Compras de Natal levam multidão de atrasados às lojas em São Paulo

Na rua 25 de Março, vendedor comemorava as vendas; shoppings vão até as 18h

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Roberto de OIiveira
São Paulo

Nem todo o mundo se liga quando ele diz o nome completo: Wagner Natalino Martins Carlos. Titubeou? Vem o complemento. “Ainda bem que foi no Natal. Imagina se tivesse nascido na Páscoa.”

Nesta quarta-feira (25), Natalino comemora meio século de vida. Ao lado da mulher, a assistente administrativa Beatriz, 47, e do pequeno da família, o yorkshire Sansão, 3, o trio partiu para as compras.

Era tarde desta terça-feira (24), véspera de Natal, em São Paulo. Sempre existe alguém que deixa tudo para última hora. Em se tratando da maior metrópole brasileira, eles eram muitos. Nos shoppings e centros populares de compra de rua havia fila para tudo. Comprar, pagar, comer ou simplesmente para dar uma pausa e recalcular se tudo estava devidamente nas sacolas.

 

“Sai ao meio-dia do trabalho. No meu caso, não teve essa desculpa de deixar para a última hora. Eu simplesmente não tive tempo de vir antes”, justifica-se Natalino.

Ao menos a ceia já estava em casa à espera da família. Teve tempo para prepará-la, Beatriz? “Não, foi encomendada com antecedência”, brinca ela, enquanto entrega mais uma sacola para o marido —no meio delas, o presente dele.

A lista de compras estava na cabeça de cada um. Presentes para os cunhados, os sogros, os amigos e para os sobrinhos —estes últimos tiveram uma mãozinha. O casal baixou um aplicativo do Papai Noel do shopping Center Norte. Nele, ouviu os pedidos feitos pela molecada ao bom velhinho. Bingo!

Ao menos 15 pessoas prometeram participar da ceia na casa deles no bairro do Limão, zona norte paulistana. Depois da comilança será a vez da festa de aniversário de Natalino. “Todo o ano é assim. Só que a hora do parabéns é surpresa”, diz ele, animado.

A família chegou ao centro de compras da zona norte por volta das 13h, momento em que corredores e lojas estavam abarrotados —a maioria dos shoppings abriu suas portas por volta das 10h. Como o horário programado para fechar as portas era as 18h, não havia muito tempo para jogar conversa fora.

A tática de vendas de Clodoaldo Melo, 26, não descartava um bate-papo. Já que tinha que trabalhar em plena manhã de véspera do Natal, sob sol forte e um calor na casa dos 30ºC, o vendedor preferiu encarar a missão com alegria. Conhecido na área como Dodo, carregava uma latinha de cerveja na mão esquerda, enquanto oferecia uma camiseta do Flamengo com a mão direita.

Para ele, a 25 de Março, maior centro do comércio popular do país, estava relativamente tranquila se comparada a dias anteriores.

Nessa espécie de Babel do contrabando, a camisa do campeão brasileiro e da Libertadores era oferecida de R$ 70 (“primeira linha”) a R$ 35 (“segunda linha”). “Já vendi tanto que não estou muito preocupado. Para falar a verdade, já entrei em clima de festa.”

Moradora do Morumbi, a apresentadora Sonia Abrão foi celebrar o Natal na casa da mãe, em Higienópolis. Aproveitou para dar uma esticada ao shopping que leva o nome do bairro. “Comecei a fazer as compras na segunda e deixei a véspera para complementar a lista”, diz ela, com sacolas penduradas no braço, enquanto observava a agenda do telefone para ver se não havia deixado ninguém de fora. “Nunca sei o que dar de presente para as pessoas. Sou assim, caótica”, diz, sem perder o humor.

Dois lances de escada abaixo, Gigi fazia sua estreia pelos corredores de um shopping.

Adotada havia nove meses, a SRD (sem raça definida) de cinco anos estava ao lado de sua cuidadora, a médica Silvia Tirico, 29, com quem circulou pelo Pátio Higienópolis, um dos espaços mais “pet friendly” da cidade. O clima natalino, porém, não a impediu que rosnasse para estranhos. 

A médica carregava sacolas com presentes para os tios. “Sempre falta algum presente. É quase impossível a gente não se esquecer de algo”, disse Silvia. E para a Gigi, não vai nada? “Não compramos ainda”, respondeu ela.

A esperança era encontrar um pet shop pelo caminho de volta para casa.

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