Sarampo soa alarme para baixa cobertura vacinal no país

Especialistas afirmam que há risco de doenças consideradas já eliminadas ressurgirem

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Fortaleza

O rápido avanço do sarampo no Brasil e sobretudo em São Paulo, onde ocorreram 3 das 4 mortes pela doença no país e 98% dos 2.753 casos confirmados neste ano, soam o alarme para a importância da vacinação como único meio de frear a doença.

“O retorno de uma doença eliminável por vacina, como o sarampo, significa que todas as outras doenças que estão eliminadas ou controladas no país, e com baixas coberturas vacinais, têm risco de sua reintrodução ou aumento do número de casos”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha.

Para Marco Aurélio Sáfadi, chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e membro do comitê técnico assessor em imunizações do Ministério da Saúde, é importante inclusive se revacinar —boa parte dos casos de sarampo ocorreu em indivíduos adultos que tomaram a vacina quando bebês.

A propagação do vírus do sarampo é rápida e ocorre antes mesmo de o doente exibir os sintomas, o que ajuda a causar epidemia. Por isso, há duas estratégias para frear o surto. A primeira é reduzir mortandade, vacinando os menores de um ano de idade. 

“Mais da metade das mortes de 2018 foi de crianças menores de um ano. Em 2019, três bebês morreram. Crianças estão pegando a doença de adultos não vacinados”, alerta Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações e presidente da Comissão de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
 

Kfouri diz que o governo não tem, neste momento, vacinas suficientes para a imunização em massa. “A necessidade atual pede que as vacinas sejam destinadas às ações de bloqueio para impedir que o vírus se espalhe, mas tem que ser rápido e oportuno.”

Ele afirma que, além do sarampo, outras doenças podem voltar, como a rubéola, eliminada antes do sarampo. “Ela só não despontou como o sarampo porque não é facilmente transmissível e tem menos casos no mundo”, diz.


Dez fake news disseminadas sobre vacinação 
Atenção, nenhuma das afirmações desta lista é verdadeira 

1. Vacina tríplice viral está associada a casos de autismo 

2. Ministério Público proíbe a vacina contra HPV, que pode deixar os filhos debilitados pelo resto da vida 

3. O Japão está revisando a aplicação de vacina contra o HPV por ter registrado efeitos adversos 

4. As vacinas disponíveis contêm mercúrio, uma substância que causa intoxicação grave 

5. Pessoas alérgicas não podem receber vacina pelo risco de uma reação autoimune ou inflamatória grave.

Segundo especialistas, a vacina é contraindicada se houver histórico de reação anafilática comprovada após dose ou hipersensibilidade a componentes dos imunobiológicos.

6. Infecção das vias respiratórias superiores e uso de antibióticos são contraindicações para vacinação 

7. Bebês prematuros têm mais chance de eventos adversos após a vacinação e por isso ela é contraindicada 

8. Quem tem intolerância a lactose não pode receber vacina com esta substância 

9. Vacina contra a febre amarela não pode ser aplicada ao mesmo tempo que a tríplice viral

No caso de menores de dois anos, especialistas recomendam intervalo de 30 dias entre as doses

10. Estudos mostram que o uso de antibióticos e anti-inflamatórios não influencia na resposta imune gerada pelas vacinas


A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, está disponível na rede pública gratuitamente. O Ministério da Saúde recomenda que bebês de seis meses até 11 meses e 29 dias devem receber uma dose e  jovens de 15 a 29 anos tomem duas doses; adultos de 30 a 49 anos devem tomar uma. 

Acima dos 50 anos, e dos 59 anos em São Paulo, a imunização deve ocorrer apenas em ações de bloqueio. “Os serviços de saúde precisam identificar qual fenômeno impede a população de ir ao posto de saúde se vacinar e pensar em estratégias para elevar as coberturas”, diz Carla Magda Allan Domingues, que até agosto coordenava o Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.

O tema foi alvo da 21ª Jornada Nacional de Imunizações, que ocorreu nesta semana em Fortaleza (CE). Além da propagação de mentiras sobre a vacina, os especialistas apontam a falsa segurança em relação à doença como um dos fatores para a baixa cobertura. “Por que me vacinar contra uma doença que não existe no Brasil? No caso do sarampo, as pessoas esquecem que é uma doença grave, facilmente transmissível e pode levar à morte”, afirma Juarez Cunha. 

A hesitação também é alimentada pelo medo. “A rede pública deve estar capacitada para tirar dúvidas do paciente e dar a segurança de que ele precisa. A dificuldade de acesso é outro problema”, diz ele. Outra barreira, segundo ele: “O horário de funcionamento dos postos é restrito e coincide com o período de trabalho de quem precisa se imunizar”.

A especialista em imunização da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) Lely Guzman aposta na orientação do funcionário que aplica vacinas para esclarecer boatos. “É ele quem deve passar as orientações sobre a eficácia das vacinas e os riscos das doenças, mas para isso é necessário que esteja munido de ferramentas corretas para a sua comunicação”, ressalta.

O Ministério da Saúde esclarece dúvidas quanto a informações de saúde transmitidas em redes sociais pelo WhatsApp (61) 99289-4640.


ENTENDA O QUE É O SARAMPO

O que é sarampo? É uma doença infecciosa aguda transmitida por um vírus, caracterizada por manchas na pele. A doença havia sido considerada eliminada no Brasil, mas voltou. Uma das razões é a baixa cobertura vacinal.

Como é transmitido? A transmissão acontece pela saliva, carregada pelo ar (quando a pessoa tosse, fala ou espirra). Ou seja, é altamente contagiosa.

Quais os sintomas? Febre alta (acima de 38,5°C), manchas vermelhas na cabeça e no corpo, tosse, dor de cabeça, coriza e conjuntivite.

Sarampo pode matar? Sim. É uma doença que traz complicações graves, inclusive neurológicas, e pode levar à morte. Também pode deixar sequelas como a surdez.

Como é o tratamento? O doente é isolado e apenas os sintomas são tratados. Por isso, a vacinação é a ferramenta mais eficaz no combate à doença.

O que fazer em caso de suspeita? Encaminhar o paciente a um serviço de saúde, que por sua vez notificará a vigilância epidemiológica para que esta vacine quem teve contato com o doente.

Quem deve se vacinar? Bebês de 6 meses a 11 meses e 29 dias devem tomar a chamada dose zero e as duas do calendário nacional de imunização, aos 12 meses e 15 meses; crianças e jovens de até 29 anos precisam ter tomado duas doses da vacina —quem tem de 30 a 59 anos, apenas uma dose. A maioria das pessoas com mais de 60 anos não precisa da vacina, pois já teve contato com o vírus. Na dúvida sobre ter ou não tomado a vacina na infância, é melhor tomá-la agora. Não é preciso levar a carteirinha de vacinação.

Em ações de bloqueio, quando identificado caso suspeito da doença, todos devem tomar a vacina, que é uma imunização pontual.

Quais as reações à vacina? Febre e dor no local da injeção, com possível inchaço. Não há reações neurológicas. A vacina NÃO causa autismo.

Quem não pode se vacinar? Gestantes, transplantados, quem faz quimioterapia e radioterapia, usa corticoides ou tem HIV com CD4 menor que 200. Alérgicos a ovo e lactantes podem tomar a vacina.

Por quanto tempo a vacina vale? Para quem completou as duas doses (ou uma dose até 1989), vale pela vida toda.

A jornalista viajou à Fortaleza a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações

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