A docência a que se dedicou durante décadas começou no susto. Aluna da pós-graduação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP), Maria Célia Paoli e outros colegas foram convocados a substituir às pressas professores do curso de ciências sociais.
Era o início dos anos 1970, auge da ditadura militar, e sete docentes haviam sido cassados sob acusação de conspirar contra o regime. A direção da universidade, então, escolheu os alunos mais bem avaliados da pós-graduação para substituí-los.
Desde então foram 42 anos dedicados à USP com hiato de poucos anos em que Maria Célia se mudou para Londres, na Inglaterra, para concluir o doutorado. Na Universidade de Londres, seu orientador foi o historiador britânico Eric Hobsbawm, ao lado de quem aprofundou suas pesquisas em torno de temas ligados a relações de trabalho e história operária que já haviam norteado sua tese de mestrado.
Os estudos eram intercalados com a rotina de outro título recém-adquirido, o de mãe. A filha única, Mariana, tinha poucos meses quando Maria Célia se mudou com o marido para a Europa.
Ao fim do doutorado, a professora decidiu não retornar a Curitiba (PR), sua cidade-natal, e voltou para a USP, onde formou gerações de intelectuais. Ela também ajudou a formar, no fim da década de 1990, na FFLCH, o Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania, que se tornou a sede de suas pesquisas.
As mais recentes se debruçaram sobre a obra de Hannah Arendt. O trabalho, ainda não publicado, interpreta textos da autora tida como liberal a partir de matizes políticas dissonantes.
O início da aposentadoria, em 2012, coincidiu com os primeiros sintomas do mal de Alzheimer que se agravaram e culminaram em sua morte, no último dia 20.
Ela deixa a filha Mariana Paoli, dois irmãos e uma irmã.
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