Grande SP tem 30,2 mil imóveis às escuras no 5º dia de apagão; mortes no estado chegam a 8

Enel afirma que vai restabelecer fornecimento de energia 'para quase todos os afetados' nesta terça (7)

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São Paulo

Cerca de 30,2 mil imóveis na região metropolitana de São Paulo continuavam com o fornecimento de energia elétrica interrompido nesta terça-feira (7), de acordo com atualização feita pela Enel por volta das 20h30. Isso representa 1,43% do total de consumidores afetados, segundo a concessionária.

O apagão, que começou na última sexta (3), quando uma tempestade atingiu a capital paulista, chegou ao 5º dia.

Significa que 30,2 mil imóveis –entre residências e comércios– terminam o segundo dia útil da semana às escuras. Contando com outros imóveis que ficaram sem energia para o religamento da rede, o número sobe para 107 mil. Fato que tem gerado indignação e prejuízo em parte da população.

Funcionários da Enel fazem reparos da fiação na esquina da rua Rouxinol com Gaivota em Moema - Rubens Cavallari - 6.nov.2023/Folhapress

Manifestações de moradores sem energia provocaram interdições na avenida Giovanni Gronchi, na região do Morumbi, entre as zonas oeste e sul de São Paulo, e na rodovia Raposo Tavares, em Cotia, na região metropolitana. Os protestos iniciados à tarde prosseguem na noite desta terça-feira (7).

Um policial militar ficou ferido durante a manifestação na avenida Giovanni Gronchi. De acordo com a PM, ele foi atingido por um disparo de arma de fogo e foi socorrido. Seu estado de saúde não foi informado. A corporação também não informou se o suspeito do disparo foi preso.

Na Giovanni Gronchi, moradores da região colocaram fogo em objetos na pista, o que provocou a interdição da avenida na região do Ladeirão do Morumbi. O protesto chegou a ser dispersado, mas a via voltou a ser fechada no cruzamento com a rua Clementine Brenne.

Na rodovia Raposo Tavares, o DER (Departamento de Estradas e Rodagens) disse que a manifestação começou por volta das 16h, no km 031+500, sentido oeste, em Cotia.

Por volta das 19h30 havia interdição de uma faixa de rolamento da via marginal e 5 km de congestionamento.

Por volta das 19h50, um terceiro protesto fechou a pista na altura do número 4.951 da avenida Guarapiranga, na zona sul, de acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Segundo a PM, porém, ele foi dispersado logo depois.

O número de endereços ainda sem energia elétrica, de acordo com a concessionária, é referente a 24 municípios da região metropolitana de São Paulo.

A empresa havia afirmado que normalizaria o fornecimento "para quase a totalidade dos clientes até esta terça, conforme anunciado em reunião com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)".

Segundo a Enel, mais de 3.000 profissionais de empresa estão trabalhando 24 horas nas ruas. "Devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede atingida por queda de árvores de grande porte e galhos, a recuperação ocorre de forma gradual", afirma.

Em todo o estado, o número de domicílios afetados em algum momento após a chuva chegou a 4,2 milhões. Do total, cerca de 500 mil ainda continuavam sem energia no fim da tarde desta segunda (6) –para 3,7 milhões de endereços (88%), a luz já havia voltado.

O cenário culminou em uma reunião, marcada para esta segunda-feira, entre o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Sandoval Feitosa, representantes das distribuidoras de energia e do Executivo paulistano para "discutir ações futuras e medidas preventivas para deixar a rede de distribuição menos vulnerável aos eventos climáticos".

Após a reunião, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) criticou a atuação da Enel na gestão da crise, destacando que prestadores de serviços em outras regiões do estado já tinham restabelecido até 100% da energia aos seus clientes no sábado (4), enquanto a distribuidora que atua na capital ainda não tinha religado a luz para cerca de 300 mil domicílios até a noite de segunda.

Nesta terça-feira (7), Nunes afirmou que não há possibilidade de criar uma taxa à população para o enterramento dos cabos e fios. O enterramento é uma das apostas, de acordo com especialistas, para evitar apagões em dia de tempestades.

À Folha, Nunes disse que a sua declaração sobre a possível taxa foi mal interpretada. "Não terá taxa para aterramento, não existe nenhuma hipótese. Não foi isso que eu disse."

No dia anterior, Nunes havia afirmado que os moradores poderiam aceitar pagar uma "contribuição de melhoria". O posicionamento gerou críticas à gestão.

"O nosso plano é para aqueles que pretendem fazer o aterramento em sua rua, devem apresentar um projeto, e a prefeitura poderá ajudar a custear uma parte", disse Nunes, que não estipulou uma meta a ser paga pela prefeitura em cada caso.

A gestão pretende utilizar recursos da Cosip (Contribuição sobre Iluminação Pública), taxa cobrada na conta de luz em São Paulo, para custear parte do serviço de enterramento. O fundo de iluminação para as obras está em R$ 200 milhões. Já o gasto para o enterramento somente na região central é estimado em R$ 20 bilhões.

A cidade enterrou 60 quilômetros até o momento e pretende passar dos 80 quilômetros até o ano que vem.

São Paulo tem uma lei que obriga a distribuidora a enterrar seus cabos, mas é judicialmente impedida de aplicar a regra. Como a concessão do serviço é federal, as prestadoras se apoiam em decisão judicial de 2015 que as desobriga de cumprir a determinação municipal, explicou Nunes.

A prefeitura também vem cobrando a Enel, segundo o prefeito, desde 2020 para que pode 3.690 árvores. A concessionária tem convênio com o poder público para remover árvores que alcançam a fiação.

Mortes no estado pelas chuvas chegam a 8

O temporal que alçou ao caos a maior cidade do país teve ventos que chegaram a 100 km/h. Agentes da administração ainda trabalham para reparar os danos.

Nesta terça (7), o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil confirmaram a oitava morte em decorrência das chuvas no estado: uma pessoa que foi atingida por uma árvore na sexta-feira (3) em Ibiúna, estava internada e não resistiu.

A Secretaria de Estado da Educação afirma que 25 escolas estaduais continuam sem fornecimento de energia. São 14 unidades na capital e 11 no interior do estado. Em 14 escolas as aulas ocorrem de forma remota.

Em nota nesta terça-feira, a Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo) afirmou que o apagão provocou um prejuízo de R$ 500 milhões a bares, hotéis e restaurantes paulistas.

"Estimamos de três a quatro meses para o setor se recuperar dos prejuízos causados pela falta de energia elétrica ao longo dos últimos dias, não só pelos estoques de produtos perecíveis perdidos, mas, também, pelo lucro cessante, ou seja, valores que as empresas deixaram de lucrar nesse período", afirmou Edson Pinto. diretor-executivo da entidade.

Na segunda, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) já havia estimado prejuízo do comércio na Grande São Paulo em R$ 126 milhões devido à falta de energia desde a última sexta.

A estimativa do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP é baseada no volume movimentado diariamente na cidade de São Paulo e na região metropolitana.

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