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Dois passageiros caem por dia em vãos de estações de trens do Governo de SP

CPTM registra 542 quedas de janeiro a setembro; espaço entre trem e plataforma chega a 30 cm

Patrícia Pasquini
São Paulo | Agora

A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) registrou de janeiro a setembro deste ano 542 quedas no vão entre os trens e as plataformas das estações de linhas na capital e Grande São Paulo. Foram, em média, dois acidentes por dia.

A linha 11-coral foi a que apresentou o maior número, 193 casos. Em seguida está a 9-esmeralda, com 118 registros de quedas (veja quadro ao lado). Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.

A CPTM, empresa da gestão Márcio França (PSB), afirma que o espaço entre o trem e a plataforma nas estações é consequência da falta de uma via exclusiva para o transporte ferroviário de cargas, hoje compartilhada com os trens de passageiros.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) afirma que, para o embarque de pessoas com mobilidade reduzida, a distância entre o trem e a plataforma deve ter no máximo 10 cm.

A reportagem visitou algumas estações e mediu os vãos. Na estação Pinheiros (9-esmeralda), sentido Grajaú, o vão tinha cerca de 27 cm. Em frente às portas, que possuem uma espécie de ‘aba’, a distância cai para 18 cm. Do lado oposto, sentido Osasco, a distância é um pouco menor —25 cm e 15 cm, respectivamente.

Na mesma linha, mas na estação Santo Amaro, sentido Grajaú, o espaço tem cerca de 21 cm e cai para 11 cm em frente às portas. No sentido Osasco, o vão tinha 30 cm e, na porta, 22 cm.

Os números são altos, mas na comparação com 2017 houve redução de 38%. Em todo o ano passado, foram registrados 871 casos. A CPTM afirma que, além de reforçar as orientações de segurança, iniciou a instalação de borrachões de proteção na beirada das plataformas, reduzindo o vão. Em uma plataforma da Luz, por exemplo, com o borrachão desde o final de 2017, o número de quedas caiu de 164 para um.

A assessora de imprensa Roberta Sena Feliciano, 29, diz que nunca esquecerá o acidente sofrido na estação Pinheiros, da linha 9-esmeralda da CPTM. Ela escorregou e caiu ao tentar entrar no trem, quando ia para o trabalho, no horário de pico da manhã. Uma das pernas ficou presa no vão. Sem conseguir se mexer, Roberta recebeu ajuda de passageiros para se levantar antes do trem partir.

Não houve ferimentos graves, mas a dor e os hematomas na perna permaneceram por algumas semanas. Roberta presenciou outros acidentes na mesma estação. “Aquele vão é enorme e certamente já deve ter feito outras vítimas”, disse.

A auxiliar de classe Fernanda da Silva Barbosa, 21, foi vítima do empurra-empurra dos horários de pico quando retornava do trabalho para a casa. Ela sofreu uma queda na plataforma da estação Santo Amaro, mesma linha, e teve a perna presa no vão.

“A sorte dela foi que pessoas a cercaram para que não fosse pisoteada”, diz a professora Maria Jéssika da Silva, 26, irmã da vítima.

Problema antigo

O especialista em transporte público Horácio Augusto Figueira disse que o vão entre trens e plataforma é um problema centenário nas estações da CPTM. “Não vejo uma solução técnica possível. A malha ferroviária foi construída para transporte de carga. Após muitos anos foi dado início ao transporte de passageiros, que precisa ser modernizado”, diz.

Para ele, a implantação do ferroanel, que é um projeto do governo federal que consiste na construção de vias exclusivas para os trens de carga, pode melhorar o problema da operação dos trens de passageiros da CPTM.

Apesar de não responsabilizar a CPTM pelos acidentes ocorridos nas plataformas, Figueira acha ser necessário melhorar as campanhas para sinalização dentro das estações.

Nova proteção

A CPTM, empresa da gestão Márcio França (PSB), afirmou por meio de nota que seis estações com maior fluxo de passageiros receberão os borrachões no ano que vem. São elas: Santo André, Tatuapé, São Miguel Paulista, Osasco, Santo Amaro e Palmeiras-Barra Funda.

Segundo a empresa, os borrachões também serão colocados em três plataformas do Brás e uma na Luz.

A CPTM disse que, mesmo assim, os passageiros devem respeitar as regras de segurança para embarque, como aguardar o trem nas plataformas sem ultrapassar a faixa amarela.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado na reportagem "Três passageiros caem por dia em vãos de estações de trens do Governo de SP", não são três os casos, em média, registrados por dia, e sim dois.
 

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