Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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A Enel e a fiscalização pífia das empresas privadas

CPIs, agências reguladoras e outras instituições de controle rendem quase nada

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No domingo à noite, parado em um sinal da Faria Lima, vejam só, o passageiro do carro ao lado abre o vidro para perguntar se havia um posto de combustível por ali. Sim, pertinho. Não estavam sem gasolina. Precisavam de diesel para um gerador, pois estavam sem eletricidade na pequena empresa deles. "Prejuízo feio, tudo estragando", disseram.

Que pobreza. E a gente mal fala dos oito mortos. Que desgraça.

São histórias banais, pois comuns de milhões de pessoas e comércios que tiveram transtornos diversos e prejuízos, sem eletricidade. Sem luz talvez fiquemos por mais tempo.

O descalabro causou a revolta sabida e "barata avoa" em governos e instituições oficiais. Até o um tanto incógnito prefeito de São Paulo apareceu. Todo mundo quer mostrar serviço, até que (quase) todo mundo se esqueça deste fracasso.

Há uma CPI da Enel na Assembleia; os vereadores querem criar a deles. Os bolsonaristas do B de São Paulo aproveitam o furdunço para fritar a privatização da Sabesp de Tarcísio de Freitas, governador paulista e bolsonarista.

Então a gente se lembra da CPI das Americanas, da fraude de dezenas de bilhões de reais, ação de uma quadrilha que, entre outras imundícies, jogou milhares de trabalhadores na rua. Deu em nada. Lembra-se das multinhas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Do centrão aboletado em diretorias das agências reguladoras, embora técnicos ainda tentem fazer o seu trabalho.

A fiscalização de empresas é uma piada.

Não se sabe quem são os responsáveis pelo apagão paulista. Por ora, talvez para sempre, há apenas algazarra e chutes.

A Enel apregoa seus investimentos, que aumentaram. Pelos balanços, foram de R$ 763 milhões em média, de 2013 a 2017, quando ainda Eletropaulo Metropolitana. De 2018 a 2022, já Enel, a média foi de R$ 1,34 bilhão. Comparando com a média do biênio 2016-2017 e dada a inflação, não foi lá grande aumento. No biênio de 2021-2022, o investimento médio foi de significativo R$ 1,7 bilhão, porém.

E daí? Não sabemos se foi pouco, dados o contrato, necessidades de expansão, reforma, modernização. Um especialista teria de estudar o assunto por semanas.

Em 2022, a Enel SP ficou em um pífio 19º lugar no ranking nacional do indicador de tempo e frequência de interrupção de energia (Desempenho Global de Continuidade, DGC), entre 29 posições. A empresa já foi pavorosamente pior, entre 2015 e 2017, e pior em 2020. Ora tem um nível de DGC parecido com o de 2013. O número de reclamações por interrupção de energia cresceu muito em relação à média 2016-2019.

Desde 2018, a distância do indicador DGC da Enel para a empresa líder do ranking pouco mudou, proporcionalmente. Os números são da Aneel; conclusões, deste jornalista.

A companhia é Enel desde 2018, uns cinco anos. Desde os anos 1980, os comunistas da China fazem planos quinquenais que dão certo, ao menos em avanço do PIB e da tecnologia. Ah, a ironia.

O que apenas tais números dizem sobre a responsabilidade da empresa no apagão? Não dá para dizer.

Funcionários? Não é possível, economicamente viável, manter equipes permanentes em quantidade bastante para lidar com situações críticas extremas e raras. Mas quanta reserva para riscos maiores tem a Enel? Existem cálculos de risco e planos? Alguém fiscaliza?

Está em tempo. Vai chover muito até março, talvez bem mais do que o habitual, por causa do El Niño.

Quem é responsável pelo estado porco da fiação elétrica de São Paulo? Pelas tantas árvores imensas e caindo de podres, matando e causando prejuízo? Vez e outra, morre gente eletrocutada por causa de fios podres soltos. Quem empurrou com a barriga, ou coisa pior, o plano de enterrar os fios? É um conluio público-privado de inépcia e incúria?

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