“Por que os problemas da principal cidade do país se agravam ao longo de décadas, enquanto os imensos recursos tecnológicos hoje disponíveis provocam avanços em outros campos da ciência e da economia?”
Eis uma questão que Luiz Carlos Costa sempre se colocava; parecia-lhe incongruente que o mundo melhorasse, mas sua amada São Paulo natal, não. Professor aposentado da FAU-USP, onde se graduou, tornou-se mestre e doutor, ele fez da cidade seu tema.
Bateu-se sempre em defesa de que ela se desenvolvesse segundo um planejamento racional e inclusivo, que protegesse seus recursos e seus moradores, sobretudo os menos privilegiados, da especulação imobiliária.
Argumentava que o povo devia ser ouvido nos processos para implementar um Plano Diretor democrático —acreditava no poder das audiências públicas e participou ativamente de movimentos como o Defenda São Paulo.
Escreveu vários artigos sobre urbanismo, alguns para a Folha, e mantinha um blog como maneira de expressar seus pontos críticos a respeito do Plano Diretor e de participar do debate público.
Arquiteto de inspiração modernista, reformou várias casas, inclusive aquela onde vivia com sua mulher, Maria de Lourdes, sempre na companhia de um cão pastor-alemão —foram quatro em sucessão.
Comprada há mais de 50 anos, a casa no Pacaembu tornou-se nos anos 1970 ponto de encontro para os amigos. Costa costumava passear pelo bairro de mãos dadas com Lourdes, advogada com quem dividiu 57 anos de vida e a paixão pela cidade.
Muito curioso, gostava de fazer perguntas e mais perguntas aos garçons, aos motoristas e aos amigos das três filhas —uma das quais ouviu de um gerente de banco que os funcionários da agência disputavam quem iria atender aquele cliente sempre bem-humorado e sorridente.
Até poucos anos atrás, gostava de remar no mar perto da Barra do Sahy, onde tinha uma casa, protegido por um chapelão de palha que, ao lado da barba e da fronte ampla, o fazia parecido ao escritor Ernest Hemingway.
Tinha problemas nos rins e foi internado por causa de uma infecção, de cujas complicações morreu na sexta (9), aos 82. Seu corpo foi enterrado no sábado (10), em São Paulo. Deixa Lourdes e as filhas, Camila, Flávia e Paula —esta, ombudsman da Folha e mãe de Bento, seu único neto.
Deixa também o cão Samba e um livro sobre arquitetura e urbanismo, ao qual, após muita reescrita, dizia faltar apenas um capítulo.
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