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SPFW presencial diz adeus ao pijama sem graça e anuncia um verão de areias lotadas

Ícone dos balneários, Lenny Niemeyer celebra seus 30 anos de costura e dá o tom do evento ao decretar 'luz no fim do túnel'

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Look que a marca de praia Lenny Niemeyer desfila na SPFW 2021 Divulgação

São Paulo

Foram anos difíceis para a moda brasileira. Envolta numa crise sem precedentes de insumos —que fez faltar até papel para enrolar os parcos panos comprados pelo que restou da clientela— e interditada pela pandemia que desafiou o pulso criativo de seus estilistas, a costura nacional ensaia, a partir desta terça-feira (16), o fim da agonia.

As portas da primeira São Paulo Fashion Week presencial em dois anos devem abrir na Pinacoteca de São Paulo, quando a primeira modelo do desfile de estreia da marca P. Andrade, do casal de estilistas Pedro Andrade e Paula Kim, pisar na passarela. Eles planejam homenagem à cultura nacional por meio de referências a estetas como a artista visual Lygia Clark e o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, morto em maio deste ano.

É que cultura, corpo e praia, tríade do que há de mais forte no ideal de estilo brasileiro, estarão representados numa programação híbrida.

Nomes reconhecidos como Ronaldo Fraga, À La Garçonne e Ellus ainda optam pelo distanciamento do digital, enquanto forças criativas como João Pimenta, Fernanda Yamamoto e Isaac Silva voltam a acender as luzes para relembrar que a moda, além de uma ideia ilustrada em imagens, é feita do contato entre carne, osso e linha.

O Pavilhão das Culturas Brasileiras receberá mais uma vez, no parque Ibirapuera, as coleções de um line-up agora entuchado com mais de 50 apresentações cujo mote é dar novo ânimo a um calendário confuso e revisto às pressas nas últimas edições.

Nesta retomada, o teste será ainda maior para marcas forçadas a estrear no último ano apoiadas na sombra das ferramentas audiovisuais, a exemplo da Misci, de Airon Martin, que pretende levar Sasha Meneghel à passarela de seu desfile na sexta (19), e a Meninos Rei, de Céu e Junior Rocha.

A marca baiana abrirá na quinta (18) a programação presencial do Projeto Sankofa, construído com sete apresentações de grifes geridas por estilistas não brancos, e, uma das boas surpresas da temporada passada, já ganhou o armário de celebridades como Carlinhos Brown e Ivete Sangalo.

No dia anterior, a semana de moda pisará em terreno desconhecido e ainda pouco discutido pelas grifes. Em parceria com a distribuidora Garena e com o patrocínio do banco Santander, a organização levará aos corredores do pavilhão um desfile do jogo "Free Fire".

O stylist Daniel Ueda e o estilista Alexandre Herchcovitch criaram roupas baseadas nos "skins", as peles usadas pelos gamers, para abrir a discussão sobre o novo mercado de moda nascido na esteira do sucesso desses jogos entre os jovens. Ao assumir contornos reais, esses corpos virtuais materializariam o conceito de realidade paralela que a indústria tecnológica chama de metaverso.

Há, porém, quem prefira pisar em terra firme —ou melhor, em areia firme. Se na volta dos desfiles presenciais no hemisfério norte a roupa de festa reproduziu o sentimento de libertação dos casulos pandêmicos, aqui é a praia quem dará o tom dessa fuga do pijama sem graça de todo dia.

Será no final da tarde de domingo (21), em Niterói, que a moda celebrará o maior nome das areias e dos calçadões locais, Lenny Niemeyer. A festa de 30 anos de costura dessa estilista ícone dos balneários chiques não terá o furor de dez anos atrás, quando o elenco do Projac baixou em peso no Fashion Rio para o desfile de duas décadas da marca, mas mostrará em passarela ao ar livre o que Niemeyer define como "a luz no fim do túnel de um tempo pesado como o que vivemos".

Esse último dia da temporada terminará em frente ao complexo Caminho de Niemeyer, com as modelos de Lenny trajadas com cores esfuziantes que pincelam silhuetas, ora geométricas, ora simplórias, de um legado que pôs o Brasil no mapa da elite praiana mundial.

