que o país coloque até 1,7 milhão de toneladas de arroz no mercado externo. Até junho, o volume foi de 1 milhão.

Os preços internacionais do cereal sobem, e o custo vai chegar ao prato dos brasileiros, assim como no dos consumidores de outros países. Para o consultor, 2024 será um período de preços mais firmes tanto para arroz como para trigo.

O preço do arroz no Mercosul, com base no produto consumido no Brasil, está entre US$ 510 e US$ 560 por tonelada para o cereal beneficiado. Na Tailândia, a segunda maior exportadora mundial e que detém 15% da comercialização internacional, a tonelada já chega a US$ 600.

"Após as restrições da Índia, os exportadores sumiram", afirma Brandalizze. Para ele, Vietnã, Tailândia e Paquistão deverão aumentar a participação no mercado internacional, inclusive no Oriente Médio e na África.

O Brasil também conseguirá um espaço maior no cenário internacional. A elevação da produção de arroz, portanto, é importante para que o país tenha fôlego no mercado externo, sem deixar desabastecido o interno, afirma Brandalizze.

O consultor estima uma alta de 10% na produção da próxima safra brasileira. O preço do cereal está favorável, e o dos insumos caiu nos últimos meses. "Será uma oportunidade para o produtor", afirma.

A produção brasileira de arroz atingiu o menor patamar dos últimos 25 anos. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil produziu 10 milhões de toneladas em 2022/23, deverá consumir 10,3 milhões, importar 1,3 milhão e exportar 1,5 milhão.

O preço da saca do cereal em casca voltou a subir e fechou esta segunda (24) a R$ 85,37 no Rio Grande do Sul. Há um ano estava em R$ 77,21, segundo acompanhamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Trigo dispara após novo ataque russo

Após sair do acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos pelo mar Negro, a Rússia atacou, nesta segunda (24), estruturas portuárias ucranianas de saída de grãos pelo rio Danúbio.

O objetivo é o estrangulamento das exportações de grãos dos ucranianos para a Europa, um dos principais mercados da Ucrânia após a invasão da Rússia ao território da Ucrânia. A reação do mercado de commodities foi imediata.

O contrato de setembro de comercialização do trigo, um dos principais produtos de exportação da Ucrânia, subiu para US$ 7,68 por bushel (27,2 kg) na Bolsa de Chicago, com alta de 8,6%. O primeiro contrato do milho, outro produto importante na pauta de exportações de grãos da Ucrânia, subiu para US$ 5,60, alta de 6,4%.

Até a soja, devido às dificuldades que os ucranianos terão com as exportações de girassol e derivados, subiu, 1,7%, no contrato de setembro.

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