Mortes por sarampo no Brasil vão a quatro; casos em 90 dias se aproximam de 2.800

Ministério estima que até 39,9 milhões de pessoas não estejam vacinadas e prepara nova campanha

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Brasília

​Subiu para quatro o número de mortes confirmadas por sarampo no país. O novo registro ocorreu em Pernambuco, onde a secretaria estadual de saúde confirmou a morte de uma criança com menos de um ano. Outras três mortes ocorreram em São Paulo, estado que responde por 98% dos casos da doença até agora.

Só nos últimos 90 dias, parâmetro adotado pelo Ministério da Saúde para monitorar o surto, o Brasil registrou 2.753 casos confirmados de sarampo. Destes, 2.708 ocorreram em São Paulo, 15 no Rio de Janeiro, 12 em Pernambuco, sete em Santa Catarina e três no Distrito Federal.

Os estados de Goiás, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Piauí registraram um caso cada.

Segundo o Ministério da Saúde, os registros estão distribuídos em 120 municípios. Já em Goiás e Piauí, os registros ocorreram em outros locais, mas receberam atendimento no estado.

Em meio ao avanço nos registros, o Ministério da Saúde se prepara para fazer uma ampla campanha de vacinação contra a doença, que deve se iniciar em outubro e ocorrer em etapas.

Atualmente, a estimativa é que o país tenha até 39,9 milhões de pessoas não vacinadas. Os dados, que se baseiam no histórico de registros da vacinação de rotina nos postos de saúde nos últimos 25 anos, foram levantados pela Organização Pan-americana de Saúde em conjunto com a pasta. 

"São pessoas que perderam a oportunidade de se vacinar ao longo da vida e estão suscetíveis ao sarampo", afirma o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira. O balanço, porém, não considera campanhas específicas realizadas nos últimos anos --daí ser considerado uma estimativa, informa Oliveira.

Com base nesses dados, a pasta deve fazer novas reuniões com secretarias de saúde na próxima semana para organizar detalhes da estratégia. A ideia inicial é que a campanha ocorra em fases, iniciando por crianças, grupo considerado mais vulnerável ao sarampo. Enquanto isso, o ministério já se organiza para adquirir doses extras da vacina.

A faixa etária com maior número de registros de casos é a de bebês menores de um ano. Para esse grupo, a incidência da doença é de 54,2 casos a cada 100 mil habitantes. Em seguida, estão crianças de um a quatro anos, com 15,8 casos por 100 mil habitantes, e jovens de 20 a 29 anos, com 10,5 casos por 100 mil habitantes.

O alto número de casos em bebês menores de um ano, que não fazem parte do calendário vacinal para a doença, levou o Ministério da Saúde a recomendar, em agosto, a aplicação de uma dose da tríplice viral em bebês de seis meses a 11 meses a 29 dias.

Chamada de dose zero, a vacinação não substitui as doses de rotina, que devem ser aplicadas aos 12 meses, por meio da vacina tríplice viral, e aos 15 meses, por meio da vacina tetraviral ou pela tríplice viral associada à vacina contra varicela. A efetividade da vacina é maior para aqueles que tiveram todas as doses recomendadas.

Para crianças menores de seis meses, a previsão é que já haja uma proteção caso a mãe tenha sido vacinada. A recomendação é que pais de crianças dessa faixa etária evitem exposição a aglomerações, manter higienização adequada e ventilação de ambientes.

Em caso de qualquer sintoma da doença, como manchas vermelhas pelo corpo, febre, coriza, conjuntivite e manchas brancas na mucosa bucal, a recomendação é procurar serviços de saúde imediatamente.

 

Em outra medida para aumentar a proteção desse grupo, o Ministério da Saúde deve disponibilizar aos estados cápsulas de vitamina A na concentração de 50 mil UI para casos suspeitos de sarampo entre menores de seis meses.

A recomendação é que cada criança tome duas doses da vitamina, a primeira no momento do atendimento na unidade de saúde, assim que identificado o caso como suspeito, e a segunda no dia seguinte, em casa.

O secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, faz um apelo para que pessoas já vacinadas não busquem a vacina, sob risco de faltar doses para crianças.

“Vimos em postos de saúde adultos com duas doses dizendo que não tinham sido vacinados. Estamos tirando doses de crianças porque tem adultos que não estão seguindo a recomendação à risca”, afirma.

