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23/02/2013 - 10h00

Trash-food que mistura batatas e molhos cura a ressaca, acreditam canadenses

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ISABELLE MOREIRA LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MONTREAL

No meio do século passado, reza a lenda, de um pedido esdrúxulo de um comensal, nasceu o prato que em pouco tempo representaria a real identidade franco-canadense, a poutine.

Muitos clamam a autoria do prato e não há um registro oficial de sua criação. Mas há uma versão mais aceita, a de que em 1957 um cliente de Fernand La Chance, dono do restaurante Lutin Qui Rit na pequena cidade de Warwick, no Québec, pediu para que servisse batatas fritas, molho de carne e o queijo local, uma espécie de cheddar branco de coalho bem borrachudo.

Chocado com o pedido, La Chance exclamou: "Isso será uma bagunça maldita!" Ou uma "poutine", em francês.

Hoje, mais de 50 anos depois, o prato é servido em todo o Québec nos principais restaurantes de fast-food e em casas especializadas, tem aficionados apaixonados e ganhou releituras surpreendentes.

Isabelle Moreira Lima/Folhapress
Poutine com molho bolonhesa do La Banquise
Poutine com molho bolonhesa do La Banquise

A receita tradicional ainda é a mais pedida, mas há variações com molho de pimenta, salsichas, bacon, filé trinchado e cebolas, guacamole e creme azedo com tomates, molho bolonhesa, etc. etc., até receber a cobertura de foie gras, como a sofisticada versão servida na filial quebequense do francês Au Pied de Cochon.

Aberto em 1968 como uma sorveteria, o La Banquise serve a poutine desde os anos 1980 e talvez seja hoje o restaurante mais tradicional da categoria em Montreal, com um enorme número de variações sobre o mesmo tema, cerca de 30.

O fato de a comida ser vista como o melhor mata-ressaca canadense fez com que a casa passasse a funcionar 24 horas ao dia.

De acordo com a proprietária Annie Barsalou, o fluxo noturno é tão intenso que entre 0h e 5h é preciso ter alguém à porta para controlar a entrada dos clientes.

A natureza calórica do prato o levou à categoria de comida de inverno. Isso não significa, no entanto, que as casas de poutine fiquem às moscas quando o clima está quente, ou que ninguém peça o prato no meio da tarde.

Visitar o La Banquise num sábado às 15h no alto verão significa esperar em uma fila para conseguir mesa e brigar pela atenção do garçom.

Para o apresentador de TV canadense Pascal Forget, apaixonado pelo prato, uma boa poutine precisa ter batatas fritas à perfeição, crocantes por fora e macias por dentro, um molho de carne consistente e queijo fresquíssimo e que ranja largamente à mordida.

"A poutine é uma iguaria muito interessante, não é chique ou classuda, mas satisfaz", afirma Pascal.

Já o chef e apresentador de TV Chuck Hughes tem sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que acha um prato gostoso -- e que o serve com lagosta em um de seus restaurantes e já ensinou na TV como fazer a clássica --, acredita que a receita não pode ser vista como "um orgulho nacional".

"Nós temos uma cozinha rica, com pratos bem mais interessantes. A fama da poutine já foi longe demais", diz.

Aprenda a fazer a Poutine incrível do Chuck

Saborosa, simples e pesada, a poutine é uma comida que relaciona prazer e culpa, de acordo com a professora da Universidade McGill, Nathalie Cooke.

"As pessoas contam que comeram como se estivessem confessando um pecado", afirma. "Comer uma poutine não é exatamente a coisa mais virtuosa do mundo, especialmente com a onda da comida saudável. Mas é algo que as pessoas continuam fazendo."

E, pela lotação do La Banquise e por todos os fóruns de discussão sobre o prato na internet, pode ser algo que continuarão a fazer sempre.

 

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