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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Apoios de segundo turno garantem a eleição?

Na dúvida, melhor buscar laços do que os deixar para o concorrente

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Cláudio Couto

Cientista político, é professor da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), pesquisador do CNPq e produtor do canal/podcast “Fora da Política Não há Salvação”. Pesquisador do FGV Cepesp

Após o primeiro turno da disputa presidencial, os dois finalistas iniciaram a busca por apoios de outros atores políticos, que na primeira etapa das eleições foram adversários diretos ou apoiadores de outras candidaturas. Tais apoios realmente importam para a disputa?

Essa questão ainda merece maiores estudos pela ciência política brasileira, pois não há evidências empíricas que atestem a eficácia das alianças construídas para a rodada de desempate. Mais evidentes que a eficácia dos apoios são as concessões frequentemente feitas para os obter: ajustes programáticos, promessas de cargos num eventual governo, contrapartidas em eleições futuras. Como no segundo turno os competidores dispõem de tempos iguais no horário eleitoral gratuito, sequer ganhos no tempo de TV e rádio vêm junto com as declarações de voto e engajamento.

Montagem com Lula e Bolsonaro, que disputam o 2º turno das eleições - Ernesto Benavides/AFP e André Coelho/Reuters

Sendo tão incertos os ganhos e tão garantidos os custos, por que todos que disputam um segundo turno buscam tal respaldo? Podemos pensar em ao menos duas razões para tal, uma material, outra simbólica.

Materialmente, o engajamento de terceiros interessados pode significar a mobilização também de máquinas político-partidárias ou governamentais. Lideranças que controlam máquinas estatais (como governadores) podem ativar a estrutura de seus governos para trabalhar em prol do apoiado, mobilizar prefeitos e lideranças locais e articular novas fontes de financiamento.

Simbolicamente, o apoiado pode se beneficiar da chancela vinda de um político vitorioso nas urnas ou, ainda que derrotado, capaz de atrair um eleitorado diverso daquele que o apoiado já tem, ampliando seu alcance. Se o apoiador de segundo turno já o era no primeiro, não há acréscimo algum.

O apoio material é mais visível. Pode estar mais disponível caso o apoiador já tenha se elegido; contudo, pode já ter sido desmobilizado ou gasto durante o primeiro turno. Daí pouco resultado trará. Numa eleição em que o apoiador também disputa um segundo turno, pode-se produzir uma sinergia entre ambos, potencializando seu alcance, mais que uma divisão, há uma soma de esforços. Não é trivial apontar qual dessas duas situações é mais vantajosa.

O apoio simbólico é de mais difícil mensuração. Embora institutos de pesquisa costumem perguntar a eleitores se votariam num político apoiado por outro, esse é apenas um dos elementos a afetar a decisão de voto, podendo ser preterido por outros, mais relevantes.

Se o apoiador disputa ou disputou a eleição num nível de governo, mas o apoiado concorre noutro, a eficácia do respaldo é menor, pois o que leva eleitores a escolher certa candidatura para a presidência não é necessariamente a mesma coisa que os faz escolher o candidato a governador. A disparidade entre os votos para presidente e governador num mesmo estado tem comprovado isso historicamente. Veja-se o caso de Minas Gerais, que por anos elegeu simultaneamente presidentes petistas e governadores tucanos.

Já se o apoio vem de candidatos que concorreram com o apoiado no primeiro turno, a eficácia aumenta. Quem votou em alguém para determinado cargo no primeiro turno tem motivos para considerar que o respaldo dado a outro candidato ao mesmo cargo indique alguma convergência no mesmo âmbito político.

Na dúvida, é melhor buscar esses apoios do que os deixar para o concorrente.

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