Segundo ele, o Ministério da Saúde enviou um pedido para adquirir mais doses vacina de laboratórios produtores. Ainda não há informações sobre o total a ser adquirido.

Além dos casos confirmados, o Brasil ainda soma 15.430 casos em investigação, o que indica que os números da doença no país ainda podem crescer. Em média, 26% dos casos suspeitos têm sido confirmados.

A boa notícia é que uma análise preliminar feita por técnicos do ministério aponta para uma tendência de estabilização nos registros de novos casos suspeitos. 

"Com isso, se não tivermos outros surtos, vamos conseguir interromper a cadeia de transmissão. Mas ainda é cedo para afirmar que há uma queda [nos casos]", pondera Oliveira.

Colaboram para essa tendência de estabilização o aumento na vacinação e a chegada de períodos mais quentes. "O sarampo tem padrão de singularidade de doença respiratória. A tendência é que, com o tempo mais quente e ambientes mais ventilados, tenhamos redução na circulação", diz o secretário.

Ele reforça, porém, o alerta para que municípios façam ações de bloqueios por meio da vacinação em áreas de registro de casos para evitar a expansão da doença.

Após ter sido considerado eliminado no país, o sarampo voltou a registrar casos no país em 2018, inicialmente nos estados de Roraima e Amazonas.

O impulso para o retorno da doença foi a entrada de casos importados e a baixa cobertura vacinal no Brasil. A situação fez o país perder o certificado de país livre da doença, o qual havia sido entregue pela Opas em 2016.

Contribuiu, também, a queda na cobertura vacinal e a disseminação de informações falsas sobre a vacina.

TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE O SARAMPO

A Folha elencou as principais dúvidas sobre o sarampo e a respeito da campanha de vacinação realizada em são Paulo.

O que é sarampo?   É uma doença infecciosa aguda transmitida por um vírus, caracterizada por manchas na pele. A doença havia sido considerada eliminada no Brasil, mas voltou. Uma das razões é a baixa cobertura vacinal.

Como é transmitido? A transmissão acontece pela saliva, carregada pelo ar (quando a pessoa tosse, fala ou espirra). Ou seja, é altamente contagiosa.

Quais os sintomas? Febre alta (acima de 38,5°C), manchas vermelhas na cabeça e no corpo, tosse, dor de cabeça, coriza e conjuntivite.

Sarampo pode matar? Sim. É uma doença que traz complicações graves, inclusive neurológicas, e pode levar à morte. Também pode deixar sequelas como a surdez.

Como é o tratamento? O doente é isolado e apenas os sintomas são tratados. Por isso, a vacinação é a ferramenta mais eficaz no combate à doença.

O que fazer em caso de suspeita? Encaminhar o paciente a um serviço de saúde, que por sua vez notificará a vigilância epidemiológica para que esta vacine quem teve contato com o doente.

Quem deve se vacinar?   Bebês de 6 meses a 11 meses e 29 dias devem tomar a chamada dose zero e as duas do calendário nacional de imunização, aos 12 meses e 15 meses; crianças e jovens de até 29 anos precisam ter tomado duas doses da vacina —quem tem de 30 a 59 anos, apenas uma dose. A maioria das pessoas com mais de 60 anos não precisa da vacina, pois já teve contato com o vírus.

Na dúvida sobre ter ou não tomado a vacina na infância, é melhor tomá-la agora. Não é preciso levar a carteirinha de vacinação. Em ações de bloqueio, quando identificado caso suspeito da doença, todos devem tomar a vacina, que é uma imunização pontual.

Em ações de bloqueio, quando identificado caso suspeito da doença, todos devem tomar a vacina, que é uma imunização pontual.

Quais as reações à vacina? Febre e dor no local da injeção, com possível inchaço. Não há reações neurológicas. A vacina NÃO causa autismo.

Quem não pode se vacinar? Gestantes, transplantados, quem faz quimioterapia e radioterapia, ou usa corticoides ou tem HIV com CD4 menor que 200. Alérgicos a ovo e lactantes podem tomar a vacina.

Por quanto tempo a vacina vale? Para quem completou as duas doses (ou uma dose até 1989), vale pela vida toda.

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