Nascida em Feira de Santana (BA), a professora e ensaísta Jerusa Pires Ferreira se dedicou a levar para o mundo o que chamava de cultura das bordas, manifestações populares, como a literatura de cordel, tema de boa parte de suas pesquisas.
Admiradora dos repentistas, a professora de literatura e semiótica se debruçava sobre as composições para estabelecer ligações com grandes obras universais, como “Fausto”, de Goethe, e como eram traduzidas pelos cordelistas para a realidade do sertão.
Em um de seus livros mais comentados, “Cavalaria em Cordel: o Passo das Águas Mortas” (Edusp, 2016), Jerusa coloca a literatura de cordel sob perspectiva das narrativas medievais.
“Ela sempre se dedicou àquele lugar em que o alto encontra-se com o baixo, e elimina essa diferença; fazia costuras entre o popular e o erudito”, diz o professor Amálio Pinheiro, seu colega de departamento na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Jerusa também foi doutora e livre-docente pela Escola de Comunicação e Artes da USP.
Por meio das pesquisas de Jerusa, o serão nordestino estabeleceu pontes também com a língua russa, por influência do tradutor Boris Schnaiderman, com quem Jerusa foi casada por 30 anos até se tornar viúva, em 2016.
Sua personalidade expansiva é citada com frequência por quem a conhecia, e era enaltecida durante as ocasiões em que a professora cantava ao piano músicas de João Gilberto, tangos e boleros, seus ritmos preferidos.
No fim do ano passado, após algum tempo em tratamento contra um câncer, ela viajou a Salvador (BA) para ser cuidada por familiares e não retornou mais ao seu apartamento em São Paulo. Ela faleceu no último dia 21 aos 81 anos. Jerusa deixa dois filhos e um neto.
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