Descrição de chapéu Obituário Miguel Lobato Silva (1967 - 2018)

Mortes: Lutou por direito a moradia e doou uma casa que ganhou

Militante paraense foi interlocutor de discussões sobre acesso à moradia

Gabriel Rodrigues
São Paulo

Miguel sabia que se ele e os irmãos não estivessem à mesa ao meio-dia para o almoço não comeriam mais. A mãe deles, Joaquina Lobato, não era de falar duas vezes: a bronca era “braba” para quem a desobedecesse.

Na adolescência, Miguel desafiou as ordens da matriarca e saiu de casa de manhã para voltar somente à noite, sem aviso prévio.

Não foi a única vez que saiu de casa sem aprovação da família, e o motivo seria o mesmo por toda sua vida. Miguel era, antes de tudo, um militante. No dia em que “fugiu”, foi participar de uma manifestação.

A família nem lembra a causa do protesto em si. Desde a década de 80, o saneamento básico, a mobilidade urbana e o direito à habitação eram preocupações do paraense, nascido em uma área periférica de Belém em 1967.

Como um dos coordenadores do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), foi interlocutor habitual em discussões públicas sobre acesso a moradia. Viajava constantemente a Brasília pelo movimento e, entre outras atuações políticas, era membro do Conselho das Cidades, órgão vinculado ao governo federal.

Não tinha casa própria. Vivia na da mãe, que morreu em acidente de trânsito e de quem herdou também a afetuosidade e o sangue quente —tinha a reputação de ser firme e, por vezes, grosseiro.

A família chegou a presenteá-lo com uma casa. Dias depois, numa tentativa de visita, descobriram que ela tinha sido doada por ele a alguém que achou que precisava mais.

Morreu no dia 19 de agosto em decorrência de problemas cardíacos. “Coração grande que não cabia no peito”, diz uma sobrinha. Deixa oito irmãos, quatro filhos e mais sobrinhos do que a família consegue contar.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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