Corredor verde na 23 de Maio custa R$ 107 mil mensais à gestão Covas

João Doria, que mandou instalar plantas quando prefeito, previa que projeto não oneraria município

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São Paulo

Pouco mais de dois anos após o então prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciar a criação do corredor verde na avenida 23 de Maio como medida de compensação ambiental, a gestão municipal, sob o também tucano Bruno Covas, passou a desembolsar R$ 107 mil por mês para manter no paredão de 6 km os 11 mil m² de jardins.

Na inauguração do jardim vertical, Doria, hoje governador, se referiu ao projeto como “o maior corredor verde do mundo em um eixo urbano” e garantiu que não iria representar custos aos cofres municipais. 

Desde o meio do ano passado, porém, a manutenção desse corredor já custou pelo menos R$ 500 mil.
 
Com o valor mensal despendido atualmente seria possível, por exemplo, plantar cerca de 500 mudas de árvores de espécies nativas na cidade a cada mês. 

“Cada muda, no padrão DPAV (Departamento de Parques e Áreas Verdes), custa cerca de R$ 200. Essas paredes nos custam mais caro que uma floresta”, diz o botânico Ricardo Cardim, especialista em arborização urbana. 

“Uma árvore dura, no mínimo, 60 anos e capta muito mais CO2 (dióxido de carbono) que uma herbácea [como as plantadas nos muros da avenida].”

Longe de ser uma unanimidade, a medida sofre críticas desde sua implantação, em agosto de 2017, logo após a polêmica causada pelo ex-prefeito ao mandar apagar os grafites que existiam nas paredes da avenida que liga o centro da cidade à zona sul paulistana.

A principal crítica ao projeto de Doria —além das direcionadas à falta de diálogo por ter apagado os grafites, em grande parte patrocinados por seu antecessor Fernando Haddad (PT)—é o baixo impacto no sequestro de carbono pelas plantas que passaram a ornamentar os muros da avenida.

Como a Folha mostrou antes mesmo da inauguração do corredor, para que ele tivesse alguma relevância ecológica real para a cidade seria necessário que tivesse mais de 1.500 km —distância similar ao trajeto de São Paulo a Cuiabá, em Mato Grosso. 

Pelo acordo feito em 2015, ainda na gestão Haddad, em vez de plantar mais de 26 mil árvores, a construtora de um residencial no Morumbi foi autorizada a financiar a construção de jardins verticais para compensar a destruição de mais de 800 árvores que havia no terreno. 

Até o fim de 2016, cinco jardins nas laterais de prédios que circundam o Minhocão, na região central, haviam sido implantados.

No início da gestão Doria, o então prefeito resolveu que as laterais da 23 de Maio fariam parte da compensação. O valor da implantação do projeto foi de R$ 9,7 milhões.

A manutenção de plantas e folhagens, como manjericão, coração-magoado, alecrim, brilhantina, tapete-inglês, orégano, salsa-íris, coleus, entre outras, foi entregue ao Movimento 90°.

Em março de 2018, no entanto, a empresa desistiu de fazer a manutenção, alegando falta de condições financeiras, diz a prefeitura. 

A empresa nem sequer pode ser multada, já que tudo foi apenas apalavrado por meio de cartas com a prefeitura.

A partir de então, a secretaria das Subprefeituras passou a arcar com o valor da manutenção e pequenos serviços relacionados ao muro verde.  

Uma licitação foi lançada pela prefeitura para que uma nova empresa assumisse o contrato. 

O resultado foi sentido não apenas nos cofres da administração municipal, mas também no caminho dos paulistanos que passam diariamente pela 23 de Maio. 

Em lugar de paredes verdes, o marrom de plantas secas tomou os muros da avenida.

Como a Folha mostrou à época, de abril a junho de 2018, logo após a empresa que fazia a manutenção desistir do serviço, as plantas passaram meses sem receber irrigação porque a prefeitura não pagara contas de água e luz referentes ao abastecimento. 

Plantadas em pequenos vasos colados à parede, as plantas necessitam de irrigação pois não são capazes de obter toda a água que necessitam apenas da chuva.  

Apesar de crítico à implantação do muro verde, Cardim defende sua manutenção. “Seria um equívoco completo fazer novas paredes como essa, mas já que foi instalado e milhões em dinheiro de compensação ambiental foram gastos, como vai parar agora?”, diz. 

Ainda que pragmático em relação ao futuro do muro verde, o botânico afirma que as prioridades da administração municipal em relação à cobertura vegetal da cidade deveriam ser outras. “Numa cidade como São Paulo, que não sabe nem ao menos quantas e quais árvores tem, isso virou um problema”, afirma. 
 

Corredor verde da 23 de Maio, em São Paulo
Corredor verde da 23 de Maio, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Prefeitura afirma que 100% do jardim vertical foi recuperado 

A Secretaria Municipal das Subprefeituras afirma, em nota, que, em 2017, a empresa Movimento 90º assinou Termo de Compensação Ambiental que tinha exigência legal de 12 meses para a manutenção do jardim vertical da avenida 23 de Maio. 

De acordo com a pasta, após esse prazo, “a empresa firmou um compromisso de manutenção sem obrigações contratuais. 

Em seguida, a empresa suspendeu os serviços, alegando não ter condições financeiras para prosseguir.

Nesse período, as subprefeituras assumiram os serviços de manutenção como irrigações diárias, pequenos reparos e reposição de peças”.

Em 2019, afirma a secretaria, a empresa Era Técnica Engenharia foi a vencedora da licitação para a manutenção dos jardins. Começou a prestar os serviços em 1º de julho de 2019. O valor exato do contrato é de R$ 106.980,00 por mês. 

“A empresa presta serviços de limpeza e troca de mudas, substituição das bombas queimadas e furtadas, além de manutenção no sistema de irrigação”, diz a secretaria. 

“Uma obra civil também está sendo realizada para conter o acesso às casas de máquinas, evitando furtos e vandalismo, 100% dos jardins já foram recuperados.” 

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