Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Informações desencontradas levam famílias da alegria ao desespero

Homem dado como encontrado continua desaparecido e o corpo de outro foi identificado no IML

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brumadinho (MG)

Informações desencontradas que circularam entre amigos, socorristas, voluntários e funcionários da Vale durante as buscas às vítimas do desastre em Brumadinho (MG) levaram famílias do Córrego do Feijão, bairro rural atingido pela lama, da alegria ao desespero em poucos dias. Um homem dado como encontrado continua desaparecido e o corpo de outro foi identificado no IML (Instituto Médico Legal) nesta quinta-feira (31).

“Um amigo nosso chegou aqui correndo [no sábado], abraçando meu esposo, falando que tinham encontrado o Rodrigo vivo. Foi a maior alegria que nós tivemos. Nós vimos o nome dele numa folha no celular dele. Aí a gente ficou com essa esperança dois dias”, disse Maria das Dores Barbosa. “Quando eu vi o nome dele lá, foi uma alegria. Eu acho que comecei a pisar no ar.”

Contudo, o seu filho Rodrigo Henrique de Oliveira, 31, operador de máquinas na Vale, não havia sido localizado até o final da tarde desta quinta-feira (31). Ao jornal Estado de Minas, a Vale reconheceu que havia sido “um equívoco” a inclusão do nome de Rodrigo numa lista divulgada no sábado (26) de pessoas encontradas.

Até agora não há informação precisa sobre o paradeiro do rapaz. Nesta quinta-feira (31) o IML entrou em contato com a família para marcar um horário em Belo Horizonte (MG) a fim de colher amostras de DNA. A notícia foi dada por um sobrinho de Rodrigo enquanto a Folha conversava com a família em sua casa, que fica ao lado da base de pousos e decolagens do Corpo de Bombeiros no gramado da igreja do Córrego do Feijão.

“Meu corpo até gelou agora. Mas se ele está lá, eu até agradeço a Deus por ter achado. Porque eu não quero que ele fique ali no meio da lama, não. Pelo menos eu vou saber onde ele está”, disse Maria ao sobrinho.

Segundo Maria, a primeira notícia trazida pelo amigo da família foi desmentida logo depois com a publicação de uma nova listagem da Vale em que o nome de seu filho constava como desaparecido

“Depois a gente ficou sabendo que era um engano o nome dele estar na folha dos sobreviventes. Veio a outra listagem [sem o nome]. O meu filho falou, não sei quem ligou, ‘mãe, aquela lista era mentira, me pediram desculpa e dizendo que era engano’. E até hoje a gente não tem resposta de nada.” A família percorreu diversos hospitais em Belo Horizonte e Brumadinho atrás de informações de Rodrigo.

Caso semelhante ao de Rodrigo ocorreu com a família do motorista de uma empresa de pavimentação asfáltica que prestava serviços para a Vale, Carlos Eduardo de Faria, 32. 

No sábado (26), a Folha presenciou o momento em que a família recebeu notícias de diversas pessoas, incluindo uma ligação que dizia partir do Corpo de Bombeiros, afirmando que Faria fora localizado com vida com outras três pessoas. 

Os dois irmãos de Faria, Paulo Henrique e Jorge, este um bombeiro voluntário civil que também atuava nas buscas aos desaparecidos no desastre e trabalhou na Vale por vários anos, se abraçaram e vibraram com a informação. “Estamos indo lá buscar ele”, disse Paulo. 

No meio da comemoração, uma funcionária da Vale, que pediu para não ter o nome publicado, entre lágrimas chegou a confirmar à reportagem a localização de cinco pessoas com vida, entre as quais, Faria.

Nos dias seguintes, contudo, a família não conseguiu localizar o motorista. Na segunda-feira (28), o nome passou a constar na lista de desaparecidos divulgada pela Vale. A família fez diversas buscas em hospitais da região.

Na quarta-feira (30), Jorge disse estar convencido de o que ocorreu no sábado “foi um grande mal entendido”, mas preferiu não apontar culpados. 

Paulo Henrique se disse decepcionado e confuso com a informação que não se confirmara. Às 13h desta quinta-feira (31), Jorge afirmou à Folha que estava se dirigindo ao IML. Às 17h, ele confirmou que o corpo era o de seu irmão.

Jorge não sabe mais dizer a circunstância dos telefonemas do sábado. “Não sabemos mais se foi um trote, se os bombeiros mesmos é que deram a notícia e depois voltaram atrás. Essa ligação dizia o nome correto do meu irmão e que ele tinha sido localizado na mata. Falaram que outros três estavam com ele. E esses três estão também desaparecidos até agora. Tem mais três famílias sofrendo. Eu queria saber como a Vale deixa um restaurante numa área de risco. Isso foi um crime que a Vale fez com o povo”, disse Jorge.
 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.