Descrição de chapéu Rio de Janeiro Coronavírus

Escolas ficam vazias mesmo com merenda no Rio, e crianças bagunçam em casa

Entre os motivos estão a distância da casa dos alunos, o preço do transporte público e o próprio receio do vírus

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Rio de Janeiro

Escola vazia, casa cheia. Essa é a realidade de muitas famílias brasileiras com a suspensão das aulas a partir desta segunda (16) para tentar barrar o avanço do coronavírus.

No Rio de Janeiro, mesmo com a decisão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) de manter a oferta da merenda, o cenário em unidades municipais no horário do almoço era de refeitórios desocupados e funcionários entediados —só mil dos 65 mil alunos da rede compareceram.

Foi o caso de ao menos seis colégios visitados pela Folha, nas regiões sul e norte da cidade. Eles só estão deixando as portas abertas entre 11h e 13h e estão atuando com o mínimo de funcionários possível, como diretoria, cozinha e limpeza. As escolas estaduais e particulares estão completamente fechadas.

Entre os motivos para os corredores-fantasmas na rede municipal, mesmo com a merenda, estão a distância da casa dos alunos, o preço do transporte público e o próprio receio do vírus, que já contaminou 31 pessoas no estado (atrás apenas de SP), incluindo um idoso em estado gravíssimo.

“Até agora não apareceu ninguém, acho que estão com medo. E a maioria é da favela da Rocinha e vem de condução, então só para ir e voltar já dá o preço da comida. A criança tem passe livre, mas os pais não”, disse uma diretora da zona sul que não quis se identificar.

“Fiz uma enquete pela manhã no grupo de mensagens dos pais e todo mundo disse que não vinha, então fizemos comida para quem está aqui, para não estragar", afirmou outra diretora. "As pessoas não vão sair do Morro dos Tabajaras, da Rocinha, do Santa Marta só para vir almoçar."

A interrupção de aulas, empresas e serviços refletiu também no trânsito. Às 9h30, o congestionamento na capital fluminense era de 22 km, ante uma média de 56 km nas últimas três segundas-feiras. Às 18h, a relação foi de 23 km contra 38 km.

Na creche e pré-escola Maria Eugenia Canelhas, na Pavuna​ (zona norte), apenas oito das 198 crianças matriculadas ocuparam as mesinhas coloridas do refeitório, após lavarem as mãos com supervisão dos funcionários.

Segundo a diretora Thaís Conceição de Lima, o total de empregados foi reduzido a um terço nesta segunda (de 34 para 10), o que será reavaliado a cada dia de acordo com a procura e as decisões da Secretaria Municipal de Educação.

Com as aulas canceladas e a recomendação de se evitar aglomerações, as crianças agora bagunçam em casa. É o caso de Luma da Silva, 7, que revirou a sala enquanto decidia se brincava de patins, de ioga ou de boneca —a meleca Slime foi proibida porque já manchou o sofá.

“Minha mãe fica tirando do desenho e trocando toda hora de canal para ver o coronavírus”, diz ela sobre a professora Susana da Silva, 37, que deixou de trabalhar nesta segunda justamente porque a creche onde leciona, no morro Santa Marta, em Botafogo (zona sul do Rio), também foi fechada.

Se ela tiver que voltar a trabalhar, a filha vai precisar ficar na casa da avó. É o que tem acontecido com muitas, como a desempregada Zuleide Santos, 60. Na habitual hora de entrada e saída das escolas, ela era a única que andava pela rua com o neto Diego Santos, 6, de uniforme e mochila nas costas.

"Fomos até o colégio para saber a informação correta, porque tinham uns falando que era 15 dias sem aula, outros 20 dias. Nem abriram a porta, responderam pelo portão", conta. A avó fica com o neto durante a semana porque a filha trabalha, mesmo estando no grupo de risco da doença pela idade. “Mas a gente está se cuidando, lavando a mão e passando álcool o tempo todo", pondera.

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