Roubos, pressão por reajuste e desconfiança desafiam general na Segurança de SP

Titular de pasta escolhido por Doria terá também que lidar com alta letalidade policial

Rogério Pagnan Artur Rodrigues
São Paulo

O general João Camilo Pires de Campos assumirá a Secretaria da Segurança Pública da gestão João Doria (PSDB) com desafios que incluem a pressão das polícias por reajuste salarial, problemas de estrutura da Polícia Civil, baixa taxa de esclarecimento de crimes e altos índices de crimes patrimoniais, estupros e letalidade policial.

Também enfrentará desconfiança da corporação para lidar com a segurança pública, cujas atribuições diferem das que assumiu em 48 anos de Exército. Embora tenha nascido em Campinas, Campos saiu de São Paulo em 1973 para servir a Força e só retornou ao estado em 2012 —tornou-se general de divisão e, depois, chefe do Comando Militar Sudeste .

Parte da carreira foi voltada a escolas de aperfeiçoamento de oficiais e ao Departamento de Educação e Cultura do Exército. É visto pelos colegas como pessoa culta e patriota.

No comando do Exército no estado, ganhou uma série de homenagens da Polícia Civil e da Polícia Militar, como a medalha Brigadeiro Tobias. Tornou-se amigo do ex-delegado-geral Youssef Abou Chaim, número 1 da Polícia Civil na gestão Geraldo Alckmin (PSDB).Também tem bom relacionamento com Alexandre de Moraes, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e que foi secretário da Segurança paulista.

Apesar das homenagens das instituições, oficiais e delegados receberam a indicação com resistência. Nos últimos anos, com a presença predominante de promotores no comando da pasta, coronéis da PM avaliavam que a relação de hierarquia não era igual à que existirá com a presença de um general no comando. Temem, por isso, serem mais cobrados do que os policiais civis.

Entre esses últimos, há receio em relação ao que chamam de ambiente militar. Os delegados tinham planos, em caso de vitória do atual governador, Márcio França (PSB), de que a Civil fosse transferida para a pasta da Justiça e, assim, comandada preferencialmente por um delegado.

Por outro lado, integrantes das duas polícias avaliam que a nomeação do general Campos é melhor do que um representante da polícia “rival” no comando. Os PMs não aceitariam um delegado como secretário, e os delegados não aceitariam um coronel de PM.

Assim, a opção seria a menos ruim desde que Doria prometeu, na campanha, colocar um policial no comando da Segurança. “O sindicato dos delegados espera que o novo secretário tenha competência e não repita as atrapalhadas e incompetentes gestões aos longos dos 20 anos que o estado de São Paulo foi submetido, por políticas equivocadas de governo”, disse a presidente da categoria, Raquel Gallinati.

A partir de janeiro, Campos já terá de conviver também com pedidos de reajuste de salários. O atual comandante da PM, Marcelo Vieira Salles, disse em sua primeira entrevista como comandante da corporação que não é possível um soldado de São Paulo ganhar R$ 3.143 mesmo estando no estado mais rico da federação.

Os policiais civis também têm a mesma bandeira salarial, e ainda reclamam de um déficit de efetivo de 13 mil policiais. “A gente não tem conhecimento do trabalho do general com relação à segurança pública, nós defendíamos e ainda defendemos o modelo que governador do Rio [Wilson Witzel] defende. Cada polícia em sua secretaria própria, com orçamentos separados”, disse Gustavo Mesquita Galvão Bueno, presidente da associação dos delegados de São Paulo.

O futuro secretário da Segurança Pública também terá de enfrentar os crimes patrimoniais, como roubos e furtos, que, embora em queda, continuam em índices muito altos. Até setembro, foram registrados 198.844 roubos comuns no estado —os furtos em geral totalizaram 379.334 registros.

Os estupros também têm sido um desafio para Segurança, que, nos últimos dois anos, tem dificuldades até de apontar as causas de crescimento. Neste ano, foram registradas 8.961 queixas, crescimento de 11% em comparação com 2017.

Embora com pequena queda em 2018, o número de pessoas mortas pelas polícias paulistas vem crescendo e bateu recorde em 2017, com 940 casos —o pico dos últimos 25 anos, superado apenas pelos 1.470 óbitos de 1992, quando o dado ainda não incluía pessoas mortas por policiais fora de serviço.

Esse tem sido um preocupação do atual comandante da PM, coronel Salles, que rebateu publicamente o discurso de Doria durante a campanha de que o policial iria atirar para matar o criminoso.

O governador eleito recuou desse discurso. “Óbvio que a primeira ação da polícia não será matar, será na inteligência, depois na pronta resposta que é imobilizar o criminoso, se o criminoso reagir a ação será para imobilização”, disse. “A orientação é que se ele ainda assim reagir armado é que ele vá deitado para o cemitério.”O general Campos também adotou tom cauteloso nesse sentido. “É um tema que tem profunda relevância e merece ser estudado com muito carinho. Bandido tem no mundo todo, agora bandido armado de fuzil constituindo ameaça só aqui”, afirmou.

Questionado se sua gestão será linha-dura, Campos afirmou que será "serena e segura".

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