Fernanda Pereira Neves
São Paulo

Era meados dos anos 1980 e Elvira apertava o passo para chegar com antecedência à Igreja São Rafael, na região da Mooca, zona leste de São Paulo. Tinha que ler os sermões antes do início da missa para evitar os tropeços que o novo padre, recém-chegado ao Brasil, sofria com o novo idioma. 

Formada pela USP, Elvira era rigorosa com a língua portuguesa. Deu aulas por décadas para crianças e adolescentes e chegou a participar do início dos programas educativos de TV, nos anos 1960 —quando conheceu os fortes pancakes que usou até o fim. 

Gaúcha de Porto Alegre,  chegou a São Paulo aos 18 anos para estudar, após passar a adolescência em Sorocaba, no interior paulista, com a família. Falava pouco de seu passado, mas adorava as histórias dos antepassados, sempre orgulhosa das origens italiana e argentina. 

De gênio forte e comportamento metódico —herdados de sua mãe—, Elvira se distraía com o radinho de pilha que levava grudado à orelha, com suas leituras e com as óperas e tangos que ouvia. Já a religião, era mais do que um hobby, era um compromisso. 

Descrita como católica fervorosa pela sobrinha, ela não perdia uma missa ou oração, mas também não tinha problemas em discutir ou criticar as políticas do Vaticano. 

Deixou os vizinhos da rua dos Bancários nos últimos anos devido a problemas de saúde, mas dizia que faltavam “conversas elevadas” na casa de idosos em que vivia. 

Morreu dia 14, aos 95 anos, após complicações de uma cirurgia. Deixa uma cunhada e duas sobrinhas. A missa de 7º dia será nesta terça (20), às 19h, na Igreja São Rafael. 

coluna.obituario@grupofolha.com.br


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