Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Walter Casagrande Jr.
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Richarlison demonstrou estar pronto para ser um verdadeiro ídolo

Apesar das críticas a Neymar, espero que ele consiga se recuperar a tempo de participar da Copa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Passada a vitória do Brasil por 2 a 0 contra a Sérvia, quis refletir sobre dois jogadores que foram o oposto um do outro. Estou falando de Neymar e Richarlison.

Vou começar pelo camisa 10. Todos sabem que não concordo com nada do que o Neymar fala e faz fora do campo, e também não morro de amores pelo seu futebol, porque não o acho decisivo há anos.

Como pessoa, nunca se preocupou com o seu país. Quando mais se precisou de vozes importantes, ele e a maioria dos jogadores se calaram. Quando morriam milhares de pessoas no Brasil pela Covid e o desgoverno Bolsonaro ignorava vacina e debochava dos doentes, imitando gente com falta de ar, o "ídolo" Neymar nada falou.

Muito pelo contrário, colaborou e foi conivente para trazer uma Copa América "da morte" para o Brasil, recusada pela Argentina e pela Colômbia por causa da pandemia.

A pobreza aumentando e ele ostentando. Declarou voto e apoio ao candidato fascista e golpista, e ainda lhe prometeu gol e camisa da Copa. Não respeita ninguém. Transformou-se numa celebridade, e não num jogador confiável.

Dentro do campo, nunca foi decisivo para a seleção brasileira. Fez o gol da primeira medalha olímpica, mas futebol olímpico é outra modalidade.

Jogou quatro edições de Copa América: 2011, 2015, 2016 e 2021, e não ganhou nenhuma. Portanto, não foi decisivo. Em 2019, quando o Brasil foi campeão, não fez parte do grupo.

Essa é a sua terceira Copa. Em 2014, no Brasil, estava bem, mas sofreu uma entrada maldosa do colombiano Zúñiga, que o tirou do Mundial. Em 2018, foi patético e virou meme com o cai-cai.

Mesmo assim, no Brasil fazem o possível e o impossível para transformá-lo em herói ou mágico da bola, quando ele não é uma coisa nem outra.

Jogou na estreia, contra a Sérvia, com o rótulo de estar em grande fase, o que nunca achei, porque o Campeonato Francês não é parâmetro.

O tempo que ficou em campo jogou muito mal, errando passes e dribles, e dando alguns contra-ataques.
Sofreu muitas faltas, mas a maioria por segurar a bola demais. Sofreu, porém, uma entrada forte que, mesmo sem ser de propósito, foi excessiva. Saiu de campo e ficará fora da primeira fase.

O fato é que a equipe melhorou muito sem ele no jogo. Ficou mais, rápida, dinâmica e objetiva.

Mas espero que ele consiga se recuperar a tempo de participar da Copa, porque não desejo para nenhum jogador uma contusão, principalmente numa Copa do Mundo.

Por outro lado, o camisa 9 chegou quietinho, disputou uma vaga até o final, não era presença segura entre os 26 convocados, mas, corretamente, Tite o colocou na lista.

Richarlison grita enquanto é abraçado por companheiros
Richarlison celebra com os companheiros depois de marcar contra a Sérvia - Nelson Almeida/AFP

Richarlison tem um espírito de luta incrível, e sua história já mostra isso. Garoto humilde, de família pobre, esteve muito perto do tráfico, mas escolheu seguir sua índole e o talento para a bola.

Ao contrário de Neymar, sempre se posicionou socialmente. Comprou cilindros de oxigênio para Manaus quando as pessoas morriam por falta de ar.

Tem um carisma incrível, e a criançada logo percebeu isso com a celebração do pombo. Nunca vi uma ligação tão forte entre o jogador e sua comemoração.

Richarlison é o pombo da paz do futebol. É um fantástico atacante e um incrível ser humano.

A criançada do planeta se identifica com ele, mas precisávamos de um jogo dessa magnitude, como uma estreia de Copa fazendo dois gols, para que o mundo entendesse melhor o que significa o termo "ídolo".

Ídolo não ostenta, se preocupa. Ídolo não mostra o que tem, luta por quem precisa. Ídolo não debocha do adversário, faz gols decisivos.

Peço licença ao maravilhoso Djavan para parafrasear uma linda canção sua, por uma boa causa:

"O luar, estrela do mar
O sol e o dom
Quiçá, um dia, a fúria desse front
Virá lapidar o sonho até gerar o som
Como querer ‘Richarlisar’ o que há de bom".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.