A estilista adianta que conjurou uma retrospectiva de sua carreira atualizando formas e padrões inspirados nos elementos botânicos e modernistas que permeiam sua obra rica em texturas.

Parece ser mesmo a praia a imagem definitiva desta temporada que prenuncia um verão de areias lotadas. Mesmo fora do calendário desta São Paulo Fashion Week, a cearense Água de Coco abriu informalmente os desfiles numa apresentação na quarta passada (10), na capital paulista.

Em parceria com o espólio da modernista Tarsila do Amaral, os empresários Liana e Renato Thomaz mostraram a interseção possível entre as pinturas da artista, com destaque para "A Lua" e "Abaporu", ambas de 1928, e sua lycra que hoje passeia do Nordeste à Ocean Drive, em Miami, onde a marca agora abre um centro logístico para o mercado internacional.

Olhar para fora do umbigo é um dos nortes da nova produção de moda. Tanto que Isaac Silva, talvez a voz de maior volume da diversidade e da inclusão racial nas passarelas, quer furar a própria bolha para atingir um mercado ainda mais amplo.

A parceria com outro ícone das areias brasileiras, a Havaianas, rendeu modelos de sunga, maiô, sandália mule e, claro, chinelos, que serão lançados mundialmente na passarela do designer no sábado (20), último dia da programação de desfiles no pavilhão do Ibirapuera.

Sob o tema "Cores da Bahia", o repertório vinculado ao sincretismo religioso e à cultura afro-indígena ganha corpos fora do padrão magro, branco e loiro vendido como a imagem das praias nacionais no século passado.

Silva quer mostrar à Europa, onde serão vendidas suas criações, uma visão de país menos elitista e mais agarrada ao hábito dos povos originários em tomar banhos de mar. "Será uma celebração da nossa autoestima, de nossos corpos e da real identidade brasileira", explica o estilista.

E, de sua nova receita para uma moda saída da agonia, tira um aviso, que soa quase como uma prece direcionada a seus pares. "Mais do que nunca, precisamos andar pelo litoral, olhar as formas dos nossos corpos e perceber o que de fato os brasileiros querem vestir."

Destaques da SPFW

  • A temporada de moda inicia sua primeira edição híbrida, com 52 desfiles entre presenciais e digitais, nesta terça (16). A estreia da grife P. Andrade, na Pinacoteca, abrirá a semana de apresentações com o minimalismo tecnológico do estilista Pedro Andrade, também dono da marca streetwear Piet;
  • No dia seguinte, a grife Lilly Sarti comemora 15 anos de marca com desfile que perpassa a história de moda "boho" das irmãs Lilly e Renata Sarti. Na mesma quarta (17), um desfile do jogo "Free Fire" acontecerá nos corredores do Pavilhão das Culturas Brasileiras, onde ocorrem a maioria dos desfiles;
  • Na quinta (18), primeiro dia do Projeto Sankofa, as marcas Ateliê Mão de Mãe e Meninos Rei abrem a programação dedicada ao empreendedorismo de estilistas racializados. A estreia da Boldstrap, ex-Casa de Criadores, é um dos destaques do dia;
  • Fernanda Yamamoto levará na sexta-feira (19) seu desfile ao Centro Cultural São Paulo, parceiro da semana de moda nesta edição. No mesmo dia, a Misci estreia na passarela física após duas temporadas bem-sucedidas de desfiles virtuais, e a Handred, de André Namitala, prestará homenagem ao artista pernambucano Francisco Brennand, morto em 2019;
  • Já no sábado (20), Dia da Consciência Negra, todos os desfiles serão de estilistas negros, como os das marcas Apartamento 03, de Luiz Claudio, e a homônima do estilista Isaac Silva;
  • O último dia da temporada irá ocorrer em Niterói (RJ), no domingo (20), quando a estilista Lenny Niemeyer encerrará a temporada com desfile que comemora 30 anos de sua marca homônima de moda praia.
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