Nada de rodinhas ou de braços de apoio, Tetuo Nitta aprendeu a andar de bicicleta de uma forma mais inusitada. Pegava emprestada a magrela de um professor e se lançava ladeira abaixo. Acabou aprendendo rápido.
Essa era uma das várias histórias de aventura contadas por esse filho de imigrantes japoneses, que acumulou viagens diferentes e esportes radicais. Tudo sempre recordado com um sorriso maroto.
Mais velho de sete irmãos, nasceu em Araçatuba, no interior paulista, e passou por algumas cidades até a família se estabelecer em São Paulo.
As dificuldades o levaram a fazer bicos desde cedo, fazendo carvão, carregando carga de caminhão, ajudando na roça, o que adiou a faculdade de geologia, concluída na USP quando já estava com 30 anos.
A profissão jogou Tetuo em mais aventuras. Participou de projetos como os das usinas nucleares Angra 1 e 3, da hidrelétrica de Itaipu e do sistema Cantareira, além de planos de irrigação na Nigéria, de estradas na Venezuela e de uma barragem na Argélia.
Mesmo nas horas vagas, não sossegava. Num quartinho em seu apartamento fuçava a ponto de fazer relógios, extensões e outros consertos para a casa. Também podia dirigir sem rumo durante um fim de semana inteiro, fazer trilhas, escalar uma montanhas. Foi assim que aprendeu a mergulhar aos 75 anos.
O escritório o deixava mal humorado, mas no campo, "podia estar sujo de terra, com carrapato, ele estava feliz", afirma o filho, Roberto.
Parou só nesta quarta (21), aos 85, em decorrência de um AVC hemorrágico. Viúvo, deixa dois filhos e seis irmãos.
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