Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Brasil e Argentina reduzem dependência de importações dos EUA

Compra brasileira de alimentos caiu 65% em duas décadas; e a argentina recuou 46%

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Nas últimas duas décadas, o Brasil saiu de um estágio de estagnação na produção agropecuária, ganhou mercado externo e se aproximou de líderes como Estados Unidos e Argentina.

Os brasileiros iniciaram os anos 2000 com exportações totais do agronegócio de US$ 21 bilhões (R$ 103,95 bilhões), 37% das receitas recebidas pelos americanos no período. No ano passado, as exportações brasileiras, ao atingirem US$ 167 bilhões (R$ 826,65 bilhões), representaram 95% do que os americanos exportaram. Desde 2000, as exportações dos Estados Unidos cresceram 213%, em receitas, e as do Brasil tiveram evolução de 711%.

Caminhão e máquina agrícola em plantação
Caminhão e máquina agrícola em plantação - Reuters

Uma grande diferença entre os dois países são as importações. Os americanos tiveram evolução em novos mercados agropecuários, mas sempre mantiveram as portas abertas para as compras externas. Em 2000, as importações de produtos relacionados à agropecuária feitas pelos Estados Unidos somavam 76% do valor exportado. Em 2023, superaram em 2% as exportações. No Brasil, a participação das importações é restrita.

A Argentina também vem obtendo grande evolução, mas em ritmo menor do que o do Brasil. O comércio exterior da Argentina e dos Estados Unidos foi afetado, em 2023, por clima e retração nas exportações. Isso permitiu que o Brasil roubasse a posição argentina de maior exportadora de farelo de soja, e a de milho dos Estados Unidos.

O aumento de produção nas duas últimas décadas na América do Sul diminuiu a dependência de Brasil e Argentina dos Estados Unidos. As vendas externas de alimentos dos americanos para os brasileiros recuaram 65% na última década; para os argentinos, a queda foi de 46%.

Os três ganharam muito espaço na soja, um dos produtos de maior demanda externa nos anos recentes. Os Estados Unidos e a Argentina estão praticamente com a capacidade de produção da oleaginosa definida, sem possibilidades de grandes avanços, enquanto o potencial brasileiro é maior.

As exportações brasileiras de soja somaram 102 milhões de toneladas no ano passado; as americanas, 57 milhões, e as argentinas, com a quebra de safra, apenas 2 milhões, bem abaixo dos 6 milhões de 2022.

O Brasil teve grande avanço também no milho, cereal dominado pelos americanos no mercado externo. Conforme os dados consolidados de 2023, divulgados pelo governo na semana passada, os Estados Unidos colocaram 45,6 milhões de toneladas do cereal no mercado externo. O Brasil exportou 55,9 milhões, e a Argentina, 24 milhões, segundo os órgãos de comércio exterior dos dois países.

O quadro deste ano, porém, volta a ficar desfavorável para o Brasil. Os brasileiros deverão ter redução de safra do cereal e potencial menor de exportação, assim como ocorreu com americanos e argentinos em 2023. Estados Unidos e Argentina voltam ao mercado externo com volumes próximos aos de 2022, que foram de 58 milhões e 36 milhões de toneladas, respectivamente.

O Brasil passou a participar também do mercado externo de trigo, importando menos e exportando mais, embora com volumes ainda bem distantes dos de Estados Unidos e Argentina. No ano passado, as exportações brasileiras somaram 2,4 milhões de toneladas, abaixo dos 3,1 milhões de 2022, quando a produção nacional havia sido recorde.

O avanço da produção e da moagem interna de soja, principalmente com o aumento do percentual do biodiesel ao diesel, permitiu que as exportações brasileiras de farelo de soja somassem 22,5 milhões de toneladas no ano passado, acima dos volumes de 16,2 milhões da Argentina e dos 14,1 milhões dos Estados Unidos.

As perspectivas de aumento do ritmo da mistura de biodiesel ao diesel, se confirmadas, vão dar fôlego à produção e à moagem de soja, sobrando mais farelo para exportações.

O Brasil avançou muito também nas vendas externas de carnes. Já os Estados Unidos mantiveram estáveis as exportações de carne bovina em 1,3 milhão de toneladas, mas ampliaram as de carnes de frango e suína nas duas últimas décadas. Na carne suína, elevaram as exportações em 395% no período.

No setor de proteínas, o Brasil ganhou destaque nas duas últimas décadas e assumiu a liderança nas carnes bovina e de frango, elevando também a participação na suína. Os dados mais recentes da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicam exportações totais de 8 milhões de toneladas nesse setor, com receitas de US$ 21,4 bilhões (R$ 105,93 bilhões) no ano passado.

Embora haja uma concorrência no setor de grãos, em vários outros produtos o Brasil não é ameaçado por Estados Unidos e Argentina, mantendo uma liderança mundial constante em café, açúcar e suco.

Em alguns setores, no entanto, o Brasil fica para trás e está longe dos patamares atingidos pelos concorrentes. Um deles é o de lácteos, no qual o país perde chances de participar mais do mercado externo.

Os americanos ampliaram em 332% as vendas de produtos lácteos de 2000 a 2023, com avanço de 727% nas receitas. Em 2023, foram 2,63 milhões de toneladas, com receitas de US$ 8 bilhões (R$ 39,6 bilhões).

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