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Vereador nega atuação em morte de Marielle e diz que notícia é factoide

Marcello Siciliano disse que tinha boas relações com a vereadora do PSOL

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Vereador Marcello Siciliano (PHS) postou foto nas redes sociais abraçado com Marielle um dia depois do assassinato da vereadora
Vereador Marcello Siciliano (PHS) postou foto nas redes sociais abraçado com Marielle um dia depois do assassinato da vereadora - Divulgação
Rio de Janeiro

​O vereador Marcello Siciliano (PHS) negou na manhã desta quarta-feira (9) que tenha sido o mandante do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), ocorrido em 14 de março. 

Segundo o jornal O Globo, a testemunha, que prestou três depoimentos à polícia em troca de proteção, trabalhou para um grupo paramilitar e passou detalhes de datas, horários e locais de reuniões em que Siciliano e Orlando Oliveira de Araújo (ex-PM hoje preso acusado de chefiar uma milícia) teriam planejado o crime.

Segundo o jornal, a testemunha disse que presenciou quatro conversas entre o vereador e o miliciano (na época em que este estava foragido) e forneceu nomes de quatro homens que teriam sido escolhidos para matar Marielle.

As incursões política de Marielle na Cidade de Deus, área na zona oeste fora do controle de milícias, teria provocado a reação do vereador e do ex-PM, segundo a testemunha. 

Antes de acusar o suposto esquema para assassinar a vereadora, a testemunha trabalhou como segurança do ex-policial militar e teria tentado se desligar do serviço. Por conta disso, teria sido ameaçado de morte e impedido de deixar o trabalho. 

Além da vereadora, o motorista Anderson Gomes foi morto com ela em 14 de março. O carro foi atingido quando Marielle voltava para casa. O vereador Siciliano tem como reduto eleitoral o bairro de Vargem Grande, dominado por milícias, que cobram de comerciantes e moradores por serviços. Ele já prestou depoimento no caso na condição de testemunha.

 
Marcello Siciliano
O vereador Marcello Siciliano durante entrevista coletiva, no Rio - Carl de Souza/AFP

Na manhã desta quarta-feira, o vereador convocou uma entrevista coletiva para rechaçar as acusações. Siciliano afirmou que a informação revelada pelo jornal O Globo é um "factoide" e negou conhecer o ex-PM. Ainda segundo o vereador, a Cidade de Deus não é um de seus redutos eleitorais.

Siciliano disse que tinha boa relação com Marielle e alegou que os dois chegaram a apresentar projetos de lei juntos. “Gostaria de esclarecer, antes de mais nada, a minha surpresa com relação ao que aconteceu ontem [terça]. A minha relação com a Marielle era muito boa, não estou entendendo porque esse factoide foi criado contra a minha pessoa. Estou sendo massacrado nas redes sociais por algo que foi dito por uma pessoa que a gente não sabe nem a credibilidade que a pessoa tem", disse ele.

Na entrevista, Siciliano disse que nunca participou de reunião com o ex-PM. “Se em algum momento eu interagi com uma pessoa chamada Orlando eu não posso garantir. Mas, uma reunião marcada, eu tenho certeza que não aconteceu”, afirmou. 

O vereador afirmou que, "mais dos que nunca", quer que o crime seja elucidado e que ele estaria sendo utilizado como "bucha", termo que significa bode expiatório na gíria local . Siciliano já havia prestado depoimento à polícia sobre o crime. Um colaborador de seu gabinete foi morto no mês passado, em crime suspeito de ser queima de arquivo. 

O vereador alegou nunca ter tido relação com grupos milicianos que atuam na zona oeste do Rio. “Nunca encontrei milícia nas vargens [Grande e Pequena, bairro da zona oeste], mas eu sou totalmente contra poder paralelo”.

MARIELLE

Marielle era conhecida por denunciar abusos de policiais e milicianos no estado. Segundo O Globo, a testemunha contou que o crime começou a ser planejado em junho. Pelo menos dois homens teriam sido mortos depois do assassinato de Marielle, como queima de arquivo.

Carlos Alexandre Pereira Maria, 37, o Alexandre Cabeça, e Anderson Claudio da Silva, 48, foram assassinados pelos milicianos, segundo a acusação divulgada pelo jornal. O corpo de Alexandre Cabeça foi encontrado em 8 de abril, mais de três semanas depois da morte de Marielle, dentro de um carro, por PMs do batalhão de Jacarepaguá, na zona oeste.

Já o policial reformado Anderson Claudio da Silva foi morto com vários tiros, inclusive de fuzil, ao entrar em seu carro, na Praça Miguel Osório, no Recreio dos Bandeirantes. Anderson dirigia uma BMW blindada. Ele se aposentou como subtenente em 2015, após ser baleado em operação no Complexo do Chapadão.

Um dos carros envolvidos na ação foi visto circulando antes do crime próximo ao campo de futebol na comunidade da Merk, controlada pelo ex-policial militar. Também nesta terça, mais cedo, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) disse que o cerco contra os assassinos de Marielle estava se fechando.

Ele havia participado de reunião com o chefe da Divisão de Homicídios, Fábio Carsoso, e membros da Comissão Externa da Câmara —que acompanha as investigações. “O delegado afirmou que já tem informação suficiente para cruzar os dados e chegar aos assassinos”, afirmou. “Não só sobre os executores como também em relação aos mandantes”, acrescentou.

A morte de Marielle ocorreu em meio à intervenção federal na segurança pública do Rio. Na prática, com isso, a investigação está sob a responsabilidade do governo Michel Temer (MDB), que decretou em fevereiro a intervenção e escalou um general do Exército para o comando da inédita medida. Polícia Militar e Polícia Civil respondem diretamente aos interventores.

Desde o início, a principal linha de investigação é a de motivação política. Diferentes vereadores prestaram depoimento como testemunha —entre eles, um indiciado na CPI das Milícias, concluída em 2008, na qual Marielle atuou.

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