Descrição de chapéu Financial Times

Biden divulga plano de infraestrutura de US$ 2 trilhões e grande aumento de impostos corporativos

Presidente o chamou de maior programa de investimento desde a criação do sistema de rodovias interestaduais e da corrida espacial

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James Politi
Washington | Financial Times

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, revelou seu plano de aplicar US$ 2 trilhões em verbas do governo em infraestrutura juntamente com US$ 2 trilhões em aumentos de impostos corporativos, como primeira etapa de uma iniciativa de vários trilhões de dólares para reformar a maior economia do mundo.

O presidente fez o anúncio em Pittsburgh, na Pensilvânia, na quarta-feira (31), chamando-o de o maior programa de investimento público desde a criação do sistema de rodovias interestaduais e da corrida espacial nos anos 1960.

"Ele vai criar a economia mais forte e resiliente do mundo. Não é um plano que mexe nas bordas", disse Biden, acrescentando: "Ele não pretende atingir os que deram certo, não busca retaliação. Tem a ver com abrir oportunidades para todos os outros".

Biden fala sobre o pacote de US$ 2 trilhões para infraestrutura durante evento em Pittsburgh, na Pensilvânia - Jonathan Ernst - 31.mar.2021/Reuters

A proposta de investimento surge poucas semanas depois de o Congresso americano ter aprovado um plano de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão para "religar" a economia dos EUA, arrasada pela pandemia. Ela deverá passar por semanas de discussões delicadas no Capitólio, onde os democratas detêm maiorias estreitas nas duas casas do Congresso.

Se aprovada, representará uma aposta elevada da Casa Branca de que uma injeção duradoura de verbas do governo, financiada por impostos mais altos para as empresas, reforçará a economia que emerge da crise do coronavírus, em vez de enfraquecê-la, como afirmam os republicanos.

Biden disse que o plano também vai melhorar a situação dos Estados Unidos no mundo: "[Ele] vai promover nosso interesse de segurança nacional e nos colocará em posição de ganhar a concorrência global com a China nos próximos anos. É grande, sim. É ousado, sim, e podemos realizá-lo".

O plano reserva até US$ 621 bilhões em verbas para reformas de infraestrutura tradicional, como estradas, pontes, redes de transporte público, veículos elétricos e pólos vitais como portos e aeroportos.

Ele também tentará dirigir os gastos para projetos que ajudem os EUA a mitigar a crise climática, que o governo Biden prometeu atacar de frente, em uma grande diferença do ceticismo do ex-presidente Donald Trump.

Essas propostas incluem US$ 100 bilhões em medidas para modernizar a rede elétrica, créditos fiscais para geração e armazenamento de energia limpa e para tamponar poços órfãos de petróleo e gás —assim como US$ 213 bilhões para fazer casas mais eficientes em consumo de energia e US$ 100 bilhões para fazer o mesmo em escolas públicas.

Enquanto isso, US$ 180 bilhões em fundos serão dirigidos para investimentos em pesquisa e desenvolvimento em áreas como inteligência artificial e biotecnologia, destinadas a melhorar a competitividade com a China. Outros US$ 300 bilhões em verbas do governo serão dedicados a subsídios a indústrias fabris, incluindo ajuda a produtores de chips.

Enquanto apoiadores do plano de Biden afirmam que ele vai corrigir décadas de subinvestimento crônico em bens públicos, o que prejudicou a economia, os críticos temem que os aumentos de impostos corporativos possam prejudicar a competitividade dos EUA.

Biden quer elevar os impostos de empresas de 21% para 28% e obter receitas adicionais por meio de um imposto mínimo global de 21%, calculado em base país por país, "para que atinja os lucros em paraísos fiscais", segundo a Casa Branca. O presidente também quer eliminar a isenção de impostos para empresas nos primeiros 10% de ganhos produzidos internacionalmente e abolir as preferências fiscais para produtores de combustíveis fósseis.

O presidente destacou duas vezes a empresa Amazon como uma das grandes companhias americanas que "usam várias brechas legais para não pagar um único centavo em imposto de renda federal".

Ele acrescentou: "Não quero puni-las, mas isso é simplesmente errado... Vou acabar com isso".

Mesmo antes de Biden divulgar seu plano, a Mesa-Redonda de Empresas, que representa as maiores companhias negociadas em Bolsa em Washington, atacaram os aumentos de impostos do plano.

Neil Bradley, principal autoridade de políticas na Câmara do Comércio dos EUA, disse na quarta que enquanto favorece um pacote de infraestrutura "grande e ousado", os impostos corporativos eram "perigosamente mal orientados" e "reduziriam o ritmo da recuperação econômica e tornariam os EUA menos competitivos globalmente —o oposto exato dos objetivos do plano de infraestrutura".

Os sindicatos aprovaram as medidas. "Joe Biden compreende que precisamos crescer, e esse anúncio nos aproxima um pouco de entregar as mudanças agressivas de que precisamos para reconstruir nosso país", tuitou a AFL-CIO, maior federação sindical dos Estados Unidos.

A proposta de gastos de Biden deverá durar cerca de oito anos, enquanto os aumentos de impostos corporativos deverão ser escalonados em 15 anos, além da janela tradicional de orçamento do governo, de dez anos, implicando que o plano aumentará o deficit dos EUA durante esse tempo.

Apesar do alto preço do pacote de infraestrutura de Biden, a Casa Branca deverá nas próximas semanas completar seu plano de investimentos com um conjunto adicional de medidas de gastos para "cuidados de crianças, saúde [e] educação" que provavelmente passará de US$ 1 trilhão, elevando o total a mais de US$ 3 trilhões.

O segundo pacote deverá ser acompanhado de aumentos de impostos para indivíduos ricos, inclusive sobre a renda, ganhos de capital e propriedades.

Enquanto se prepara para iniciar as negociações com o Congresso sobre os dois pacotes, Biden enfrenta pressões concorrentes em seu Partido Democrata. Alexandria Ocasio-Cortez, deputada por Nova York, disse que o plano de infraestrutura de US$ 2 trilhões "não é suficiente" e defendeu uma quantia maior.

Mas outros democratas temem que os aumentos de gastos e impostos sejam excessivos, e alguns pediram a rejeição de um limite de deduções para impostos estaduais e municipais, o que representaria um corte fiscal.

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