No governo de SP, Doria terá desafios em política, segurança e privatizações

Ex-prefeito toma posse com promessa de atacar crime organizado e em busca de apoio na Assembleia

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São Paulo

O governador eleito João Doria (PSDB), 61, começa a administrar São Paulo nesta terça-feira (1º) de olho nas eleições presidenciais de 2022. Mas o caminho até lá é repleto de obstáculos, que vão de obras atrasadas ao enfrentamento à maior facção criminosa do Brasil, além de secretários envolvidos em escândalos à necessidade de formar uma base política.

Doria herdará contas relativamente em ordem e o menor índice de homicídios do Brasil, mas terá de contornar dificuldades que seus antecessores tucanos não enfrentaram, como uma bancada menor na Assembleia Legislativa

A principal plataforma de campanha de Doria foi a segurança pública. Ele prometeu que a polícia atiraria para matar e, ao assumir, sinalizou que pretende colocar em prática o discurso duro das eleições, transformando em vitrine o enfrentamento ao PCC.

Na área da segurança, Doria tem defendido que a polícia atire para matar criminosos
Na área da segurança, Doria tem defendido que a polícia atire para matar criminosos - Marivaldo Oliveira - 9.out.2018/Código19/Folhapress

A facção cresceu sob governos tucanos, expandindo sua influência para o Brasil e até para países da América Latina.

Doria quer que os responsáveis pela área tentem sufocar a facção financeiramente, atacando o seu diversificado sistema de lavagem de dinheiro, que inclui postos de gasolina, revendedoras de automóveis e empresas de exportação.

Entre as heranças negativas do tucanato, Doria terá de reverter uma série de erros na área da mobilidade. Os monotrilhos das linhas 15-Prata e 17-Ouro do metrô, vendidos como alternativas rápidas e baratas, estão atrasados e encareceram.

Até o momento, só duas estações da linha 15 estão em pleno funcionamento. As estruturas elevadas que atravessam regiões da cidade, sem trens, só servem para deteriorar seus arredores.O mesmo acontece nas proximidades dos locais desapropriados para virarem estações da linha 6-laranja

A linha é prometida há dez anos, mas parceria público-privada responsável pela construção foi cancelada neste ano. Investigadas, as empresas que integravam a parceria público-privada responsável pela obra não conseguiram financiamentos e abandonaram a obra.

Entre as hipóteses cogitadas pela equipe de Doria está anular o cancelamento da PPP ou assumir as obras, que devem consumir ainda R$ 9 bilhões. 

Tirar do papel parcerias do gênero e desestatizações prometidas na campanha estão entre os principais desafios de Doria. Na Prefeitura de São Paulo, seu grande programa de desestatização, que prometia passar à iniciativa privada equipamentos públicos como o Anhembi, o estádio do Pacaembu e o parque Ibirapuera, não gerou nenhuma realização concreta até o momento

Doria deixou a prefeitura em abril, faltando 1.000 dias para o fim de seu mandato, para disputar as eleições.

No estado, o governador eleito anunciou a cifra de R$ 23 bilhões em desestatizações. A estrela do pacote é o sistema prisional, responsável por um orçamento de R$ 4,5 bilhões ao ano. SP tem 227 mil presos em 170 unidades, em ambiente dominado pela facção PCC.

Além dos presídios, o governador eleito prometeu privatizar o programa de dragagem do porto de Santos, capitalizar a Sabesp, conceder a operação de balsas de Ilhabela e privatizar aeroportos estaduais, o porto de São Sebastião e a hidrovia Tietê-Paraná.

O responsável pela missão de desestatizar os ativos do estado será Henrique Meirelles, ex-ministro do governo Michel Temer (MDB) e agora secretário da Fazenda de Doria.

“Eu estou chegando, estava vendo as privatizações nacionais, como Eletrobrás, Casa da Moeda. Agora vou olhar, ver o mapa das 26 empresas para serem privatizadas e vou estudar cada uma, apresentar um diagnóstico para o governador, ver se dá para fazer mais”, disse Meirelles à Folha.

O tucano ainda terá que lidar com a pressão de escândalos políticos ligados àqueles que escolheu para ocupar secretarias e outros cargos relevantes de sua gestão. 

Tendo em vista as eleições presidenciais de 2022 e o fortalecimento de suas relações de poder, Doria nomeou figuras influentes, mas cujos nomes têm sido relacionados a investigações.

Indicado para a Casa Civil, Gilberto Kassab (PSD) já pediu para se licenciar do cargo logo após a posse para se dedicar à sua defesa em suposto escândalo. O ex-ministro das Comunicações foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal, sob suspeita de ter recebido valores ilegalmente da JBS —ele nega irregularidades.

Indicado por Doria para o cargo de diretor do Procon, o ex-deputado estadual Fernando Capez (PSDB) ficou marcado pelo escândalo conhecido como máfia da merenda, tendo sido investigado por anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em junho, o STF trancou a ação penal.

O STF também arquivou em 2018 inquérito contra o ex-ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB), investigado por suposto recebimento de R$ 500 mil da Odebrecht por meio de caixa dois. Aloysio foi indicado por Doria a presidente da Investe SP, agência paulista de promoção de investimentos.

O tucano ainda terá a missão de reverter o declínio dos indicadores de educação no estado últimos anos da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) divulgados em agosto mostraram, por exemplo, piora no desempenho do ensino médio da rede estadual paulista pelo segundo ano consecutivo.

Na Assembleia, Doria enfrentará realidade diferente dos predecessores tucanos, que reinaram com tranquilidade em meio aos deputados. O partido sempre teve facilidade para garantir ampla maioria para aprovar projetos e barrar CPIs inconvenientes. Agora, a bancada do partido perdeu 11 cadeiras na Casa --passou de 19 para 8. A posse dos deputados é em 15 de março.

O PSL, partido de Jair Bolsonaro, tornou-se a maior bancada da Assembleia, com 15 cadeiras, e Doria terá que cortejar seus deputados para conseguir apoio político.

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