Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros

Dólar de Bolsonaro envenenou a economia e volta a subir

Real foi moeda que mais perdeu valor no mundo da Covid e não vale tão pouco desde 2003

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O dólar voltou a morar na casa dos R$ 5,70. A continuar por aí, dezembro seria o mês mais Bolsocaro da moeda americana desde o início da epidemia, em termos nominais (sem descontar a inflação). Em termos reais, seria o quarto dólar mais salgado dos anos bolsonarianos.

Essa é mais uma cortesia do programa Bolsonaro-Guedes de destruição da economia nacional, que conta também com os préstimos do centrão. Não teremos a ajuda habitual da valorização do real para conter a inflação. Pelo menos, no mínimo, não antes de meados do ano que vem. Até lá, o estrago da taxa de juros já terá sido feito.

Como sabe qualquer leitora de jornais, dólar caro é adubo para a inflação, entre outros problemas mais enrolados. É a grande contribuição de Jair Bolsonaro e seus cúmplices para a carestia. Sim, o choque de preços é mundial, mas essa gente no poder colocou um abacaxi em cima do bolo inflacionário internacional, não apenas uma cereja podre.

Cartazes na Avenida Paulista com críticas ao presidente Jair Bolsonaro - Marlene Bergamo - 2.mar.2021/Folhapress

A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou desde o início de fevereiro de 2020, desde o início da epidemia (entre as 38 acompanhadas pelo FMI, todas as de alguma relevância). O dólar ficou 35,5% mais caro ante o real (na média de dezembro deste ano em relação à de janeiro de 2020). Em segundo lugar, vem o sol peruano (22,4%). Em terceiro, o rublo russo (19,1%). O dólar ficou 12,4% mais caro que o peso mexicano, em oitavo lugar.

O problema poderia ter sido amainado. Em junho deste ano, o dólar chegou a custar, na média, R$ 5,03. Desde então, com a ajuda de um crescendo de atrocidades políticas e oportunismo econômico eleitoreiro cretino, o real voltou a se desvalorizar. Foram os meses da campanha golpista que culminou em setembro, substituída pelo golpe fiscal, o chute no pau da barraca do teto de gastos e outras incompetências.

O real não andava tão desvalorizado desde aqueles meses entre a campanha eleitoral de 2002 e meados de 2003, no primeiro ano do governo Lula 1. Então, os donos do dinheiro achavam que seriam desapropriados, entre outros pânicos tolos ou picaretagens. Não imaginavam que encheriam os bolsos com empréstimos subsidiados para fusões, aquisições e melhorias de perfil de dívida e capital, fora favores tributários e proteções tarifárias.

O real perdeu valor também quando se considera uma medida mais precisa da taxa de câmbio, que leva em conta o peso ponderado das moedas de países com os quais o Brasil comercia e as respectivas inflações deles. É a taxa de câmbio real efetiva.

Em suma, o real não vale nada. As perspectivas não são boas.

Os Estados Unidos vão começar a aumentar sua taxa básica de juros em 2022. Essa alta não deve ser grande coisa, mas, tudo mais constante, é mais um empecilho para o dólar descer das alturas. Note-se que, mesmo com a Selic saltando de 2% para 9,25% em nove meses, não houve refresco para o real. Os donos do dinheiro lá fora, brasileiros ou estrangeiros, não aplicam no mercado financeiro daqui.

Exportadores preferem deixar o faturamento de suas vendas estacionado no exterior, mesmo com o real baratinho —isto é também medo.

O ano que vem é de campanha eleitoral. A depender do nível de inconsequência, despropósito ou ignorância daquilo que os candidatos vão dizer, o dólar pode dar outro salto. No que diz respeito a questões domésticas, o problema central é o que vai ser feito da dívida pública nos próximos anos (quanto vai crescer, sem ou com limite, o que depende de quanto o governo vai gastar e de quanto vai ser capaz de restabelecer algum crescimento econômico).

Para lembrar: em dezembro de 2018, pouco antes da posse possuída de Bolsonaro, o dólar estava a R$ 3,89. No janeiro de 2020 antes da epidemia, a R$ 4,15.

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