Em expansão no Rio, Troisgros aposta em restaurantes de bairro

Chef francês e apresentador de TV diz que o momento atual não é para alta gastronomia elitista

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Chef francês Claude Troigros em uma de suas casas no Leblon, Le Blond   - Ricardo Borges/Folhapress
Marcos Nogueira
Rio de Janeiro

O garoto Claude teve a chance de engolir o mundo sem deixar sua aldeia: Roanne, cidade francesa de 35 mil habitantes onde os Troisgros ergueram um bastião da alta gastronomia. Preferiu chutar o pau da barraca.

O jovem Claude, primogênito do venerado chef Pierre Troisgros, mudou-se de mala e cuia para o Leblon. Recomeçou do zero numa lojinha de galeria, com fogão e geladeira usados, mais um aparelho de ar-condicionado que não funcionava. O bistrô de 18 lugares se chamava Roanne.

Fez reputação e fama no Brasil. Investiu num estilo culinário que mescla ingredientes tropicais com técnicas da academia francesa. Cozinhou para os poderosos locais e levantou o restaurante Olympe, onde teve a chance de se sentar no trono e gozar dos privilégios de um rei. Mas não.

O Claude maduro resolveu ser pop. Virou celebridade de TV, a despeito do sotaque. Transformou um problema —falas por vezes incompreensíveis— em vantagem. É engraçado e carismático e expandiu os negócios com restaurantes de apelo fácil. Ensaiou a conquista dos “malls” do além-Gávea. Mudou de planos de novo.

O Claude sessentão desistiu de frufrus e salamaleques. Entregou ao filho Thomas a cozinha do Olympe (menu-degustação harmonizado com cinco pratos: R$ 590), adotou como aldeia o Leblon, bairro de 46 mil habitantes onde tinha o CT Boucherie, e inaugurou duas casas em 2018: Chez Claude, na galeria em que abriu o Roanne em 1982, e Le Blond.

Ele concentra as fichas num corredor de 950 metros do Le Blond, na avenida Ataulfo de Paiva (nº 1.321), ao Chez Claude, na rua Conde de Bernadotte (nº 26, lojas Q e R). Uma suave caminhada de 12 minutos que passa pelo CT Boucherie, na Dias Ferreira, nº 636.

Caminhar é uma palavra adequada para a fase atual de Troisgros. Suas novas casas são projetadas para atender ao público que mora no Leblon e em Ipanema. Gente que chega a pé para jantar.

“Alguém já reclamou que non tem manobriste?”, pergunta o chef a um funcionário que enxuga copos no bar do Le Blond. A resposta é negativa. E o local fica atrás de um ponto de ônibus, seria impossível estacionar um carro ali.

É uma aposta calculada. O setor de restaurantes do Rio sofreu um baque com a crise econômica e a violência: o número de clientes caiu até 40% desde a Olimpíada, diz o sindicato patronal. No Rio, grande parte da população teme sair à noite, mesmo de táxi ou Uber.

Claude busca resgatar o cliente fugidio com distâncias caminháveis e uma culinária pedestre. “O momento non é parra alte gastronomie, mais e mais elitiste.” Seus restaurantes no Leblon são pequenos e informais. Não são baratos, mas entregam a grife.

A sanha expansionista segue com o Chez Batista —nas mãos do fiel escudeiro e escada, o paraibano João Batista Barbosa de Souza— na loja contígua ao Chez Claude. Os passos seguintes não revela, até porque é uma metamorrfoz ambuillante e pode mudar de ideia.

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