Bolsonaro publica vídeo em que ministro diz que concursos selecionam esquerdistas

Em produção de um minuto, Weintraub não apresenta evidências de suas afirmações

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro publicou em suas redes sociais um vídeo em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirma que os concursos públicos no Brasil selecionam pessoas com viés político de esquerda.

Da esquerda para a direita, Abraham Weintraub, ministro da educação, usa terno bege com camisa branca e gravata verde. Gargalha no momento da foto. Ao seu lado direito, o presidente Jair Bolsonaro sorri para fotografia e tem a mão direita apoiada nas costas de Weintraub
Abraham Weintraub e Jair Bolsonaro em cerimônia de comemoração do Dia da Bandeira - Lucio Tavora/Xinhua - 19.nov.2019

"Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Se você ver, é um concurso que [não] tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense. Então você, na seleção, já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos, como é o Enem", diz Weintraub.

O ministro não explica em sua fala por que considera que o termo estado-unidense —reconhecido nos dicionários como sinônimo de americano— indicaria um viés político de esquerda.

O vídeo foi publicado na conta oficial de Bolsonaro no Facebook. Na postagem, o presidente escreveu "doutrinação e mentiras até nos concursos". "Caso fosse perguntado numa prova: após a saída de João Goulart, em 1964, quem assumiu a presidência da república? Qual sua resposta?", acrescentou o mandatário, referindo-se ao presidente da República deposto pelo golpe militar daquele ano.

No vídeo, o ministro da Educação também diz que a suposta doutrinação nos concursos públicos remonta ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Ele não apresenta no vídeo, que tem um minuto, provas que endossem suas afirmações.

"Veja, isso começou com o Fernando Henrique. A gente não está falando de 16 anos de PT, a gente está falando mais de um quarto de século. De continuamente uma doutrinação que começa de uma forma suave e gradualmente você vai começando a achar o errado normal. E de repente você tem que achar o errado bonito. É disso que a gente está falando", afirma Weintraub.

Na peça, o ministro também classifica o ministério da Educação como "um colosso" e diz que a pasta concentra 300 mil dos 600 mil funcionários do governo federal. "Esse corpo aqui está cheio de pessoas que prestaram concurso público. É importante que seja dito como são esses concursos públicos", afirma.

Weintraub chegou à Esplanada em abril, ao substituir Ricardo Vélez Rodríguez, e desde então sua administração tem sido marcada pela intensificação de discurso ideológico e pela beligerância em redes sociais. 

Especialistas criticam a gestão do ministro e dizem que ela travou a política educacional do país. Não se cumpriu, por exemplo, a promessa de Bolsonaro de priorizar a educação infantil e os ensinos fundamental e médio —a chamada educação básica. A pasta computa uma precária articulação com as secretarias de educação pelo país e baixa execução orçamentária de recursos federais.

Em maio, ele surgiu nas redes sociais em vídeo de guarda-chuva em punho, dançando para ironizar notícias de cortes na pasta: "Está chovendo fake news", declarou à época. Apesar das queixas contra a sua atuação, Weintraub é frequentemente elogiado e endossado por Bolsonaro em suas declarações.

Na última semana, ele foi novamente criticado após publicar em suas redes sociais uma mensagem com um erro de português. Na ocasião, ao agradecer o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro, o ministro escreveu “imprecionante” em vez de “impressionante” — a postagem foi posteriormente apagada.

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