Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Biden quer gastar trilhões para fazer maior mudança nos EUA em 40 anos

Presidente quer trilhões para mudança desenvolvimentista, a maior em 40 anos

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Joe Biden tem planos de mudar a economia e a política americanas de um modo que não se via faz uns 40 anos. Mesmo que dê certo, não será reviravolta tão grande quanto a conduzida por Ronald Reagan, até porque o presidente dos EUA teria de recuperar décadas de terreno perdido para o extremismo de mercado e para a extrema direita. Mas não é pouca porcaria.

Do que se trata? De um programa nacional-desenvolvimentista, para resumir a coisa de modo sarcástico, mas não muito. Biden lançou na semana passada o Plano de Empregos Americanos, um projeto de gastar US$ 250 bilhões em cada um dos próximos oito anos, um total de US$ 2 trilhões (o PIB do Brasil é algo perto de US$ 1,6 trilhão).

No mês passado, o Congresso já aprovara o pacote de Biden para combater o desastre econômico da epidemia e suas consequências sociais duradouras, uma despesa de US$ 1,9 trilhão em um ano.

Ainda virá um plano de US$ 1 trilhão para infância, saúde e educação, despesa a ser bancada por aumento de impostos sobre renda, ganhos de capital e patrimônio de ricos.

Os objetivos principais do Plano de Empregos Americanos são, óbvio, criar empregos, reconstruir a infraestrutura e enfrentar “os grandes desafios de nosso tempo”: a crise do clima e as “ambições de uma China autocrática”, como se lê no texto oficial de divulgação do projeto. Há apoio explícito à organização dos trabalhadores, direito derrotado até na Justiça e decadente faz décadas, um motivo do aumento da desigualdade nos EUA.

O plano faz um grande elogio ao investimento público, que caiu mais de 40% desde os anos 1960, quando o governo federal investia maciçamente em estradas, por exemplo, e na corrida espacial, financiamento pesado de ciência, tecnologia e da indústria americana. Outro objetivo claro é evitar que empresas exportem empregos e lucros a fim de pagar menos impostos, que recorram a paraísos fiscais ou se beneficiem de algum modo da desterritorialização dos negócios. Biden tem batido na Amazon. Diz que seu plano é o começo do combate à evasão fiscal internacional, para o que quer cooperação dos aliados.

O plano seria financiado por aumento do imposto sobre empresas. Sob Donald Trump, a alíquota caiu ao nível mais baixo desde a Segunda Guerra. Também viria muito dinheiro do corte de benefícios para multinacionais e para combustíveis fósseis. O aumento da tributação seria suave, dividido em parcelas pelos próximos 15 anos.

Os gastos principais seriam em estradas, pontes, aeroportos, portos, transporte público e veículos elétricos. Em “habitação verde”, escolas e serviços de eletricidade e água. Notem bem, haveria subsídios para a indústria, para pesquisa e desenvolvimento, internet rápida e qualificação profissional.
É uma ofensiva em várias frentes. Trata-se de evitar que os EUA fiquem para trás em tecnologia.

Pretende-se auxiliar comunidades prejudicadas pela desindustrialização e pela globalização, um público em parte trumpista. Procura-se melhorar a vida de trabalhadores em saúde e assistência social (muita vez mulheres negras), de idosos e deficientes, de ex-combatentes; reformar escolas e creches.

As maiores associações empresarias são, claro, contra o aumento de impostos, mas não declararam guerra à Biden. Querem “negociar”.

Seja como for, Biden tenta arrancar raízes do trumpismo e planeja mudança que pode ter impacto grande na política, dos EUA e do mundo, nas ideias econômicas práticas e na imagem que se tem hoje do Estado.

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