Apesar de trecho novo, Tamoios ainda tem risco de deslizamento e falhas

Pista recém-inaugurada deve dar mais segurança a quem sobe do litoral; descida prossegue com promessas de melhorias

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Rodovia dos Tamoios no início de trecho que desce a serra, no km 65, onde há obras do Centro de Controle Operacional Bruno Santos/Folhapress

São Paulo

Quem adora uma estrada pode até se entusiasmar com os túneis modernos em meio à serra do Mar e com os itens de segurança de primeira linha que fazem parte do novo trecho da rodovia dos Tamoios. Apesar dessas novidades, porém, a principal rota de acesso ao Litoral Norte de São Paulo segue com velhos problemas.

​A maioria dessas questões está na pista antiga, agora usada principalmente por quem desce de São José dos Campos (SP) para Caraguatatuba (SP) —a subida da praia para o interior é feita pelo trecho novo, entregue no fim de março.

Um dos problemas mais visíveis está no trecho entre os km 52 e 53 da rodovia, onde um talude (encosta recortada para a construção da estrada) desabou em 2016. Mais de seis anos depois, pedra e terra continuam depositados sobre o pavimento, provocando um estreitamento que já se integrou à paisagem da rodovia. Assim, naquele ponto, a pista duplicada se torna única, com uma faixa em cada direção, mais uma reversível, a depender do fluxo.

Procurada, a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) afirmou que a rodovia atende às exigências técnicas para garantir a segurança dos usuários, e que os locais com problemas estão sob constante monitoramento.

"O Centro de Controle Operacional da Tamoios monitora o trecho administrado pela concessionária, 24 horas por dia, para orientar e prestar auxílio aos motoristas", disse, em nota.

Já a Concessionária Tamoios, responsável pela estrada, disse que tem interesse em resolver a questão e que tem trabalhado para prover segurança e atenuar eventuais transtornos.

O novo trecho, inaugurado em março, marca a segunda grande obra da rodovia em menos de dez anos. Em 2014 foi entregue ao Governo de São Paulo a reforma do trecho de planalto, antes do início da descida da serra.

Um ano depois, a gestão estadual concedeu à iniciativa privada o controle de toda a rodovia. Escolhida para a função, a Concessionária Tamoios, que pertence ao grupo Queiroz Galvão, fez um amplo levantamento dos vícios de construção do trecho de planalto.

Entre os problemas encontrados estão risco de desmoronamento de encostas, necessidade de reforços nas estruturas de pontes e pavimento inadequado. Passados oito anos, nenhuma das questões apontadas no documento foi resolvida.

Ao todo, entre os km 11 e 60, 29 taludes correm o risco de vir abaixo e, por isso, são monitorados, segundo a própria Artesp.

Em alguns locais, o acostamento foi suprimido e há balizadores demarcando a área de risco. Segundo a Artesp, todos esses trechos são monitorados. O trecho de serra também está totalmente pontuado com cones que restringem o uso da pista para quem desce. Segundo a concessionária, a sinalização divide a pista em duas, permitindo também a subida de veículos.

O documento aponta também danos nas pontes e viadutos, que precisam de reforço estrutural, e problemas no pavimento. O próprio governo estadual reconhece a necessidade de consertar o asfalto em mais de cem pontos da rodovia, num total de 56,7 km.

Nesta última quinta-feira (14), a Folha percorreu a estrada e identificou que máquinas trabalhavam em obras pendentes.

Questionada por qual motivo, à época, o governo estadual recebeu a obra de duplicação do trecho de planalto com os problemas apontados pela concessionária, a Artesp disse que realizou análises técnicas para confirmar o cenário descrito pela concessionária.

A concessionária afirmou que em janeiro de 2020 foi assinado um termo aditivo e modificativo entre ela, o estado de São Paulo e a Artesp, no qual o governo estadual assumiu a responsabilidade pelas obras necessárias para resolver os problemas do trecho de planalto.

A concessionária disse ainda que vem colaborando com a Artesp na busca de uma solução. "Salientamos que, apesar dos transtornos, o local atende às normas rodoviárias de segurança vigentes."

Segundo a agência, a concessionária deve entregar até agosto um estudo das obras necessárias para a correção dos problemas. ​"Estima-se que o prazo para aprovação técnica dos projetos pela agência reguladora seja de 30 dias, a partir do recebimento", afirma.

Além desses problemas na parte mais antiga da estrada, os motoristas também enfrentam dificuldades no novo trecho, de serra.

No início de abril, por exemplo, um trecho de serra em direção a Caraguatatuba foi interditado por risco de deslizamento. A reportagem esteve no local e encontrou centenas de motoristas à espera da liberação da rodovia. Segundo relatos de quem aguardava na altura do km 67, alguns chegaram a passar a madrugada nos carros.

A expectativa era que com a inauguração do novo trecho, esse tipo de problema não acontecesse mais, já que a concessionária prometeu fazer comboios pela via recém-inaugurada, alternando os sentidos de direção, numa operação "pare e siga". A nova pista conta com sinalização bidirecional, incluindo um painel que gira sobre o próprio eixo.

O comerciante José Delfino Neto, 49, vive na região desde que nasceu e tinha a esperança de que, com a inauguração dos túneis, não ficaria mais parado. No dia 3, porém, teve que encostar à beira da estrada esperando pela liberação, sem conseguir chegar ao litoral, como planejado. "Estamos numa rodovia de bilhões e não podemos descer. É errado", disse.

Sobre o fato de não ter adotado a operação comboio na descida, no último dia 3, a concessionária diz que a comissão de avaliação do Corpo de Bombeiros concedeu licença para essa fase de operação assistida para operar apenas no sentido de subida, entre o litoral e São José dos Campos.

No feriado de Páscoa, estão sendo realizadas operações especiais prevendo que 257,9 mil veículos utilizem as pistas rumo ao Litoral Norte, em todo período.

Na descida para o litoral, ainda existe o risco de o tráfego seguir represado na pista antiga, que permanece com muitos trechos com velocidade máxima de 40 km/h. Nesta sexta, registrou-se congestionamento do km 11 ao km 83 no sentido litoral, devido ao grande volume de veículos.

Na última quinta, a Folha identificou melhora nas condições de fluxo dessa pista. Com as duas vias liberadas para o mesmo sentido, a sensação de zigue-zague diminui, e há menos necessidade de colocar o pé no freio. O problema é que muitos motoristas deixaram de respeitar o limite de velocidade na serra.

No retorno do feriado, o trânsito deverá fluir bem nos túneis do trecho recém-inaugurado, em direção ao planalto. O problema, porém, ainda será chegar até esse ponto.

A área urbana de Caraguatatuba tende a continuar como um funil, despejando os veículos aos poucos na nova rodovia. Fora isso, o acesso se dará ainda por uma alça que, naturalmente, tende a fazer com que os carros reduzam a velocidade.

De forma geral, enquanto os mais de 30 km da rodovia do contorno não forem totalmente entregues, o motorista seguirá enfrentando o anda e para de todo o feriado, especialmente para quem desce. A inauguração está prevista somente para o fim de 2023.

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