Quatro dias antes de morrer por complicações decorrentes da Covid-19, o escritor, advogado e político Sálvio Dino, 88, recitou versos do poeta maranhense Gonçalves Dias.
Estava acompanhando do filho, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B). “Não chores, meu filho. Não chores que a vida é luta renhida. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar”, declamou.
Na sexta-feira passada (21), deu entrada em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital em São Luís, no Maranhão. O quadro de saúde se agravou rapidamente. Ele morreu na manhã desta segunda-feira (24).
Escritor com mais de dez livros publicados e amante da poesia, era membro da Academia Maranhense de Letras.
Natural de Grajaú, no interior do Maranhão, Sálvio foi deputado estadual por duas vezes. Em 1964, após o golpe militar, teve o mandato cassado. Passou 40 dias preso por “atividades subversivas e comunistas”.
Amigo do ex-presidente José Sarney, Sálvio voltou à política dez anos mais tarde pela Arena. Depois, em 1980, se filiou ao PP. Em 1988, se elegeu prefeito do município de João Lisboa, no Maranhão, pelo extinto PFL. Voltou a governar a cidade em 1996.
A relação de Sálvio com Sarney era utilizada por adversários políticos de Flávio Dino.
Em 2014, em entrevista à Folha, quando o filho se elegeu governador do Maranhão derrotando o grupo de Sarney, Sálvio ressaltou que ele teria mais votos se não tivesse em um partido como o PC do B.
“Ainda há famílias muito conservadoras. Acredito até que, se ele saísse por um partido mais light, a votação dele seria maior", disse, na época.
No discurso da vitória, Dino fez uma homenagem e ele. “Nós vencemos, pai. Os comunistas venceram.”
Nesta segunda, ao anunciar a morte do pai nas redes sociais, Flávio Dino lembrou a sua trajetória e destacou a luta pela sobrevivência. No último encontro, relatou que conversaram sobre política, futebol e poesia.
“Seu mandato de deputado estadual foi cassado e ele foi preso arbitrariamente pela ditadura militar ‘acusado’ de ser comunista. Nos últimos dias, deu a derradeira lição: profundo amor pela vida. Lutou com humildade e coragem”, escreveu Dino.
Em nota, Sarney lamentou a morte. “Meu amigo da vida inteira, militamos juntos na política e na literatura”, disse.
O corpo de Sálvio Dino foi sepultado na tarde desta segunda-feira na capital maranhense. Ele deixa esposa e quatro filhos.
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